Luta no
Ar Ofensiva aérea aliada contra a Alemanha: Setembro, 3, de 1939. A última tentativa realizada pela Inglaterra e pela França para evitar um conflito armado com a Alemanha fracassa. O vencimento do prazo do ultimato sem resposta da Alemanha concretiza uma realidade que assusta, porém à qual já não se pode fugir: a guerra. Poucos minutos depois de vencido o ultimato, numa base do sul da Inglaterra, um bombardeiro bimotor Blinheim entra lentamente na pista, toma velocidade e decola. É a primeira missão de guerra que um avião inglês realiza. Seu destino: a base naval de Wilhelmshaven, na Alemanha. Sua missão: obter fotografias da frota de guerra alemã. O aparelho, voando a uma altura de 7.200 metros, sobrevoa o objetivo e, sem ser atacado, cumpre a sua missão. Ao regressar, às 16h50, o comandante redige o seu informe no livro de operações da base: “Operação cumprida, 75 fotos obtidas da frota alemã. Primeiro avião da RAF que cruzou a fronteira alemã”. No dia seguinte, baseada nos informes obtidos pelo Blenheim de observação, uma força de ataque, integrada por bombardeiros Blenheim e Wellington, num total de 29 aviões, rumou para o porto de Wilhelmshaven. O tempo estava sumamente adverso. Durante a travessia, a formação se dispersou. Cinco Blenheims, contudo, alcançaram o alvo. Dois deles, que voavam na retaguarda, perderam contato com os outros. Os três aparelhos da frente, emergindo de entre as nuvens, avistaram o encouraçado alemão Admiral Graf von Scheer. O chefe da esquadrilha conseguiu dirigir o seu avião para o navio e em vôo rasante, lançou uma de suas bombas de 227 kg sobre a coberta. O projétil atingiu o alvo e, com a explosão, fez voar parte da superestrutura do encouraçado. A esse primeiro ataque seguiu-se outro, mais tarde, realizado por outros cinco Blenheims. Quatro desses aparelhos foram abatidos, aparentemente pela explosão de suas próprias bombas. Esta incursão foi a primeira que a RAF realizou. Não seria, contudo, a última. Os escassos bombardeiros daquela ação inicial seriam substituídos por inúmeras formações. Os bombardeiros, relativamente pequenos, se converteriam mais tarde, em gigantescos aparelhos. As bombas, que mal passavam de 200 kg, seriam substituídas por gigantescos projéteis de mais de 10.000 kg (Grand Slam). O número de projéteis, de poucas dezenas, passaria a milhares. O efeito dos bombardeiros iria aumentando gradativamente, até alcançar limites incríveis. A RAF responderia, assim, aos devastadores ataques alemães contra a Inglaterra. A primeira fase: Durante os primeiros meses da guerra, o comando de bombardeio da RAF concentrou os esforços dos seus aviões em torno da frota alemã que se encontrava no Mar Báltico. Nessas operações foram empregados os antiquados bimotores que a RAF possuía, na época. Esses aparelhos careciam de armamentos defensivos, eram lentos e levavam uma carga de bombas muito reduzida. Os ataques, portanto, não eram bastante eficientes. No transcurso de sucessivos reides, somente conseguiram afundar duas embarcações alemães, sofrendo a perda de 22 aviões. Simultaneamente, a RAF realizou operações de reconhecimento e de observação sobre o território alemão. Até esse momento a aviação britânica, tal como sua similar alemã, havia evitado realizar missões de bombardeio sobre objetivos não militares. Em sucessivos “ataques” contra o território metropolitano alemão, a frota de bombardeiros britânicos se limitou a lançar milhões de panfletos de propaganda antinazista. Na noite de 1 o de outubro de 1939, aviões ingleses sobrevoaram Berlim no cumprimento de uma dessas missões. Este foi o período das operações improvisadas, durante o qual a RAF não contou, em momento algum, com uma força de mais de 100 bombardeiros em operações. A 10 de maio de 1940, as forças alemães iniciam a penetração no território da Bélgica, Holanda e da França. A guerra passa então a uma segunda etapa. Termina a “guerra de mentira”. Encerram-se os amáveis diálogos entre alemães e franceses. Começa a ação. E junto com o estrépito das lagartas dos carros blindados alemães, ouve-se o rugir dos motores da aviação. A verdadeira guerra começara. No entanto, os objetivos civis ainda |
Estende-se a guerra aérea: Na manhã de 12 de agosto de 1940, a Luftwaffe iniciou uma série de ataques contra estações de radar localizadas na costa sul da Inglaterra. Começou assim, a “batalha aérea da Inglaterra”. Também na sua primeira fase, esta luta se limitaria aos alvos militares, porém a sua intensidade levou os alemães a estender as operações e bombardear, indiscriminadamente, cidades e centros industriais da Inglaterra. Na noite de 24 de agosto, 170 bombardeiros alemães se desviaram de sua rota por causa de um erro de navegação e lançaram suas bombas em pleno centro de Londres. A reação britânica foi imediata. Convencidos que o ataque fôra intencional, os ingleses enviaram uma força de 81 bombardeiros, na noite seguinte, com a missão de atacar Berlim. Esse ataque foi repetido em mais de duas oportunidades. Uma incursão contra Hamburgo completou o quadro dos ataques de represália realizados pela RAF. A guerra aérea começou assim a adquirir a violência que, passo a passo, chegaria a incríveis extremos: o do bombardeio indiscriminado, aterrorizador, sem objetivos concretos, mas apenas para desmoralizar o inimigo. Em fins de 1940, os alemães, após o fracasso de sua ofensiva aérea diurna, recorreram aos bombardeios noturnos, e efetuaram devastadores ataques com bombas incendiárias, contra Londres e outras cidades. Os ingleses, em seguida, replicaram, utilizando os mesmos métodos, com um primeiro ataque que teve por objetivo a cidade de Manheim, ainda que em escala muito menor. Enquanto isso a RAF havia desenvolvido novos tipos de aviões e contava com poderosos quadrimotores. A Luftwaffe, paralelamente, não dispunha de aparelhos desse tipo. O primeiro grande avião de bombardeio britânico utilizado foi o Stirling, empregado num ataque a objetivos militares na cidade de Roterdã, em fevereiro de 1941. Numa missão similar, objetivando o porto francês de Le Havre, atuaram pela primeira vez os quadrimotores Halifax. Ainda no ano de 1941, a RAF aumentou o poderio de suas bombas, utilizando projéteis de 2.000 kg; essas bombas foram lançadas sobre a cidade alemã de Endem. As operações tinham, cada vez maior alcance, numa réplica aos ataques alemães. Na noite de 8 para 9 de maio, a RAF avançou sobre o céu da Alemanha, com uma força de ataque de 500 bombardeiros, incursionando sobre Berlim, Bremen e Hamburgo. Noutro reide, efetuado na noite de 12 para 13 de junho sobre o Ruhr, os bombardeiros da RAF lançaram 400 toneladas de bombas (a maior quantidade até esse momento). Todas essas ações não eram mais do que o preâmbulo da grande ofensiva que se iniciaria a partir de 1942. Os Aliados planejam a ofensiva: Entre 23 de dezembro de 1941 e 14 de janeiro de 1942, Churchill e Roosevelt mantiveram, em Washington, a conferência na qual foram rebatizados a aprovados os primeiros planos destinados a levar a guerra aérea ao coração da Alemanha. Os líderes aliados consideraram que um bombardeio intenso e continuado contribuiria para criar as condições favoráveis de uma futura invasão do continente. Decidiu-se, portanto, enviar com urgência unidades de bombardeio americanas às bases britânicas. Essa medida, no entanto, por diversas razões de ordem técnica, não se pôde cumprir até meados de 1942. Outra decisão de grande importância foi a criação de um Estado-Maior combinado, integrado por representantes britânicos e americanos. No tocante à força aérea, os membros foram o Marechal Charles Portal, da RAF, e o General Arnold, da aviação americana. O comando combinado emitiu, a 8 de agosto de 1942, uma ordem para as operações de bombardeio diurno, que seria posta em prática pela 8 a Força Aérea americana, cujas unidades estavam se agrupando na Inglaterra. Nessa determinação ficaram palpáveis as diferenças entre os pontos de vista britânicos e americanos, no tocante à orientação da guerra aérea. Na verdade, ficava sem solução o principal problema que havia brotado entre ambos os aliados; isto é, a discussão surgida entre a técnica de bombardeio defendida pelos britânicos, de ataque noturno, em grandes formações, com bombardeio indiscriminado de grandes áreas, e a tática sustentada pelos americanos, de bombardeio diurno de precisão, sobre objetivos predeterminados, e com grande proteção de caças. Tampouco se conseguiu organizar um comando unificado. Decidiu-se, unicamente, nomear o Marechal britânico Portal, diretor do bombardeio estratégico, porém somente com poderes de coordenador. |
Durante o transcurso do ano de 1942, no entanto, a participação da 8 a Frota Aérea não teve relevância e foi puramente simbólica; na verdade, achava-se ainda em processo de formação e carecia de experiência e número suficiente de aparelhos. Harris assume o comando: A 22 de fevereiro de 1942, o Marechal-do-Ar Arthur Harris assumiu o comando de bombardeio da RAF, substituindo o Marechal Peirse. A designação deste chefe marcou uma etapa decisiva no desenvolvimento das operações aéreas contra a Alemanha. A essa altura, esse comando contava com apenas 69 quadrimotores de bombardeio. Harris, desde o primeiro instante, dedicou seus esforços a melhorar o material de vôo, substituindo os aviões antiquados por novas unidades, especialmente quadrimotores Halifax e Lancaster. Dez dias depois de sua nomeação, a 2 de março de 1942, foram incorporadas à força operativa as duas primeiras esquadrilhas de Lancaster, a 44 a e a 97 a . Na noite de 10 de março, dois Lancaster da 44 a Esquadrilha, participaram da sua primeira ação de guerra, bombardeando a cidade de Essen. Harris foi o principal propulsor da tática de bombardeio maciço das grandes cidades e centros industriais. Esse tipo de bombardeio, denominado “de alfombra”, causaria, com o tempo, a devastação de enormes zonas povoadas e o extermínio de grandes setores da população civil; arrasaria também com grande parte da indústria alemã. O novo chefe dedicou os seus esforços, paralelamente, a aperfeiçoar a técnica de bombardeio noturno, principalmente no que se refere à orientação e identificação dos objetivos; para isso, nos primeiros momentos, contou com o sistema denominado GEE baseado nas emissões de rádio de uma estação emissora principal e duas secundárias; na interseção das ondas emitidas, o avião determinava sua posição. A falta de aparelhos aplicáveis aos sistema GEE fez com que Harris determinasse a sua instalação em alguns aviões, e que estes servissem de guias ao resto das formações; o sinal de “objetivo localizado” seria dado pelos aeroplanos guias com projéteis luminosos. A fim de comprovar a eficiência do sistema, realizaram-se experiências na ilha de Man, na Inglaterra, na noite de 13 de fevereiro de 1942. Seus aviões equipados com aparelhos GEE adiantaram-se ao resto da força de bombardeio e, efetuando passagens sobre o alvo, lançaram bengalas luminosas. Esta primeira experiência não deu resultados favoráveis por falhas em uma das emissoras terrestres. Realizou-se um segundo exercício, dias depois, que alcançou pleno êxito. Os britânicos decidiram, então, utilizar o sistema regularmente. Na noite de 8 para 9 de março, uma força de bombardeiros guiada pelo sistema GEE atacou a cidade de Essen, no Ruhr. A operação não teve êxito, pois a força bombardeira atrasou-se e, ao chegar sobre o alvo, já se haviam apagado as bengalas lançadas pelos aviões de sinalização. Na noite seguinte repetiu-se a incursão, porém com uma diferença: para a sinalização não foram utilizadas bengalas, mas sim bombas incendiárias. O ataque não teve o êxito esperado, porém facilitou a concentração dos aviões incursores, e o seu posterior regresso às bases. Na noite de 29 para 30 de março a RAF voltou a empregar o sistema GEE, num ataque realizado contra o porto de Lubeck. Participaram da ação 234 bombardeiros. Os aviões de sinalização adiantaram-se da força principal, identificaram o objetivo, e aguardaram a chegada dos bombardeiros, para efetuar a sinalização. O resultado foi plenamente satisfatório. Em três horas, a formação britânica lançou 160 toneladas de bombas explosivas e incendiárias e arrasou 14 hectares de edifícios. A seguir, os britânicos realizaram um violento reide contra a cidade de Rostock. Em duas noites consecutivas, uma força de ataque integrada por 521 aviões lançou uma chuva de bombas explosivas e incendiárias e destruíram o centro da cidade. Esse foi o primeiro ataque que igualou em intensidade e danos aos efetuados pela Luftwaffe contra Coventry. Como salientou um oficial da RAF, “É o começo do nosso domínio da terrível ciência de destruir uma cidade por meio do fogo”. |
O ataque a Augsburgo: No mês de abril de 1942, ante as alarmantes perdas sofridas pela navegação aliada em virtude dos contínuos ataques dos submarinos alemães, Churchill ordenou ao Marechal Harris que organizasse uma ação aérea destinada a golpear a indústria de submarinos. Harris emitiu imediatamente a ordem para selecionar um objetivo, cuja destruição causasse uma substancial redução na fabricação de submersíveis. A escolha recaiu na grande fábrica de motores Diesel Mann, situada na cidade de Augsburgo, no extremo sul da Alemanha. Esse ataque exigia uma grande precisão e nisso residia seu grande obstáculo. Não poderia ser realizado de noite; portanto, obrigaria os aparelhos britânicos a expor-se ao mortífero fogo dos caças alemães. Isso era particularmente perigoso, pois, dada a grande distância a percorrer (quase 1.000 km), os bombardeiros não podiam contar com a proteção dos caças. Harris, contudo, acreditava que o novo quadrimotor Lancaster, por causa de seu poderoso armamento e sua velocidade relativamente elevada, poderia realizar a incursão em condições moderadamente seguras. O principal perigo que as formações deveriam enfrentar era representada pelas numerosas esquadrilhas de caças alemães, estacionadas na região do Canal da Mancha. Contava-se, contudo, distrair a defesa alemã, realizando, paralelamente, uma operação simulada, o que permitiria aos Lancaster penetrar no interior da Alemanha, cruzando a costa a baixa altura, e escapando assim, à detecção possível por parte da defesa. Planejou-se ainda realizar o ataque nas horas do entardecer, com o objetivo de que a viagem de regresso pudesse ser amparada pela escuridão da noite. Para cumprir a missão, foram selecionados 14 aviões Lancaster, pertencentes às esquadrilhas 44 a e 97 a . Desses, dois aparelhos seriam mantidos na reserva, para substituir eventualmente os aviões que não pudessem decolar. O ataque, portanto, seria realizado por 12 aviões, divididos em quatro setores de três aparelhos cada um. A partir de 14 de abril iniciou-se o treinamento das tripulações, sem determinar qual seria o objetivo a atingir. Os Lancaster realizaram vôos sobre a Inglaterra e a Escócia, a baixa altura, cobrindo uma distância de cerca de 2.000 km. No dia 17 de abril, às 11 horas da manhã, as tripulações foram reunidas nos seus comandos e receberam comunicação dos detalhes do reide. A formação levantaria vôo às 15 horas, e alcançaria o objetivo por volta das 20h15, durante o anoitecer, porém ainda com suficiente luz natural. Rumo ao objetivo: Na hora fixada, os Lancaster, divididos em dois grupos de seis aparelhos cada um, comandados respectivamente pelos Esquadron Leader John Nettleton e Sherwood, levantaram vôo de duas bases no sul da Inglaterra. Separados por uma distância de alguns quilômetros, os dois grupos atravessaram o Canal da Mancha e penetraram em território francês, voando a poucas dezenas de metros do solo. Paralelamente, trinta aviões Boston partiram numa ação de despistamento. A bordo dos Lancaster as tripulações observavam, impacientes, o horizonte. Os pilotos, rigidamente sentados diante dos seus visores, apertavam com mão firme os comandos e pressionavam lentamente os aceleradores. Os metralhadores, com suas armas prontas, faziam- nas oscilar sobre os suportes. Os radioperadores, tensos, percorriam a faixa, em busca de emissões aliadas ou inimigas. A terra, passando velozmente sob os aviões, apenas permitia entrever algumas casas, colinas e bosques. Os camponeses, surpresos com a rápida aparição, somente conseguiam divisar a causa dos aviões já desaparecendo atrás dos bosques vizinhos. Algumas baterias antiaéreas, alertadas, abriram fogo ao acaso. Dois dos aviões atingidos pelos disparos sofreram danos. O êxito não acompanhou, no entanto, os incursores. Com efeito, duas esquadrilhas de caças alemães, que regressavam às suas bases após interceptar os bombardeiros Boston, cruzaram com a formação comandada por Nettleton. Os Me 109 e os Fw 190 travaram combate com os aviões britânicos, mantendo-os fora do alcance das metralhadoras dos bombardeiros. Os Lancaster, tratando de escapar ao ataque, desceram ainda mais e acelerando ao máximo os seus motores. Os caças alemães os acossavam e disparavam sem cessar as suas armas. Um dos Lancaster, de repente, envolto em fumaça, perdeu altura. Uma horrível explosão marcou o instante em que se chocou contra o solo. Outro, com uma asa incendiada, viu-se obrigado a aterrissar num campo de trigo, sendo em seguida, destruído pela sua tripulação. Segundos depois, um terceiro avião, com a fuselagem crivada de balas inimigas, e os quatro motores em chamas, precipitou-se à terra, destroçando-se. Restavam em vôo apenas três aviões. Um deles, atingido pelos disparos alemães, também caiu envolto em chamas, roçando na sua queda, os dois aparelhos restantes. Nesse momento, os caças alemães tiveram que abandonar a luta, por falta de combustível. Os dois Lancaster, apesar de avariados, mantiveram o rumo e prosseguiram o vôo para o objetivo. A formação comandada por Sherwood, em troca, sem encontrar nenhuma oposição, continuava em vôo para Augsburg. |
A formação liderada por Sherwood, por sua vez, atacou em seguida. Os aviões lançaram suas bombas sobre o alvo, apesar da encarniçada oposição da artilharia antiaérea alemã. Dois aviões foram derrubados, entre eles o que comandava Sherwood, que, milagrosamente, salvou a sua vida. A tripulação do seu aparelho, entretanto, pereceu carbonizada. O reide, em que pesem as baixas sofridas, havia alcançado êxito. A produção das fábricas Mann não foi interrompida totalmente, porém a destruição causada pelas bombas, nas seções de montagem e nos bancos de provas, impediram, durante seis meses que o trabalho se realizasse com o ritmo normal. Mil aviões atacam Colônia: Em meados de 1942, o Marechal Harris programou a realização de uma série de gigantescos ataques contra as cidades alemães. A primeira dessas operações, batizada com o nome de Milênio, teria Colônia por objetivo. A incursão serviria para por em prática os métodos táticos elaborados por Harris e seus colaboradores. Previam eles a concentração de uma vasta força de cerca de mil aparelhos que, em ininterrupta corrente, sobrevoariam o alvo num período breve, lançando um verdadeiro dilúvio de bombas. O sistema permitia supor que a defesa antiaérea inimiga seria desorganizada pela intensidade do ataque, e que se alcançaria um máximo de destruição com um mínimo de perdas. A tática podia resumir-se numa frase: “Golpear o mais forte possível, no mais curto espaço de tempo”. Na noite de 30 de maio de 1942, em centenas de aeródromos do sul da Inglaterra, uma gigantesca frota aérea começou os preparativos para decolar. O mundo haveria de ter conhecimento, brevemente, do mais extraordinário bombardeio aéreo jamais realizado. Ao todo, 1.047 aviões estavam prontos para partir. Deles, 337 pertenciam ao comando de bombardeio, 336 ao comando de treinamento, 250 às escolas de transformação, 39 ao comando de caça, 15 ao comando de cooperação, e 40 a outras unidades menores. Harris, conseguira reunir uma massa de aviões, nunca vista até esse dia. A experiência, única, conseguira concentrar a maior parte dos aparelhos ingleses disponíveis. Atravessando as defesas alemães, e semeando o caos nas guarnições antiaéreas inimigas, a imensa formação britânica internou-se em território alemão. O objetivo foi alcançado por 900 aviões que, apesar da formidável defesa antiaérea, que incluía mais de 500 canhões de todos os tipos e 120 refletores, além de várias esquadrilhas de caças noturnos, realizaram, sem maiores contratempos, sua mortífera tarefa. Sobrevoando a cidade à razão de 10 aviões por minuto, lançaram 1.445 toneladas de bombas explosivas e incendiárias em 90 minutos. Atingiu-se assim, uma concentração de fogo de 17.5 toneladas por minuto, e 30% dos projéteis lançados caíram sobre a cidade. Gigantescos incêndios se prolongaram até cinco dias depois do ataque. Mais de um terço da cidade foi devastado. 250 fábricas ficaram totalmente destruídas. 10.000 pessoas morreram e mais de 50.000 perderam seus lares. A RAF, por sua vez, perdeu apenas 37 aviões e 260 homens. Isso representava apenas 3.3% da força empregada. A teoria de Harris estava provada. Os terríveis efeitos do bombardeio comprovaram a sua exatidão. Iniciava-se assim a destruição da Alemanha pelo ar. |
A última operação desse tipo teve lugar na noite de 25 para 26 de junho, quando se efetuou o bombardeio do porto de Bremen. Os caças alemães noturnos conseguiram, desta vez, cumprir uma eficiente tarefa de interceptação. Dos mil bombardeiros atacantes, 57 foram derrubados. A porcentagem foi considerada, nos meios britânicos, como muito elevada, dada a difícil reposição dos aparelhos perdidos. Após a execução dos três reides citados, que haviam requerido um grande esforço da RAF, sobreveio uma pausa. Durante o resto do ano apenas se realizaram operações de menor importância, nas quais se empregaram poucos aviões (em redor de uma centena). Contudo, a experiência adquirida capacitava a RAF a desenvolver novas técnicas de bombardeio; efetivamente, isso ocorreria mais tarde. Anexo Arthur Harris: Sólido, forte, de temperamento firme, Harris aparece como a verdadeira imagem do lutador indomável. Filho de um funcionário inglês, muito jovem viaja para a África do Sul, onde se dedica à busca do ouro. Ao começar a Primeira Guerra Mundial, alista-se como corneteiro; ao término da campanha, volta à Inglaterra e ingressa na aviação, como tenente. Depois da guerra, tomou parte, sempre como aviador, na repressão de revoltas ocorridas nas colônias. Regressa mais tarde à Inglaterra e se incorpora à Escola de Guerra. É designado para o Ministério do Ar e, em 1938, assume a direção do Comando de Bombardeiros. Quando estoura a Segunda Guerra Mundial, é chefe do 5 o Grupo de bombardeio. Em fevereiro de 1942, com a idade de 49 anos, é elevado a marechal e encarregado do comando geral da aviação de bombardeio estratégico. Ao assumir o posto, Harris depara com uma força que possui ao todo 69 aviões de bombardeio pesado. A partir desse momento, Harris luta incansavelmente para obter mais e melhores aviões. Os Witley passam a atuar como aviões de transporte, os Blenheim são substituídos por Boston; os Manchester permanecem ainda em serviço, os Stirling, Halifax e Lancaster em desenvolvimento e aperfeiçoamento, são a sua principal preocupação. Sob a direção de Harris, o Comando de Bombardeio vê crescer seus efetivos da seguinte maneira: em 1942, consegue formar 23 esquadrões novos; até dezembro de 1942 o total de bombardeiros alcança 261 aviões; em 1943, se eleva a 570; durante 1944 os aviões totalizam 1.119 pesados e 97 leves. A partir de 1943, o Lancaster constitui o principal avião de bombardeio das formações inglesas, seguido pelo Halifax. Durante o curso da guerra, a indústria britânica chegou a construir 9.000 Lancaster e 6.000 Halifax. Em todos esses setores Harris foi o cérebro motor da evolução e desenvolvimento dos bombardeiros. A ele, e à sua luta permanente, deveu-se o ímpeto com que a aviação de bombardeio atacou a Alemanha. A ele também se devem as novas táticas de bombardeio “de alfombra”. Harris permaneceu no seu cargo durante toda a guerra, até o final. Plano de ataque: O comando combinado do Estado-Maior aliado, integrado por chefes militares britânicos e americanos, emitiu, a 8 de dezembro de 1942, a seguinte determinação para o bombardeio diurno da Alemanha, a ser efetuado pela 8 a Força Aérea americana. Propósito: 1. O propósito do bombardeio diurno das Forças Aéreas aliadas com base na Inglaterra é alcançar a continuidade da ofensiva de bombardeio contra as potências do Eixo. Determinação de responsabilidades: 2. O instrumento responsável pelo bombardeio aéreo noturno é o Comando de Bombardeio britânico. O bombardeio diurno terá responsabilidade direta da 8 a Força Aérea americana. Métodos para atingir o propósito: 3. Os métodos de bombardeio noturno permanecerão na forma definida pela orientação atual do Ministério do Ar ao Comando de Bombardeio britânico. O método para realizar o propósito de bombardeio diurno visa a destruição dos objetivos de precisão, vitais para o esforço de guerra das potências do Eixo. Desenvolvimento da ofensiva diurna: 4. A ofensiva de bombardeio diurna será desenvolvida nas seguintes três fases: a - fase I: As forças americanas de bombardeio diurno, sob a proteção de caças britânicos (reforçados pelas forças de caças dos EUA) atacarão os objetivos adequados, dentro do raio de ação da cobertura britânica dos aviões de caça. b - fase II: As forças dos EUA de bombardeio diurno, sob a proteção de caças americanos e britânicos, atacarão os objetivos apropriados dentro do raio de ação dos tipos de caças dos EUA e britânicos. Nesta fase, a proteção direta das formações de bombardeio, será proporcionada pela força americana de caça. As forças britânicas de caça serão empregadas, |
c - fase III: A 8 a Força Aérea desenvolverá sua ofensiva diurna recebendo o apoio e a colaboração que possa requerer da força britânica de curto alcance. A caça alemã noturna: Por volta de 1940 apareceu uma nova técnica de combater na aviação alemã: a caça noturna. Essa nova tática foi considerada pelos pilotos de caça como muito insegura. Os aviadores estavam acostumados a lutar de dia, visualizando o objetivo. De noite, ao contrário, seria difícil ou impossível localizar o inimigo. Além disso, o piloto sentia uma apreensão constante ao ter que aterrissar em campos mal iluminados, no meio da obscuridade. Chegou-se ao extremo de não encontrar, nos primeiros tempo, nenhum voluntário para as primeiras missões noturnas. A escuridão para o combate, oferecia perigos de todos os tipos. No princípio, Goering determinou pessoalmente que os pilotos escolhessem o tipo de caça a que se dedicariam, diurna ou noturna. Porém o acaso interveio e inclinou muito para o trabalho noturno. Efetivamente, o Coronel Streib, um dos ases alemães, recebeu a Cruz de Ferro em virtude de suas vitórias noturnas (um avião inimigo derrubado em cada missão). Muitos, então, quiseram imitar suas façanhas. A vida do piloto de caça noturna era sumamente dura. Freqüentemente o aviador precisava ficar dando voltas e voltas, durante longo tempo, sem que tivesse a oportunidade de encontrar o inimigo. Depois, se o aparelho incursor não era derrubado com as primeiras rajadas de metralhadora, o piloto devia travar um verdadeiro duelo aéreo, em plena escuridão. Isso requeria nervos de aço, físico privilegiado e boa sorte... O desenvolvimento e aperfeiçoamento do caça noturno resultou na criação de uma arma altamente especializada e, portanto, na de um grupo de homens que pertenciam a uma “elite”. Nem todos eram capazes de integrar-se nelas. Deu- se mesmo o caso de excelentes pilotos que fracassaram na caça noturna, e, paralelamente, pilotos medíocres que, voando de noite, alcançaram a categoria de ases. Muitos fatores, conhecidos e desconhecidos, influíam para que tal fato acontecesse. Um dos heróis da caça noturna foi o tenente alemão Lent. O jovem oficial, depois de haver realizado 35 saídas sem haver localizado um só avião inimigo, solicitou licença, convencido de seu fracasso. Incitado a ficar até completar 50 missões, e autorizado a abandonar a arma depois, se assim o desejasse, permaneceu nela e foi abatido, quando já havia obtido 107 vitórias. Visão de um ataque: Relato feito pelo Tenente Hector Hawton, da Real Força Aérea Britânica: “Os pilotos que tomaram parte nesses ataques gigantescos nunca deixaram de impressionar-se com a violência deles. Ao chegar sobre a área determinada, inicia-se o lançamento dos cartuchos de iluminação; se a visibilidade é muito boa, a cidade condenada à destruição parece uma miniatura de brinquedo. É claro que as bombas antiaéreas estouram e numerosos refletores esquadrinham os céus na esperança de iluminar um atacante. O resplendor dos fogos e dos refletores é de fazer cegar. Tudo parece fantástico, irreal; os dedos de luz que buscam entre as trevas, e os fogos artificiais, constituem um espetáculo macabro, tanto em terra como nas alturas. Há uma pausa angustiante, à medida que a grande força de ataque dá voltas sobre a cidade. Na terra, o bramido de centenas de bombardeiros quadrimotores e o estrondo das baterias antiaéreas são ensurdecedores. “De repente, há um ruído que supera todos os demais. O próprio céu parece sacudido por súbita e catastrófica explosão, cada vez que os pilotos, impacientes, se lançam com seus aparelhos, como uma manada de lobos sobre a sua presa. Um dilúvio de bombas incendiárias e altos explosivos se precipita para baixo. Um anel de incêndios se ergue dos pontos visados. As explosões, visivelmente, parecem fazer a cidade voar pelos ares. “Dez, 20, talvez 50 toneladas de bombas por minuto, caem, silvando, dentro daquele inferno criado pelos homens”. A defesa alemã: Os caças noturnos alemães combatiam segundo normas sumamente rígidas. Em primeiro lugar, cada avião tinha uma zona designada, com limites perfeitamente determinados, a que devia se restringir. Ainda mais, caso se encontrasse combatendo ou perseguindo um adversário, o caça devia girar e abandonar o inimigo se chegasse nos limites estabelecidos. Em terra, um oficial seguia seus movimentos e lhe indicava a sua posição, altura que devia vigiar e a direção que devia seguir. Se o inimigo não se encontrava à vista, o caça devia voar ao redor de uma baliza, visível do alto, que indicava o centro da zona a ele designada. O avião, nesses momentos, voava por meio de comando automático, para evitar a fadiga do piloto. Em terra, o avião inimigo aparecia nas telas como um pequeno ponto vermelho. O caça alemão por sua vez, era visível como um pontinho verde. Quando ambos os pontos se tocavam, o piloto emitia um sinal: “Pauke! Pauke!” que significava que o inimigo estava próximo. A distância que mantinha com o aparelho inimigo, contudo, era de uns 400 metros, até certificar-se dos dados que lhe eram comunicados de terra. Depois se aproximava até uns 100 metros e abria fogo, principalmente contra os motores. Durante o combate, o oficial de terra permanecia em silêncio, porém observando as evoluções sobre a sua tela. Assim, se o caça perdia contato, da terra se poderia indicar-lhe a posição do |
O êxito dos caças alemães foi, na realidade, o êxito de uma equipe. Viagem ao inferno: O Sargento-Aviador Campbell, relata suas impressões do reide realizado contra Colônia, na noite de 30 de maio de 1942. “A princípio lentamente, nosso grande Halifax, com sua carga de bombas, avança pelo asfalto da pista, cujas laterais são iluminadas por lâmpadas de petróleo. Ganhamos velocidade, até uma tal rapidez que as luzes das lâmpadas passam a constituir uma linha de fogo. De súbito, o avião se ergue do solo e começa a subir. Keith, o comandante, faz o aparelho dar uma volta e continuar subindo. “Àquela noite tínhamos um tempo ideal. No momento em que sobrevoávamos a linha costeira do continente, acabava de sair a Lua. Muito ao longe, diante de nós, divisávamos um pálido reflexo rosado, porém não lhe prestei muita atenção no princípio. Lá embaixo, os alemães, nos buscavam com seus refletores, procurando localizar-nos e disparando com sua artilharia antiaérea, sem nos atingir, porém. O reflexo rosado começou a se acentuar cada vez mais. De repente, percebi que aquele brilho estranho era o nosso objetivo. Colônia já estava em chamas. Nossos primeiros grupos haviam já alcançado o alvo e lançado as bombas. Olhei para a popa, procurando localizar os outros aparelhos, mas não me foi possível. Porém vi algo muito mais importante. A região sobre a qual voávamos, estava agitada pelo fogo antiaéreo, e pelas luzes dos refletores. Era como se alguém tivesse apertado um botão e soltado tudo o que os alemães possuíam para combater os nossos aviões”. “Antes que nos déssemos conta, estávamos sobre Colônia. Era um quadro impressionante. A cidade inteira parecia uma imensa fornalha. Por toda parte viam-se incêndios estendendo-se à direita e à esquerda, unindo-se uns com os outros, e tingindo o nosso avião com o vermelho do seu clarão. Os alemães atiravam com tudo o que tinham. O fogo antiaéreo era terrível. À nossa volta explodiam projéteis, lançados pelas baterias, exigidas ao máximo. Porém, aquela noite, nem prestávamos muita atenção aos artilheiros de terra. Havia tantos aviões sobre Colônia, que os defensores, evidentemente, não podiam concentrar o fogo sobre nenhum em particular. Tudo o que faziam era continuar atirando para o céu. Uma, ou duas vezes, as granadas alemães explodiram bem perto, debaixo de nós, porém sem causar maiores danos que alguns arranhões num dos ailerons. Ouvíamos a explosão das granadas, apesar do ruído, dos nossos quatro motores. Soavam como pancadas em grandes portas de ferro. “Havia tantos incêndios que tivemos que voar umas três ou quatro vezes em torno da cidade, à procura de focos escuros, setores que não estivessem em chamas. Numa das voltas fomos apanhados por um facho de luz dos refletores. Os alemães nos seguiram com suas luzes e os artilheiros procuravam ajustar nossa distância para nos acertar. O comandante, através de curvas rápidas e manobras evasivas, conseguiu finalmente escapar. “Depois que lançamos nossas bombas, empreendemos o regresso. Havíamos estado apenas 20 minutos sobre Colônia, mas a nós parecera uma eternidade”. Baterias antiaéreas: Para defender o seu território dos devastadores ataques da aviação de bombardeio aliada, os alemães organizaram uma poderosa defesa antiaérea. No começo da guerra só contavam com 6.500 canhões pesados antiaéreos, porém, com a intensificação dos ataques, essa cifra subiu, até alcançar, em 1945, o número de 15.000. dispunham também, nesse ano, de 25.000 peças de artilharia antiaérea leves, 7.000 refletores e 2.500 balões controláveis. A defesa dos principais objetivos foi a seguinte: Berlim, 800 canhões pesados; Hamburgo, 400; Colônia, 500; Zona do Ruhr, 1.000; Brest, 270; Ploesti, 250. A estas armas somavam-se o uso de cortinas de fumaça e névoa artificial, hábeis camuflagens, fábricas e até localidades inteiras dissimuladas. Nesse trabalho utilizou-se cerca de um milhão e meio de homens e mulheres. A ofensiva aérea: Operações realizadas contra a Alemanha durante a Segunda Guerra Mundial Aviação americana RAF Bombas lançadas (t) 1.461.854 1.235.609 Ataques de caças 991.750 1.695.049 Ataques de bombardeiros 754.818 687.462 Aviões de caça perdidos 8.420 10.045 Aviões de bombardeio perdidos 9.949 11.965 Mortos em ação 79.265 79.281 Aviões inimigos destruídos 35.783 21.622 |
Força de aviões de bombardeio (1945) Força de aviões de caça (1945) Pessoal efetivo 7.177 6.203 619.020 6.956 7.728 718.628 |
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