sábado, 22 de julho de 2023

Segunda Guerra Mundial - 1939 A Raf Inicia A Ofensiva Aérea

Luta  no  Ar
A  RAF  inicia  a  ofensiva  aérea

Ofensiva  aérea  aliada  contra  a  Alemanha:

Setembro,  3,  de  1939.  A  última  tentativa  realizada  pela  Inglaterra  e  pela  França  para  evitar  um  conflito armado  com  a  Alemanha  fracassa.  O  vencimento  do  prazo  do  ultimato  sem  resposta  da  Alemanha  concretiza uma  realidade  que  assusta,  porém  à  qual    não  se  pode  fugir:  a  guerra.

Poucos  minutos  depois  de  vencido  o  ultimato,  numa  base  do  sul  da  Inglaterra,  um  bombardeiro  bimotor Blinheim  entra  lentamente  na  pista,  toma  velocidade  e  decola.  É  a  primeira  missão  de  guerra  que  um  avião inglês  realiza.  Seu  destino:  a  base  naval  de  Wilhelmshaven,  na  Alemanha.  Sua  missão:  obter  fotografias  da frota  de  guerra  alemã.  O  aparelho,  voando  a  uma  altura  de  7.200  metros,  sobrevoa  o  objetivo  e,  sem  ser atacado,  cumpre  a  sua  missão.  Ao  regressar,  às  16h50,  o  comandante  redige  o  seu  informe  no  livro  de operações  da  base:  “Operação  cumprida,  75  fotos  obtidas  da  frota  alemã.  Primeiro  avião  da  RAF  que  cruzou a  fronteira  alemã”.

No  dia  seguinte,  baseada  nos  informes  obtidos  pelo  Blenheim  de  observação,  uma  força  de  ataque,  integrada por  bombardeiros  Blenheim  e  Wellington,  num  total  de  29  aviões,  rumou  para  o  porto  de  Wilhelmshaven.  O tempo  estava  sumamente  adverso.  Durante  a  travessia,  a  formação  se  dispersou.  Cinco  Blenheims,  contudo, alcançaram  o  alvo.  Dois  deles,  que  voavam  na  retaguarda,  perderam  contato  com  os  outros.  Os  três  aparelhos da  frente,  emergindo  de  entre  as  nuvens,  avistaram  o  encouraçado  alemão  Admiral  Graf  von  Scheer.  O  chefe da  esquadrilha  conseguiu  dirigir  o  seu  avião  para  o  navio  e  em  vôo  rasante,  lançou  uma  de  suas  bombas  de 227  kg  sobre  a  coberta.  O  projétil  atingiu  o  alvo  e,  com  a  explosão,  fez  voar  parte  da  superestrutura  do encouraçado.  A  esse  primeiro  ataque  seguiu-se  outro,  mais  tarde,  realizado  por  outros  cinco  Blenheims. Quatro  desses  aparelhos  foram  abatidos,  aparentemente  pela  explosão  de  suas  próprias  bombas.

Esta  incursão  foi  a  primeira  que  a  RAF  realizou.  Não  seria,  contudo,  a  última.  Os  escassos  bombardeiros daquela  ação  inicial  seriam  substituídos  por  inúmeras  formações.  Os  bombardeiros,  relativamente  pequenos, se  converteriam  mais  tarde,  em  gigantescos  aparelhos.  As  bombas,  que  mal  passavam  de  200  kg,  seriam substituídas  por  gigantescos  projéteis  de  mais  de  10.000  kg  (Grand  Slam).  O  número  de  projéteis,  de  poucas dezenas,  passaria  a  milhares.  O  efeito  dos  bombardeiros  iria  aumentando  gradativamente,  até  alcançar  limites incríveis.  A  RAF  responderia,  assim,  aos  devastadores  ataques  alemães  contra  a  Inglaterra.

A  primeira  fase:

Durante  os  primeiros  meses  da  guerra,  o  comando  de  bombardeio  da  RAF  concentrou  os  esforços  dos  seus aviões  em  torno  da  frota  alemã  que  se  encontrava  no  Mar  Báltico.  Nessas  operações  foram  empregados  os antiquados  bimotores  que  a  RAF  possuía,  na  época.  Esses  aparelhos  careciam  de  armamentos  defensivos, eram  lentos  e  levavam  uma  carga  de  bombas  muito  reduzida.  Os  ataques,  portanto,  não  eram  bastante eficientes.  No  transcurso  de  sucessivos  reides,  somente  conseguiram  afundar  duas  embarcações  alemães, sofrendo  a  perda  de  22  aviões.

Simultaneamente,  a  RAF  realizou  operações  de  reconhecimento  e  de  observação  sobre  o  território  alemão. Até  esse  momento  a  aviação  britânica,  tal  como  sua  similar  alemã,  havia  evitado  realizar  missões  de bombardeio  sobre  objetivos  não  militares.  Em  sucessivos  “ataques”  contra  o  território  metropolitano  alemão, a  frota  de  bombardeiros  britânicos  se  limitou  a  lançar  milhões  de  panfletos  de  propaganda  antinazista.  Na noite  de  1 o  de  outubro  de  1939,  aviões  ingleses  sobrevoaram  Berlim  no  cumprimento  de  uma  dessas  missões. Este  foi  o  período  das  operações  improvisadas,  durante  o  qual  a  RAF  não  contou,  em  momento  algum,  com uma  força  de  mais  de  100  bombardeiros  em  operações.

A  10  de  maio  de  1940,  as  forças  alemães  iniciam  a  penetração  no  território  da  Bélgica,  Holanda  e  da  França. A  guerra  passa  então  a  uma  segunda  etapa.  Termina  a  “guerra  de  mentira”.  Encerram-se  os  amáveis  diálogos entre  alemães  e  franceses.  Começa  a  ação.  E  junto  com  o  estrépito  das  lagartas  dos  carros  blindados  alemães, ouve-se  o  rugir  dos  motores  da  aviação.  A  verdadeira  guerra  começara.  No  entanto,  os  objetivos  civis  ainda

não  constituem  “prioridade”  nas  missões  de  bombardeio.  A  Luftwaffe  concentra  os  seus  ataques  sobre  as forças  inimigas  e,  principalmente,  sobre  as  vias  de  comunicação,  estradas  de  ferro  e  pontes.  Quando  uma cidade,  grande  ou  pequena,  é  bombardeada,  deve-se  isso  a  um  erro  ou  a  uma  imprescindível  necessidade  do Alto-Comando.  A  RAF,  operando  da  mesma  maneira,  não  ataca  centros  povoados,  e  limita  suas  incursões  às estradas  de  ferro,  pontes,  viadutos,  etc.

Estende-se  a  guerra  aérea:

Na  manhã  de  12  de  agosto  de  1940,  a  Luftwaffe  iniciou  uma  série  de  ataques  contra  estações  de  radar localizadas  na  costa  sul  da  Inglaterra.  Começou  assim,  a  “batalha  aérea  da  Inglaterra”.  Também  na  sua primeira  fase,  esta  luta  se  limitaria  aos  alvos  militares,  porém  a  sua  intensidade  levou  os  alemães  a  estender as  operações  e  bombardear,  indiscriminadamente,  cidades  e  centros  industriais  da  Inglaterra.

Na  noite  de  24  de  agosto,  170  bombardeiros  alemães  se  desviaram  de  sua  rota  por  causa  de  um  erro  de navegação  e  lançaram  suas  bombas  em  pleno  centro  de  Londres.  A  reação  britânica  foi  imediata. Convencidos  que  o  ataque  fôra  intencional,  os  ingleses  enviaram  uma  força  de  81  bombardeiros,  na  noite seguinte,  com  a  missão  de  atacar  Berlim.  Esse  ataque  foi  repetido  em  mais  de  duas  oportunidades.  Uma incursão  contra  Hamburgo  completou  o  quadro  dos  ataques  de  represália  realizados  pela  RAF.  A  guerra aérea  começou  assim  a  adquirir  a  violência  que,  passo  a  passo,  chegaria  a  incríveis  extremos:  o  do bombardeio  indiscriminado,  aterrorizador,  sem  objetivos  concretos,  mas  apenas  para  desmoralizar  o  inimigo.

Em  fins  de  1940,  os  alemães,  após  o  fracasso  de  sua  ofensiva  aérea  diurna,  recorreram  aos  bombardeios noturnos,  e  efetuaram  devastadores  ataques  com  bombas  incendiárias,  contra  Londres  e  outras  cidades.  Os ingleses,  em  seguida,  replicaram,  utilizando  os  mesmos  métodos,  com  um  primeiro  ataque  que  teve  por objetivo  a  cidade  de  Manheim,  ainda  que  em  escala  muito  menor.  Enquanto  isso  a  RAF  havia  desenvolvido novos  tipos  de  aviões  e  contava  com  poderosos  quadrimotores.  A  Luftwaffe,  paralelamente,  não  dispunha  de aparelhos  desse  tipo.  O  primeiro  grande  avião  de  bombardeio  britânico  utilizado  foi  o  Stirling,  empregado num  ataque  a  objetivos  militares  na  cidade  de  Roterdã,  em  fevereiro  de  1941.  Numa  missão  similar, objetivando  o  porto  francês  de  Le  Havre,  atuaram  pela  primeira  vez  os  quadrimotores  Halifax.  Ainda  no  ano de  1941,  a  RAF  aumentou  o  poderio  de  suas  bombas,  utilizando  projéteis  de  2.000  kg;  essas  bombas  foram lançadas  sobre  a  cidade  alemã  de  Endem.  As  operações  tinham,  cada  vez  maior  alcance,  numa  réplica  aos ataques  alemães.

Na  noite  de  8  para  9  de  maio,  a  RAF  avançou  sobre  o  céu  da  Alemanha,  com  uma  força  de  ataque  de  500 bombardeiros,  incursionando  sobre  Berlim,  Bremen  e  Hamburgo.  Noutro  reide,  efetuado  na  noite  de  12  para 13  de  junho  sobre  o  Ruhr,  os  bombardeiros  da  RAF  lançaram  400  toneladas  de  bombas  (a  maior  quantidade até  esse  momento).  Todas  essas  ações  não  eram  mais  do  que  o  preâmbulo  da  grande  ofensiva  que  se  iniciaria a  partir  de  1942.

Os  Aliados  planejam  a  ofensiva:

Entre  23  de  dezembro  de  1941  e  14  de  janeiro  de  1942,  Churchill  e  Roosevelt  mantiveram,  em  Washington, a  conferência  na  qual  foram  rebatizados  a  aprovados  os  primeiros  planos  destinados  a  levar  a  guerra  aérea  ao coração  da  Alemanha.  Os  líderes  aliados  consideraram  que  um  bombardeio  intenso  e  continuado  contribuiria para  criar  as  condições  favoráveis  de  uma  futura  invasão  do  continente.  Decidiu-se,  portanto,  enviar  com urgência  unidades  de  bombardeio  americanas  às  bases  britânicas.  Essa  medida,  no  entanto,  por  diversas razões  de  ordem  técnica,  não  se  pôde  cumprir  até  meados  de  1942.  Outra  decisão  de  grande  importância  foi  a criação  de  um  Estado-Maior  combinado,  integrado  por  representantes  britânicos  e  americanos.  No  tocante  à força  aérea,  os  membros  foram  o  Marechal  Charles  Portal,  da  RAF,  e  o  General  Arnold,  da  aviação americana.  O  comando  combinado  emitiu,  a  8  de  agosto  de  1942,  uma  ordem  para  as  operações  de bombardeio  diurno,  que  seria  posta  em  prática  pela  8 a  Força  Aérea  americana,  cujas  unidades  estavam  se agrupando  na  Inglaterra.  Nessa  determinação  ficaram  palpáveis  as  diferenças  entre  os  pontos  de  vista britânicos  e  americanos,  no  tocante  à  orientação  da  guerra  aérea.  Na  verdade,  ficava  sem  solução  o  principal problema  que  havia  brotado  entre  ambos  os  aliados;  isto  é,  a  discussão  surgida  entre  a  técnica  de  bombardeio defendida  pelos  britânicos,  de  ataque  noturno,  em  grandes  formações,  com  bombardeio  indiscriminado  de grandes  áreas,  e  a  tática  sustentada  pelos  americanos,  de  bombardeio  diurno  de  precisão,  sobre  objetivos predeterminados,  e  com  grande  proteção  de  caças.  Tampouco  se  conseguiu  organizar  um  comando  unificado. Decidiu-se,  unicamente,  nomear  o  Marechal  britânico  Portal,  diretor  do  bombardeio  estratégico,  porém somente  com  poderes  de  coordenador.

No  dia  23  de  julho  de  1942  iniciou-se  o  translado  das  primeiras  unidades  da  aviação  americana  para  a Inglaterra.  Uma  formação  de  18  Fortalezas-Voadoras  B-17  cruzou  o  Atlântico  e  aterrissou  nos  aeródromos ingleses.  Estes  aviões  formaram  o  núcleo  inicial  da  8 a  Força  Aérea  americana.  A  seu  cargo  estava,  em  união com  a  RAF,  o  início  da  ofensiva  aérea  contra  a  Alemanha.  O  chefe  dessa  força  foi  o  General  Spaatz,  e  o comandante  das  unidades  de  bombardeio,  o  General  Eaker.  Sob  o  comando  deste  último,  a  17  de  agosto  de 1942,  as  Fortalezas-Voadoras  realizaram  seu  primeiro  ataque  contra  território  inimigo,  com  tripulações americanas.  Dezoito  B-17  bombardearam  os  entroncamentos  ferroviários  de  Rouen  e  voltaram  às  suas  bases sem  sofrer  baixas.

Durante  o  transcurso  do  ano  de  1942,  no  entanto,  a  participação  da  8 a  Frota  Aérea  não  teve  relevância  e  foi puramente  simbólica;  na  verdade,  achava-se  ainda  em  processo  de  formação  e  carecia  de  experiência  e número  suficiente  de  aparelhos.

Harris  assume  o  comando:

A  22  de  fevereiro  de  1942,  o  Marechal-do-Ar  Arthur  Harris  assumiu  o  comando  de  bombardeio  da  RAF, substituindo  o  Marechal  Peirse.  A  designação  deste  chefe  marcou  uma  etapa  decisiva  no  desenvolvimento das  operações  aéreas  contra  a  Alemanha.  A  essa  altura,  esse  comando  contava  com  apenas  69  quadrimotores de  bombardeio.  Harris,  desde  o  primeiro  instante,  dedicou  seus  esforços  a  melhorar  o  material  de  vôo, substituindo  os  aviões  antiquados  por  novas  unidades,  especialmente  quadrimotores  Halifax  e  Lancaster.  Dez dias  depois  de  sua  nomeação,  a  2  de  março  de  1942,  foram  incorporadas  à  força  operativa  as  duas  primeiras esquadrilhas  de  Lancaster,  a  44 a  e  a  97 a .  Na  noite  de  10  de  março,  dois  Lancaster  da  44 a  Esquadrilha, participaram  da  sua  primeira  ação  de  guerra,  bombardeando  a  cidade  de  Essen.

Harris  foi  o  principal  propulsor  da  tática  de  bombardeio  maciço  das  grandes  cidades  e  centros  industriais. Esse  tipo  de  bombardeio,  denominado  “de  alfombra”,  causaria,  com  o  tempo,  a  devastação  de  enormes  zonas povoadas  e  o  extermínio  de  grandes  setores  da  população  civil;  arrasaria  também  com  grande  parte  da indústria  alemã.

O  novo  chefe  dedicou  os  seus  esforços,  paralelamente,  a  aperfeiçoar  a  técnica  de  bombardeio  noturno, principalmente  no  que  se  refere  à  orientação  e  identificação  dos  objetivos;  para  isso,  nos  primeiros momentos,  contou  com  o  sistema  denominado  GEE  baseado  nas  emissões  de  rádio  de  uma  estação  emissora principal  e  duas  secundárias;  na  interseção  das  ondas  emitidas,  o  avião  determinava  sua  posição.  A  falta  de aparelhos  aplicáveis  aos  sistema  GEE  fez  com  que  Harris  determinasse  a  sua  instalação  em  alguns  aviões,  e que  estes  servissem  de  guias  ao  resto  das  formações;  o  sinal  de  “objetivo  localizado”  seria  dado  pelos aeroplanos  guias  com  projéteis  luminosos.  A  fim  de  comprovar  a  eficiência  do  sistema,  realizaram-se experiências  na  ilha  de  Man,  na  Inglaterra,  na  noite  de  13  de  fevereiro  de  1942.  Seus  aviões  equipados  com aparelhos  GEE  adiantaram-se  ao  resto  da  força  de  bombardeio  e,  efetuando  passagens  sobre  o  alvo,  lançaram bengalas  luminosas.  Esta  primeira  experiência  não  deu  resultados  favoráveis  por  falhas  em  uma  das emissoras  terrestres.  Realizou-se  um  segundo  exercício,  dias  depois,  que  alcançou  pleno  êxito.  Os  britânicos decidiram,  então,  utilizar  o  sistema  regularmente.

Na  noite  de  8  para  9  de  março,  uma  força  de  bombardeiros  guiada  pelo  sistema  GEE  atacou  a  cidade  de Essen,  no  Ruhr.  A  operação  não  teve  êxito,  pois  a  força  bombardeira  atrasou-se  e,  ao  chegar  sobre  o  alvo,  já se  haviam  apagado  as  bengalas  lançadas  pelos  aviões  de  sinalização.  Na  noite  seguinte  repetiu-se  a  incursão, porém  com  uma  diferença:  para  a  sinalização  não  foram  utilizadas  bengalas,  mas  sim  bombas  incendiárias.  O ataque  não  teve  o  êxito  esperado,  porém  facilitou  a  concentração  dos  aviões  incursores,  e  o  seu  posterior regresso  às  bases.

Na  noite  de  29  para  30  de  março  a  RAF  voltou  a  empregar  o  sistema  GEE,  num  ataque  realizado  contra  o porto  de  Lubeck.  Participaram  da  ação  234  bombardeiros.  Os  aviões  de  sinalização  adiantaram-se  da  força principal,  identificaram  o  objetivo,  e  aguardaram  a  chegada  dos  bombardeiros,  para  efetuar  a  sinalização.  O resultado  foi  plenamente  satisfatório.  Em  três  horas,  a  formação  britânica  lançou  160  toneladas  de  bombas explosivas  e  incendiárias  e  arrasou  14  hectares  de  edifícios.  A  seguir,  os  britânicos  realizaram  um  violento reide  contra  a  cidade  de  Rostock.  Em  duas  noites  consecutivas,  uma  força  de  ataque  integrada  por  521  aviões lançou  uma  chuva  de  bombas  explosivas  e  incendiárias  e  destruíram  o  centro  da  cidade.  Esse  foi  o  primeiro ataque  que  igualou  em  intensidade  e  danos  aos  efetuados  pela  Luftwaffe  contra  Coventry.  Como  salientou um  oficial  da  RAF,  “É  o  começo  do  nosso  domínio  da  terrível  ciência  de  destruir  uma  cidade  por  meio  do fogo”.

O  ataque  a  Augsburgo:

No  mês  de  abril  de  1942,  ante  as  alarmantes  perdas  sofridas  pela  navegação  aliada  em  virtude  dos  contínuos ataques  dos  submarinos  alemães,  Churchill  ordenou  ao  Marechal  Harris  que  organizasse  uma  ação  aérea destinada  a  golpear  a  indústria  de  submarinos.  Harris  emitiu  imediatamente  a  ordem  para  selecionar  um objetivo,  cuja  destruição  causasse  uma  substancial  redução  na  fabricação  de  submersíveis.  A  escolha  recaiu na  grande  fábrica  de  motores  Diesel  Mann,  situada  na  cidade  de  Augsburgo,  no  extremo  sul  da  Alemanha. Esse  ataque  exigia  uma  grande  precisão  e  nisso  residia  seu  grande  obstáculo.  Não  poderia  ser  realizado  de noite;  portanto,  obrigaria  os  aparelhos  britânicos  a  expor-se  ao  mortífero  fogo  dos  caças  alemães.  Isso  era particularmente  perigoso,  pois,  dada  a  grande  distância  a  percorrer  (quase  1.000  km),  os  bombardeiros  não podiam  contar  com  a  proteção  dos  caças.  Harris,  contudo,  acreditava  que  o  novo  quadrimotor  Lancaster,  por causa  de  seu  poderoso  armamento  e  sua  velocidade  relativamente  elevada,  poderia  realizar  a  incursão  em condições  moderadamente  seguras.  O  principal  perigo  que  as  formações  deveriam  enfrentar  era  representada pelas  numerosas  esquadrilhas  de  caças  alemães,  estacionadas  na  região  do  Canal  da  Mancha.  Contava-se, contudo,  distrair  a  defesa  alemã,  realizando,  paralelamente,  uma  operação  simulada,  o  que  permitiria  aos Lancaster  penetrar  no  interior  da  Alemanha,  cruzando  a  costa  a  baixa  altura,  e  escapando  assim,  à  detecção possível  por  parte  da  defesa.  Planejou-se  ainda  realizar  o  ataque  nas  horas  do  entardecer,  com  o  objetivo  de que  a  viagem  de  regresso  pudesse  ser  amparada  pela  escuridão  da  noite.  Para  cumprir  a  missão,  foram selecionados  14  aviões  Lancaster,  pertencentes  às  esquadrilhas  44 a  e  97 a .  Desses,  dois  aparelhos  seriam mantidos  na  reserva,  para  substituir  eventualmente  os  aviões  que  não  pudessem  decolar.  O  ataque,  portanto, seria  realizado  por  12  aviões,  divididos  em  quatro  setores  de  três  aparelhos  cada  um.  A  partir  de  14  de  abril iniciou-se  o  treinamento  das  tripulações,  sem  determinar  qual  seria  o  objetivo  a  atingir.  Os  Lancaster realizaram  vôos  sobre  a  Inglaterra  e  a  Escócia,  a  baixa  altura,  cobrindo  uma  distância  de  cerca  de  2.000  km. No  dia  17  de  abril,  às  11  horas  da  manhã,  as  tripulações  foram  reunidas  nos  seus  comandos  e  receberam comunicação  dos  detalhes  do  reide.  A  formação  levantaria  vôo  às  15  horas,  e  alcançaria  o  objetivo  por  volta das  20h15,  durante  o  anoitecer,  porém  ainda  com  suficiente  luz  natural.

Rumo  ao  objetivo:

Na  hora  fixada,  os  Lancaster,  divididos  em  dois  grupos  de  seis  aparelhos  cada  um,  comandados respectivamente  pelos  Esquadron  Leader  John  Nettleton  e  Sherwood,  levantaram  vôo  de  duas  bases  no  sul  da Inglaterra.  Separados  por  uma  distância  de  alguns  quilômetros,  os  dois  grupos  atravessaram  o  Canal  da Mancha  e  penetraram  em  território  francês,  voando  a  poucas  dezenas  de  metros  do  solo.  Paralelamente,  trinta aviões  Boston  partiram  numa  ação  de  despistamento.  A  bordo  dos  Lancaster  as  tripulações  observavam, impacientes,  o  horizonte.  Os  pilotos,  rigidamente  sentados  diante  dos  seus  visores,  apertavam  com  mão  firme os  comandos  e  pressionavam  lentamente  os  aceleradores.  Os  metralhadores,  com  suas  armas  prontas,  faziam- nas  oscilar  sobre  os  suportes.  Os  radioperadores,  tensos,  percorriam  a  faixa,  em  busca  de  emissões  aliadas  ou inimigas.  A  terra,  passando  velozmente  sob  os  aviões,  apenas  permitia  entrever  algumas  casas,  colinas  e bosques.  Os  camponeses,  surpresos  com  a  rápida  aparição,  somente  conseguiam  divisar  a  causa  dos  aviões  já desaparecendo  atrás  dos  bosques  vizinhos.  Algumas  baterias  antiaéreas,  alertadas,  abriram  fogo  ao  acaso. Dois  dos  aviões  atingidos  pelos  disparos  sofreram  danos.  O  êxito  não  acompanhou,  no  entanto,  os  incursores. Com  efeito,  duas  esquadrilhas  de  caças  alemães,  que  regressavam  às  suas  bases  após  interceptar  os bombardeiros  Boston,  cruzaram  com  a  formação  comandada  por  Nettleton.  Os  Me  109  e  os  Fw  190  travaram combate  com  os  aviões  britânicos,  mantendo-os  fora  do  alcance  das  metralhadoras  dos  bombardeiros.  Os Lancaster,  tratando  de  escapar  ao  ataque,  desceram  ainda  mais  e  acelerando  ao  máximo  os  seus  motores.  Os caças  alemães  os  acossavam  e  disparavam  sem  cessar  as  suas  armas.  Um  dos  Lancaster,  de  repente,  envolto em  fumaça,  perdeu  altura.  Uma  horrível  explosão  marcou  o  instante  em  que  se  chocou  contra  o  solo.  Outro, com  uma  asa  incendiada,  viu-se  obrigado  a  aterrissar  num  campo  de  trigo,  sendo  em  seguida,  destruído  pela sua  tripulação.  Segundos  depois,  um  terceiro  avião,  com  a  fuselagem  crivada  de  balas  inimigas,  e  os  quatro motores  em  chamas,  precipitou-se  à  terra,  destroçando-se.  Restavam  em  vôo  apenas  três  aviões.  Um  deles, atingido  pelos  disparos  alemães,  também  caiu  envolto  em  chamas,  roçando  na  sua  queda,  os  dois  aparelhos restantes.  Nesse  momento,  os  caças  alemães  tiveram  que  abandonar  a  luta,  por  falta  de  combustível.  Os  dois Lancaster,  apesar  de  avariados,  mantiveram  o  rumo  e  prosseguiram  o  vôo  para  o  objetivo.  A  formação comandada  por  Sherwood,  em  troca,  sem  encontrar  nenhuma  oposição,  continuava  em  vôo  para  Augsburg.

Nas  horas  seguintes,  nenhum  incidente  se  interpôs  na  marcha  dos  aviões  britânicos.  O  aparelho  do comandante  Nettleton  foi  o  primeiro  a  chegar  ao  objetivo.  De  repente  apareceu  diante  dele  uma  colina. Nettleton  puxou  para  si  os  comandos  do  gigantesco  quadrimotor,  e  lentamente  tomou  altura.  Atrás  da  colina, inesperadamente,  os  britânicos  avistaram  a  cidade  de  Augsburgo.  Roçando  os  tetos,  os  aviões  se  dirigiram para  o  rio,  cujo  curso  os  orientaria  até  o  alvo.  A  esta  altura  dos  acontecimentos,  a  defesa  antiaérea  havia intensificado  a  sua  ação  e    uma  mortífera  cortina  de  fogo  se  estendia  diante  dos  atacantes.  À  sua  vista apareceu  a  grande  fábrica  de  motores,  perfeitamente  identificável,  apesar  da  camuflagem.  Rompendo  o violento  fogo  da  artilharia  antiaérea,  os  Lancaster  sobrevoaram  o  alvo  lançando  suas  bombas.  Um  dos  aviões atacantes,  atingido  pelo  fogo  antiaéreo,  foi  rapidamente  envolvido  pelas  chamas.  O  piloto,  ante  a impossibilidade  de  dominar  o  incêndio,  decidiu  tentar  uma  aterrissagem  forçada.  Com  a  tripulação  reunida no  posto  de  comando,  o  comandante  orientou  o  avião  para  terra.  Voando  a  poucos  metros  de  altura,  quando  a fumaça,  invadindo  a  cabine,  os  cegou.  Um  dos  tripulantes,  quebrando  uma  das  janelas,  conseguiu  dissipar  a nuvem  de  fumaça  no  preciso  momento  em  que  conseguiram  antever  o  grupo  de  árvores  para  onde  se dirigiam  a  toda  velocidade.  O  piloto,  desesperadamente,  acelerou,  e  levantou  o  aparelho  no  último  instante. Em  seguida,  uma  nova  massa  de  fumaça  invadiu  a  cabine  cegando-os  novamente.  Assim,  em  meio  às  trevas, e  calculando  haver  passado    as  árvores,  o  piloto  desceu  e  conseguiu  aterrissar  às  cegas.  Nettleton, entretanto,  regressou  dessa  incursão  sem  ser  atingido.  Posteriormente  foi  condecorado  com  a  Cruz  Vitória.

A  formação  liderada  por  Sherwood,  por  sua  vez,  atacou  em  seguida.  Os  aviões  lançaram  suas  bombas  sobre o  alvo,  apesar  da  encarniçada  oposição  da  artilharia  antiaérea  alemã.  Dois  aviões  foram  derrubados,  entre eles  o  que  comandava  Sherwood,  que,  milagrosamente,  salvou  a  sua  vida.

A  tripulação  do  seu  aparelho,  entretanto,  pereceu  carbonizada.  O  reide,  em  que  pesem  as  baixas  sofridas, havia  alcançado  êxito.  A  produção  das  fábricas  Mann  não  foi  interrompida  totalmente,  porém  a  destruição causada  pelas  bombas,  nas  seções  de  montagem  e  nos  bancos  de  provas,  impediram,  durante  seis  meses  que o  trabalho  se  realizasse  com  o  ritmo  normal.

Mil  aviões  atacam  Colônia:

Em  meados  de  1942,  o  Marechal  Harris  programou  a  realização  de  uma  série  de  gigantescos  ataques  contra as  cidades  alemães.  A  primeira  dessas  operações,  batizada  com  o  nome  de  Milênio,  teria  Colônia  por objetivo.  A  incursão  serviria  para  por  em  prática  os  métodos  táticos  elaborados  por  Harris  e  seus colaboradores.  Previam  eles  a  concentração  de  uma  vasta  força  de  cerca  de  mil  aparelhos  que,  em ininterrupta  corrente,  sobrevoariam  o  alvo  num  período  breve,  lançando  um  verdadeiro  dilúvio  de  bombas.  O sistema  permitia  supor  que  a  defesa  antiaérea  inimiga  seria  desorganizada  pela  intensidade  do  ataque,  e  que se  alcançaria  um  máximo  de  destruição  com  um  mínimo  de  perdas.  A  tática  podia  resumir-se  numa  frase: “Golpear  o  mais  forte  possível,  no  mais  curto  espaço  de  tempo”.

Na  noite  de  30  de  maio  de  1942,  em  centenas  de  aeródromos  do  sul  da  Inglaterra,  uma  gigantesca  frota  aérea começou  os  preparativos  para  decolar.  O  mundo  haveria  de  ter  conhecimento,  brevemente,  do  mais extraordinário  bombardeio  aéreo  jamais  realizado.  Ao  todo,  1.047  aviões  estavam  prontos  para  partir.  Deles, 337  pertenciam  ao  comando  de  bombardeio,  336  ao  comando  de  treinamento,  250  às  escolas  de transformação,  39  ao  comando  de  caça,  15  ao  comando  de  cooperação,  e  40  a  outras  unidades  menores. Harris,  conseguira  reunir  uma  massa  de  aviões,  nunca  vista  até  esse  dia.  A  experiência,  única,  conseguira concentrar  a  maior  parte  dos  aparelhos  ingleses  disponíveis.

Atravessando  as  defesas  alemães,  e  semeando  o  caos  nas  guarnições  antiaéreas  inimigas,  a  imensa  formação britânica  internou-se  em  território  alemão.  O  objetivo  foi  alcançado  por  900  aviões  que,  apesar  da  formidável defesa  antiaérea,  que  incluía  mais  de  500  canhões  de  todos  os  tipos  e  120  refletores,  além  de  várias esquadrilhas  de  caças  noturnos,  realizaram,  sem  maiores  contratempos,  sua  mortífera  tarefa.  Sobrevoando  a cidade  à  razão  de  10  aviões  por  minuto,  lançaram  1.445  toneladas  de  bombas  explosivas  e  incendiárias  em 90  minutos.  Atingiu-se  assim,  uma  concentração  de  fogo  de  17.5  toneladas  por  minuto,  e  30%  dos  projéteis lançados  caíram  sobre  a  cidade.  Gigantescos  incêndios  se  prolongaram  até  cinco  dias  depois  do  ataque.  Mais de  um  terço  da  cidade  foi  devastado.  250  fábricas  ficaram  totalmente  destruídas.  10.000  pessoas  morreram  e mais  de  50.000  perderam  seus  lares.  A  RAF,  por  sua  vez,  perdeu  apenas  37  aviões  e  260  homens.  Isso representava  apenas  3.3%  da  força  empregada.  A  teoria  de  Harris  estava  provada.  Os  terríveis  efeitos  do bombardeio  comprovaram  a  sua  exatidão.  Iniciava-se  assim  a  destruição  da  Alemanha  pelo  ar.

Continuando  os  seus  planos  de  bombardeio  maciço,  os  britânicos  realizaram  um  segundo  ataque  na  noite  de 1 o  para  2  de  junho  de  1942.  Desta  vez,  o  objetivo  foi  a  cidade  de  Essen,  no  Ruhr.  Não  se  repetiu  o  episódio Colônia.  O  êxito  não  acompanhou  as  formações  inglesas.  As  nuvens,  muito  baixas,  resultaram  num obstáculo  intransponível  para  os  aviões  britânicos,  que  careciam  de  radares.  Viram-se  então  obrigados  a lançar  suas  bombas  ao  acaso,  sem  obter  resultados  apreciáveis.

A  última  operação  desse  tipo  teve  lugar  na  noite  de  25  para  26  de  junho,  quando  se  efetuou  o  bombardeio  do porto  de  Bremen.  Os  caças  alemães  noturnos  conseguiram,  desta  vez,  cumprir  uma  eficiente  tarefa  de interceptação.  Dos  mil  bombardeiros  atacantes,  57  foram  derrubados.  A  porcentagem  foi  considerada,  nos meios  britânicos,  como  muito  elevada,  dada  a  difícil  reposição  dos  aparelhos  perdidos.

Após  a  execução  dos  três  reides  citados,  que  haviam  requerido  um  grande  esforço  da  RAF,  sobreveio  uma pausa.  Durante  o  resto  do  ano  apenas  se  realizaram  operações  de  menor  importância,  nas  quais  se empregaram  poucos  aviões  (em  redor  de  uma  centena).  Contudo,  a  experiência  adquirida  capacitava  a  RAF  a desenvolver  novas  técnicas  de  bombardeio;  efetivamente,  isso  ocorreria  mais  tarde.

Anexo

Arthur  Harris:

Sólido,  forte,  de  temperamento  firme,  Harris  aparece  como  a  verdadeira  imagem  do  lutador  indomável.  Filho  de  um funcionário  inglês,  muito  jovem  viaja  para  a  África  do  Sul,  onde  se  dedica  à  busca  do  ouro.  Ao  começar  a  Primeira Guerra  Mundial,  alista-se  como  corneteiro;  ao  término  da  campanha,  volta  à  Inglaterra  e  ingressa  na  aviação,  como tenente.  Depois  da  guerra,  tomou  parte,  sempre  como  aviador,  na  repressão  de  revoltas  ocorridas  nas  colônias.  Regressa mais  tarde  à  Inglaterra  e  se  incorpora  à  Escola  de  Guerra.  É  designado  para  o  Ministério  do  Ar  e,  em  1938,  assume  a direção  do  Comando  de  Bombardeiros.  Quando  estoura  a  Segunda  Guerra  Mundial,  é  chefe  do  5 o  Grupo  de bombardeio.  Em  fevereiro  de  1942,  com  a  idade  de  49  anos,  é  elevado  a  marechal  e  encarregado  do  comando  geral  da aviação  de  bombardeio  estratégico.  Ao  assumir  o  posto,  Harris  depara  com  uma  força  que  possui  ao  todo  69  aviões  de bombardeio  pesado.  A  partir  desse  momento,  Harris  luta  incansavelmente  para  obter  mais  e  melhores  aviões.  Os  Witley passam  a  atuar  como  aviões  de  transporte,  os  Blenheim  são  substituídos  por  Boston;  os  Manchester  permanecem  ainda em  serviço,  os  Stirling,  Halifax  e  Lancaster  em  desenvolvimento  e  aperfeiçoamento,  são  a  sua  principal  preocupação.

Sob  a  direção  de  Harris,  o  Comando  de  Bombardeio    crescer  seus  efetivos  da  seguinte  maneira:  em  1942,  consegue formar  23  esquadrões  novos;  até  dezembro  de  1942  o  total  de  bombardeiros  alcança  261  aviões;  em  1943,  se  eleva  a 570;  durante  1944  os  aviões  totalizam  1.119  pesados  e  97  leves.  A  partir  de  1943,  o  Lancaster  constitui  o  principal avião  de  bombardeio  das  formações  inglesas,  seguido  pelo  Halifax.  Durante  o  curso  da  guerra,  a  indústria  britânica chegou  a  construir  9.000  Lancaster  e  6.000  Halifax.  Em  todos  esses  setores  Harris  foi  o  cérebro  motor  da  evolução  e desenvolvimento  dos  bombardeiros.  A  ele,  e  à  sua  luta  permanente,  deveu-se  o  ímpeto  com  que  a  aviação  de bombardeio  atacou  a  Alemanha.  A  ele  também  se  devem  as  novas  táticas  de  bombardeio  “de  alfombra”.  Harris permaneceu  no  seu  cargo  durante  toda  a  guerra,  até  o  final.

Plano  de  ataque:

O  comando  combinado  do  Estado-Maior  aliado,  integrado  por  chefes  militares  britânicos  e  americanos,  emitiu,  a  8  de dezembro  de  1942,  a  seguinte  determinação  para  o  bombardeio  diurno  da  Alemanha,  a  ser  efetuado  pela  8 a  Força  Aérea americana.

Propósito:

1.  O  propósito  do  bombardeio  diurno  das  Forças  Aéreas  aliadas  com  base  na  Inglaterra  é  alcançar  a  continuidade  da ofensiva  de  bombardeio  contra  as  potências  do  Eixo.

Determinação  de  responsabilidades:

2.  O  instrumento  responsável  pelo  bombardeio  aéreo  noturno  é  o  Comando  de  Bombardeio  britânico.  O  bombardeio diurno  terá  responsabilidade  direta  da  8 a  Força  Aérea  americana.

Métodos  para  atingir  o  propósito:

3.  Os  métodos  de  bombardeio  noturno  permanecerão  na  forma  definida  pela  orientação  atual  do  Ministério  do  Ar  ao Comando  de  Bombardeio  britânico.  O  método  para  realizar  o  propósito  de  bombardeio  diurno  visa  a  destruição  dos objetivos  de  precisão,  vitais  para  o  esforço  de  guerra  das  potências  do  Eixo.

Desenvolvimento  da  ofensiva  diurna:

4.  A  ofensiva  de  bombardeio  diurna  será  desenvolvida  nas  seguintes  três  fases:

a  -  fase  I:

As  forças  americanas  de  bombardeio  diurno,  sob  a  proteção  de  caças  britânicos  (reforçados  pelas  forças  de  caças  dos EUA)  atacarão  os  objetivos  adequados,  dentro  do  raio  de  ação  da  cobertura  britânica  dos  aviões  de  caça.

b  -  fase  II:

As  forças  dos  EUA  de  bombardeio  diurno,  sob  a  proteção  de  caças  americanos  e  britânicos,  atacarão  os  objetivos apropriados  dentro  do  raio  de  ação  dos  tipos  de  caças  dos  EUA  e  britânicos.  Nesta  fase,  a  proteção  direta  das  formações de  bombardeio,  será  proporcionada  pela  força  americana  de  caça.  As  forças  britânicas  de  caça  serão  empregadas,

principalmente,  para  incursões  de  despistamento  e  cobertura  de  retiradas.  Durante  esta  fase,  o  alcance  característico  do tipo  de  caça  dos  EUA  será  explorado  para  aumentar  a  profundidade  de  penetração  da  força  de  bombardeio  e  também para  ampliar  a  frente  de  ataque.  Será  responsabilidade  da  8 a  Força  Aérea  o  desenvolvimento  das  modalidades  táticas  de penetração  profunda  na  defesa  diurna  de  caça  do  inimigo.

c  -  fase  III:

A  8 a  Força  Aérea  desenvolverá  sua  ofensiva  diurna  recebendo  o  apoio  e  a  colaboração  que  possa  requerer  da  força britânica  de  curto  alcance.

A  caça  alemã  noturna:

Por  volta  de  1940  apareceu  uma  nova  técnica  de  combater  na  aviação  alemã:  a  caça  noturna.  Essa  nova  tática  foi considerada  pelos  pilotos  de  caça  como  muito  insegura.  Os  aviadores  estavam  acostumados  a  lutar  de  dia,  visualizando o  objetivo.  De  noite,  ao  contrário,  seria  difícil  ou  impossível  localizar  o  inimigo.  Além  disso,  o  piloto  sentia  uma apreensão  constante  ao  ter  que  aterrissar  em  campos  mal  iluminados,  no  meio  da  obscuridade.  Chegou-se  ao  extremo  de não  encontrar,  nos  primeiros  tempo,  nenhum  voluntário  para  as  primeiras  missões  noturnas.  A  escuridão  para  o combate,  oferecia  perigos  de  todos  os  tipos.  No  princípio,  Goering  determinou  pessoalmente  que  os  pilotos  escolhessem o  tipo  de  caça  a  que  se  dedicariam,  diurna  ou  noturna.  Porém  o  acaso  interveio  e  inclinou  muito  para  o  trabalho  noturno. Efetivamente,  o  Coronel  Streib,  um  dos  ases  alemães,  recebeu  a  Cruz  de  Ferro  em  virtude  de  suas  vitórias  noturnas  (um avião  inimigo  derrubado  em  cada  missão).  Muitos,  então,  quiseram  imitar  suas  façanhas.

A  vida  do  piloto  de  caça  noturna  era  sumamente  dura.  Freqüentemente  o  aviador  precisava  ficar  dando  voltas  e  voltas, durante  longo  tempo,  sem  que  tivesse  a  oportunidade  de  encontrar  o  inimigo.  Depois,  se  o  aparelho  incursor  não  era derrubado  com  as  primeiras  rajadas  de  metralhadora,  o  piloto  devia  travar  um  verdadeiro  duelo  aéreo,  em  plena escuridão.  Isso  requeria  nervos  de  aço,  físico  privilegiado  e  boa  sorte...

O  desenvolvimento  e  aperfeiçoamento  do  caça  noturno  resultou  na  criação  de  uma  arma  altamente  especializada  e, portanto,  na  de  um  grupo  de  homens  que  pertenciam  a  uma  “elite”.  Nem  todos  eram  capazes  de  integrar-se  nelas.  Deu- se  mesmo  o  caso  de  excelentes  pilotos  que  fracassaram  na  caça  noturna,  e,  paralelamente,  pilotos  medíocres  que, voando  de  noite,  alcançaram  a  categoria  de  ases.  Muitos  fatores,  conhecidos  e  desconhecidos,  influíam  para  que  tal  fato acontecesse.

Um  dos  heróis  da  caça  noturna  foi  o  tenente  alemão  Lent.  O  jovem  oficial,  depois  de  haver  realizado  35  saídas  sem haver  localizado  um    avião  inimigo,  solicitou  licença,  convencido  de  seu  fracasso.  Incitado  a  ficar  até  completar  50 missões,  e  autorizado  a  abandonar  a  arma  depois,  se  assim  o  desejasse,  permaneceu  nela  e  foi  abatido,  quando    havia obtido  107  vitórias.

Visão  de  um  ataque:

Relato  feito  pelo  Tenente  Hector  Hawton,  da  Real  Força  Aérea  Britânica:

“Os  pilotos  que  tomaram  parte  nesses  ataques  gigantescos  nunca  deixaram  de  impressionar-se  com  a  violência  deles. Ao  chegar  sobre  a  área  determinada,  inicia-se  o  lançamento  dos  cartuchos  de  iluminação;  se  a  visibilidade  é  muito  boa, a  cidade  condenada  à  destruição  parece  uma  miniatura  de  brinquedo.  É  claro  que  as  bombas  antiaéreas  estouram  e numerosos  refletores  esquadrinham  os  céus  na  esperança  de  iluminar  um  atacante.  O  resplendor  dos  fogos  e  dos refletores  é  de  fazer  cegar.  Tudo  parece  fantástico,  irreal;  os  dedos  de  luz  que  buscam  entre  as  trevas,  e  os  fogos artificiais,  constituem  um  espetáculo  macabro,  tanto  em  terra  como  nas  alturas.    uma  pausa  angustiante,  à  medida  que a  grande  força  de  ataque    voltas  sobre  a  cidade.  Na  terra,  o  bramido  de  centenas  de  bombardeiros  quadrimotores  e  o estrondo  das  baterias  antiaéreas  são  ensurdecedores.

“De  repente,    um  ruído  que  supera  todos  os  demais.  O  próprio  céu  parece  sacudido  por  súbita  e  catastrófica  explosão, cada  vez  que  os  pilotos,  impacientes,  se  lançam  com  seus  aparelhos,  como  uma  manada  de  lobos  sobre  a  sua  presa.  Um dilúvio  de  bombas  incendiárias  e  altos  explosivos  se  precipita  para  baixo.  Um  anel  de  incêndios  se  ergue  dos  pontos visados.  As  explosões,  visivelmente,  parecem  fazer  a  cidade  voar  pelos  ares.

“Dez,  20,  talvez  50  toneladas  de  bombas  por  minuto,  caem,  silvando,  dentro  daquele  inferno  criado  pelos  homens”.

A  defesa  alemã:

Os  caças  noturnos  alemães  combatiam  segundo  normas  sumamente  rígidas.  Em  primeiro  lugar,  cada  avião  tinha  uma zona  designada,  com  limites  perfeitamente  determinados,  a  que  devia  se  restringir.  Ainda  mais,  caso  se  encontrasse combatendo  ou  perseguindo  um  adversário,  o  caça  devia  girar  e  abandonar  o  inimigo  se  chegasse  nos  limites estabelecidos.  Em  terra,  um  oficial  seguia  seus  movimentos  e  lhe  indicava  a  sua  posição,  altura  que  devia  vigiar  e  a direção  que  devia  seguir.

Se  o  inimigo  não  se  encontrava  à  vista,  o  caça  devia  voar  ao  redor  de  uma  baliza,  visível  do  alto,  que  indicava  o  centro da  zona  a  ele  designada.  O  avião,  nesses  momentos,  voava  por  meio  de  comando  automático,  para  evitar  a  fadiga  do piloto.  Em  terra,  o  avião  inimigo  aparecia  nas  telas  como  um  pequeno  ponto  vermelho.  O  caça  alemão  por  sua  vez,  era visível  como  um  pontinho  verde.  Quando  ambos  os  pontos  se  tocavam,  o  piloto  emitia  um  sinal:  “Pauke!  Pauke!”  que significava  que  o  inimigo  estava  próximo.  A  distância  que  mantinha  com  o  aparelho  inimigo,  contudo,  era  de  uns  400 metros,  até  certificar-se  dos  dados  que  lhe  eram  comunicados  de  terra.  Depois  se  aproximava  até  uns  100  metros  e  abria fogo,  principalmente  contra  os  motores.  Durante  o  combate,  o  oficial  de  terra  permanecia  em  silêncio,  porém observando  as  evoluções  sobre  a  sua  tela.  Assim,  se  o  caça  perdia  contato,  da  terra  se  poderia  indicar-lhe  a  posição  do

inimigo.  A  vantagem  evidente  desse  tipo  de  combate  era  que  o  piloto,    em  cima,  sabia  que  não  estava  sozinho. Efetivamente,  o  piloto  sabia  que  alguém  o  vigiava  e  o  avisava  da  presença  de  inimigos.  Assim,  o  piloto  noturno  e  o oficial-guia  formavam  uma  verdadeira  equipe  de  combate,  que  exigia  de  ambos  a  mais  completa  correspondência  e atenção.  Da  terra,  o  oficial-guia  podia  acompanhar  todos  os  movimentos  do  próprio  avião,  suas  evoluções  e  até  a  sua queda,  através  da  tela  do  radar.

O  êxito  dos  caças  alemães  foi,  na  realidade,  o  êxito  de  uma  equipe.

Viagem  ao  inferno:

O  Sargento-Aviador  Campbell,  relata  suas  impressões  do  reide  realizado  contra  Colônia,  na  noite  de  30  de  maio  de 1942.

“A  princípio  lentamente,  nosso  grande  Halifax,  com  sua  carga  de  bombas,  avança  pelo  asfalto  da  pista,  cujas  laterais são  iluminadas  por  lâmpadas  de  petróleo.  Ganhamos  velocidade,  até  uma  tal  rapidez  que  as  luzes  das  lâmpadas  passam a  constituir  uma  linha  de  fogo.  De  súbito,  o  avião  se  ergue  do  solo  e  começa  a  subir.  Keith,  o  comandante,  faz  o aparelho  dar  uma  volta  e  continuar  subindo.

“Àquela  noite  tínhamos  um  tempo  ideal.  No  momento  em  que  sobrevoávamos  a  linha  costeira  do  continente,  acabava de  sair  a  Lua.  Muito  ao  longe,  diante  de  nós,  divisávamos  um  pálido  reflexo  rosado,  porém  não  lhe  prestei  muita atenção  no  princípio.    embaixo,  os  alemães,  nos  buscavam  com  seus  refletores,  procurando  localizar-nos  e  disparando com  sua  artilharia  antiaérea,  sem  nos  atingir,  porém.  O  reflexo  rosado  começou  a  se  acentuar  cada  vez  mais.  De  repente, percebi  que  aquele  brilho  estranho  era  o  nosso  objetivo.  Colônia    estava  em  chamas.  Nossos  primeiros  grupos  haviam já  alcançado  o  alvo  e  lançado  as  bombas.  Olhei  para  a  popa,  procurando  localizar  os  outros  aparelhos,  mas  não  me  foi possível.  Porém  vi  algo  muito  mais  importante.  A  região  sobre  a  qual  voávamos,  estava  agitada  pelo  fogo  antiaéreo,  e pelas  luzes  dos  refletores.  Era  como  se  alguém  tivesse  apertado  um  botão  e  soltado  tudo  o  que  os  alemães  possuíam para  combater  os  nossos  aviões”.

“Antes  que  nos  déssemos  conta,  estávamos  sobre  Colônia.  Era  um  quadro  impressionante.  A  cidade  inteira  parecia  uma imensa  fornalha.  Por  toda  parte  viam-se  incêndios  estendendo-se  à  direita  e  à  esquerda,  unindo-se  uns  com  os  outros,  e tingindo  o  nosso  avião  com  o  vermelho  do  seu  clarão.

Os  alemães  atiravam  com  tudo  o  que  tinham.  O  fogo  antiaéreo  era  terrível.  À  nossa  volta  explodiam  projéteis,  lançados pelas  baterias,  exigidas  ao  máximo.  Porém,  aquela  noite,  nem  prestávamos  muita  atenção  aos  artilheiros  de  terra.  Havia tantos  aviões  sobre  Colônia,  que  os  defensores,  evidentemente,  não  podiam  concentrar  o  fogo  sobre  nenhum  em particular.  Tudo  o  que  faziam  era  continuar  atirando  para  o  céu.  Uma,  ou  duas  vezes,  as  granadas  alemães  explodiram bem  perto,  debaixo  de  nós,  porém  sem  causar  maiores  danos  que  alguns  arranhões  num  dos  ailerons.  Ouvíamos  a explosão  das  granadas,  apesar  do  ruído,  dos  nossos  quatro  motores.  Soavam  como  pancadas  em  grandes  portas  de  ferro. “Havia  tantos  incêndios  que  tivemos  que  voar  umas  três  ou  quatro  vezes  em  torno  da  cidade,  à  procura  de  focos escuros,  setores  que  não  estivessem  em  chamas.  Numa  das  voltas  fomos  apanhados  por  um  facho  de  luz  dos  refletores. Os  alemães  nos  seguiram  com  suas  luzes  e  os  artilheiros  procuravam  ajustar  nossa  distância  para  nos  acertar.  O comandante,  através  de  curvas  rápidas  e  manobras  evasivas,  conseguiu  finalmente  escapar.

“Depois  que  lançamos  nossas  bombas,  empreendemos  o  regresso.  Havíamos  estado  apenas  20  minutos  sobre  Colônia, mas  a  nós  parecera  uma  eternidade”.

Baterias  antiaéreas:

Para  defender  o  seu  território  dos  devastadores  ataques  da  aviação  de  bombardeio  aliada,  os  alemães  organizaram  uma poderosa  defesa  antiaérea.  No  começo  da  guerra    contavam  com  6.500  canhões  pesados  antiaéreos,  porém,  com  a intensificação  dos  ataques,  essa  cifra  subiu,  até  alcançar,  em  1945,  o  número  de  15.000.  dispunham  também,  nesse  ano, de  25.000  peças  de  artilharia  antiaérea  leves,  7.000  refletores  e  2.500  balões  controláveis.

A  defesa  dos  principais  objetivos  foi  a  seguinte:  Berlim,  800  canhões  pesados;  Hamburgo,  400;  Colônia,  500;  Zona  do Ruhr,  1.000;  Brest,  270;  Ploesti,  250.

A  estas  armas  somavam-se  o  uso  de  cortinas  de  fumaça  e  névoa  artificial,  hábeis  camuflagens,  fábricas  e  até  localidades inteiras  dissimuladas.  Nesse  trabalho  utilizou-se  cerca  de  um  milhão  e  meio  de  homens  e  mulheres.

A  ofensiva  aérea:

Operações  realizadas  contra  a  Alemanha  durante  a  Segunda  Guerra  Mundial Aviação  americana  RAF

Bombas  lançadas  (t)

1.461.854

1.235.609

Ataques  de  caças

991.750

1.695.049

Ataques  de  bombardeiros

754.818

687.462

Aviões  de  caça  perdidos

8.420

10.045

Aviões  de  bombardeio  perdidos

9.949

11.965

Mortos  em  ação

79.265

79.281

Aviões  inimigos  destruídos

35.783

21.622

Força  de  aviões  de  bombardeio  (1945) Força  de  aviões  de  caça  (1945)

Pessoal  efetivo

7.177 6.203 619.020

6.956 7.728 718.628

 

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