quarta-feira, 19 de julho de 2023

Segunda Guerra Mundial - 1939 A Ofensiva Alemã no Mar

 

Luta  no  Mar
A  ofensiva  alemã  no  mar
Guerra  Submarina:  A  Batalha  do  Atlântico

Quando  a  Primeira  Guerra  Mundial  chegou  ao  fim,  em  1918,  as  potências  participantes  assinaram  o  Tratado de  Versalhes.  Suas  cláusulas  estabeleciam  as  limitações  que  restringiam  a  Alemanha,  como  potência vencida,  no  campo  das  forças  armadas.

A  Marinha  de  Guerra  alemã,  em  particular,  foi  reduzida,  em  número  de  unidades  e  tonelagem,  a  uma  força puramente  simbólica.  A  Alemanha,  pela  convenção,  ficava  autorizada  a  integrar  sua  potência  naval  com  a seguintes  unidades:  Couraçados:  Seis  de  10.000  toneladas,  com  canhões  de  280  mm;  Cruzadores:  Seis  de 6.000  toneladas,  com  canhões  de  150  mm;  Torpedeiros:  12  de  800  toneladas;  Porta-aviões:  nenhum  e Submarinos:  nenhum.

Depois  da  ascensão  de  Hitler  ao  poder,  em  1933,  a  Marinha  de  Guerra  Alemã,  sob  a  orientação  do  Almirante Raeder,  iniciou  u  programa  de  construções  navais,  a  fim  de  reforçar  rapidamente  o  seu  poderio.  Entre  os novos  barcos  em  construção,  estavam  os  cruzadores  de  guerra  Scharnhorst  e  Gneisenau,  cujas  características (26.000  toneladas  de  deslocamento)  superavam  os  limites  autorizados  pelo  Tratado  de  Versalhes.  O Almirantado  Britânico,  ao  tomar  conhecimento  do  fato,  que  implicava  numa  violação  do  acordo  citado, resolveu  solicitar  do  seu  governo  a  assinatura  de  um  acordo  com  a  Alemanha,  tendente  a  impedir  o  perigoso crescimento  da  frota  alemã.  Aprovada  a  sugestão,  o  governo  britânico  iniciou  as  negociações,  sem  informar previamente  a  França,  nem  a  Liga  das  nações.  Essa  atitude  teria  graves  conseqüências,  pois,  como  assinalou Winston  Churchill,  “no  mesmo  momento  em  que  eles  (o  governo  britânico)  apelavam  para  a  Liga, solicitando  o  apoio  dos  seus  membros  a  um  protesto  contra  as  violações  de  Hitler  das  cláusulas  militares  do Tratado,  por  um  acordo  separado  passavam  por  cima  das  cláusulas  navais  do  mesmo  tratado”.  Com  efeito: em  junho  de  1935,  pelo  Tratado  Naval  de  Londres,  a  Alemanha  poderia  aumentar  a  sua  frota  de  guerra  até um  total  de  425.000  toneladas,  assim  discriminadas:  Encouraçados:  184.000  toneladas;  Cruzadores  pesados 51.000  toneladas;  Cruzadores  leves:  67.000  toneladas;  Porta-aviões:  47.000  toneladas;  Destróieres:  52.000 toneladas  e  Submarinos:  24.000  toneladas.

Deve-se  destacar  que,  no  tocante  à  frota  submarina,  a  tonelagem  total  deveria  consistir  em  45%  da correspondente,  na  frota  britânica.  Podia  contudo,  baseada  numa  cláusula  que  estipulava  a  aparição  de  “uma emergência  que  tornasse  necessário”  elevar  essa  percentagem  (45%)  até  100%;  isto  é,  igualar  a  frota submarina  alemã  à  britânica.  Esta  cláusula,  que  subentendia  uma  inexplicável  concessão,  permitiu  aos alemães  lançar  as  bases  de  uma  frota  submarina  que  causaria  perdas  devastadoras  às  nações  aliadas.  Tal  fato foi  logo  compreendido  pelo  Almirante  Raeder  que,  nua  conferência  realizada  meses  antes  com  Hitler, manifestou-lhe:  -  A  chave  do  poderio  marítimo  alemão  está  debaixo  da  superfície.  Dêem-me  submarinos  e teremos  dentes  para  atacar...

Ao  receber  o  Fuhrer  o  telegrama  de  Ribbentrop,  anunciando  o  novo  tratado  naval,  mandou  chamar  Raeder  e, entregando-lhe  a  mensagem,  disse:  -  Aqui  tem  os  seus  dentes...

Nasce  a  frota  submarina:

Apenas  Raeder  teve  em  suas  mãos  a  autorização  de  Hitler,  tomou  as  medidas  necessárias  para  organizar  a nova  frota  de  submarinos.  Encomendou  essa  tarefa  ao  Capitão-de-Fragata  Karl  Doenitz,  que  havia  sido  um dos  mais  brilhantes  comandantes  de  submarinos  da  Primeira  Guerra  Mundial.  Doenitz  estabeleceu  o  centro de  treinamento  da  nova  força  na  base  naval  de  Kiel  e,  antes  de  terminar  o  ano  de  1935,  a  nova  escola  estava em  condições  de  receber  os  novos  aspirantes  a  tripulantes  de  submarinos.  Nesse  ano,  além  disso,  levou-se  a cabo  a  construção  dos  primeiros  submarinos.  Vinte  deles  pertenciam  ao  chamado  “Tipo  II”,  de  250  toneladas de  deslocamento,  muito  pequenos,  e  aptos  para  operar  em  águas  próximas  da  costa.  Por  suas  características, forem  denominados  “pirogas”.  Além  desses,  haviam  sido  construídos  quatro  submarinos  oceânicos  do  “Tipo VII”  de  500  toneladas,  que  constituíam  as  primeiras  unidades  da  que,  mais  tarde,  seria  a  principal  arma  de combate  submarina.

 

Doenitz,  que  desde  o  primeiro  momento  predisse  que  a  Alemanha  teria  que  enfrentar  a  Inglaterra  no  mar,  foi um  decidido  promotor  do  desenvolvimento  acelerado  da  frota  submarina;  especialmente  das  unidades  “Tipo VII”,  que  estavam  em  condições  de  operar  contra  as  linhas  de  abastecimentos,  no  Atlântico.  Em  meados  de 1938,  a  frota  de  submarinos,  com  quase  40  unidades  em  ação,  havia  alcançado  os  45%  estipulados  no Acordo  Naval  de  Londres.  Nessa  época,  Raeder  constitui  um  grupo  de  estudos  para  equacionar  os  possíveis problemas  e  soluções  a  aplicar  numa  guerra  futura  com  a  Inglaterra.  Elaboraram-se  dois  planos  diferentes: um  deles  previa  a  concentração  dos  esforços  bélicos  em  torno  do  tráfego  mercante,  utilizando  submarinos  e encouraçados;  o  outro  propunha  a  organização  de  uma  frota  mais  numerosa,  com  poderosas  unidades  de superfície,  que  não  somente  seria  empregada  no  ataque  da  navegação  mercante,  mas  que  também  estaria  em condições  de  combater  as  naves  de  guerra  inimigas.  Este  último  recebeu  a  denominação  de  “Plano  Z”  e  foi adotado  por  Hitler.  O  Fuhrer,  ao  anunciar  a  Raeder  a  aprovação  do  plano,  lhe  comunicou  que,  de  acordo, com  seus  projetos,  a  frota  não  seria  necessária  antes  de  1946.  Havia,  portanto,  tempo  suficiente  para  terminar as  construções.  O  “Plano  Z”  previa  a  formação  de  uma  frota  integrada  pelos  seguintes  navios:  10  super- encouraçados  de  50.000  t;  12  encouraçados  de  20.000  t;  3  encouraçados  de  10.000  t;  4  porta-aviões  de 20.000  t;  5  cruzadores  pesados,  44  cruzadores  leves,  458  destróieres,  torpedeiros,  caça-minas,  etc.  e  249 submarinos,  de  todos  os  tipos.

Diante  da  magnitude  do  plano,  o  Almirante  Raeder  emitiu  ordens  para  que  se  desse  primazia  aos encouraçados  e  submarinos;  aqueles,  por  serem  os  navios  cuja  construção  demandaria  mais  tempo;  os segundos,  porque  segundo  suas  palavras  “representavam  o  único  meio  eficiente  de  ataque  no  período  de nossa  debilidade”.

Os  objetivos  do  “Plano  Z”  não  estavam  de  acordo,  com  os  pontos  de  vista  de  Doenitz,  que  se  convencera  de que  a  Inglaterra  não  permaneceria  indiferente  ante  a  construção  de  uma  frota  de  tamanha  amplitude.  Para Doentiz,  portanto,  era  necessário  incrementar,  com  maior  celeridade  possível  a  frota  submarina.  De  acordo com  seus  cálculos,  somente  com  um  mínimo  de  300  naves  desse  tipo  a  Alemanha  poderia  operar  com  êxito contra  a  navegação  mercante  britânica.

Nas  manobras  realizadas  no  verão  de  1939,  Doenitz  conseguiu  finalmente  convencer  Raeder  da  necessidade de  aumentar  o  poderio  submarino.  Este  último,  então  autorizou  a  elevar  para  300  o  número  de  submersíveis previstos  no  “Plano  Z”.  A  decisão,  contudo,  chegou  muito  tarde.  Ao  explodirem  as  hostilidades,  a  Alemanha contava  com  apenas  57  submarinos  em  operações.

19  de  agosto  de  1939:

Ao  cair  da  noite  de  19  de  agosto,  o  Almirante  Raeder  recebeu  um  importantíssimo  chamado:  Hitler  requeria a  sua  presença.  Diante  do  Fuhrer,  o  almirante  foi  notificado,  intempestivamente,  do  iminente  início  das hostilidades  contra  a  Polônia.  Com  efeito,  Hitler  acabava  de  receber  do  seu  embaixador  em  Moscou  um telegrama  que  lhe  comunicava  que  Stalin  havia  aceito  a  realização  de  um  pacto  com  a  Alemanha.  Esse acordo  deixava  o  Fuhrer  de  mãos  livres  para  levar  adiante  seus  planos  de  conquista  na  Polônia  e  enfrentar, além  disso,  a  possível  reação  da  França  e  da  Inglaterra.  De  acordo  com  os  planos    previstos,  Raeder ordenou  imediatamente  que  a  frota  de  submarinos  abandonasse,  sem  tardar,  as  suas  bases  e  se  situasse  nos pontos  prefixados,  nas  rotas  de  navegação,  do  Atlântico  e  do  Mar  do  Norte.  Os  encouraçados  Graf  von  Spee e  Deutschland  também  se  fizeram  ao  mar,  com  o  mesmo  objetivo.  Na  mesma  noite  de  19,  17  submarinos  do novo  modelo  IX,  de  grande  raio  de  ação,  abandonaram  suas  bases  e  rumaram  para  as  águas  do  Atlântico, entre  o  sul  da  Irlanda  e  Gibraltar.  Dias  mais  tarde,  a  27  de  agosto,  6  submarinos  de  ataque  costeiro  situaram- se  no  mar  do  Norte.  A  estas  unidades  logo  se  somaram  outras  10,  que,  vindo  do  oeste,  armaram  um  cerco  em torno  das  ilhas  britânicas.

Na  manhã  de  30  de  setembro,  6  submarinos  do  tipo  VII,  postaram-se  em  posições  estratégicas,  entre  as  ilhas Orcadas  e  a  Islândia.  Enquanto  essas  unidades  de  guerra  permaneciam  no  mar,  em  seus  postos  de  ataque,  na base  de  Wilhelmshaven  o  Almirante  Doenitz  aguardava  do  Alto-Comando  a  ordem  que  daria  começo  às hostilidades.

Às  11  horas  da  manhã  de  3  de  setembro,  as  rádios  da  base  começaram  a  transmitir  a  esperada  mensagem:  “A Inglaterra  e  a  França  declararam  guerra  à  Alemanha...  Cobrir  postos  de  combate...  conforme  instruções  já determinadas  para  a  Marinha”.  Os  comandantes  das  diversas  unidades,  ao  receber  este  sinal,  emitiram  as respectivas  ordens,  urgentes.  Quando  as  tripulações  ainda  estavam  preparando  os  barcos,  chegou  uma

 

segunda  mensagem,  transmitida  pessoalmente  por  Doenitz.  Seu  texto  dizia:  “Instruções  de  combate  para  a frota  submarina,  agora  em  plena  vigência...  Atacar  transportes  de  tropas  e  navios  mercantes  que  transportem equipamento  militar,  de  acordo  com  o  regulamento  na  Convenção  de  Haia...  Atacar  comboios  inimigos  sem aviso,  com  exceção  de  barcos  que  transportem  passageiros,  que  devem  ter  passagem  livre...  Não  atacar  esses barcos,  nem  navegando  em  comboios.  Doenitz”.

A  ordem  do  Almirante  alemão  deu  início  à  terrível  batalha  do  Atlântico.

O  caso  do  “Athenia”

Às  20  horas  de  3  de  setembro  de  1939,  o  submarino  U-30  navega  silenciosamente  a  200  milhas  a  oeste  das ilhas  Hébridas.  A  neblina  se  estende  sobre  o  mar,  dificultando  a  visibilidade.  Na  torre  do  submersível,  que navega  à  superfície,  o  comandante,  Capitão  Lemp,  acompanhado  pelo  primeiro-oficial,  perscruta  as  trevas que  os  rodeiam,  numa  tentativa  de  vislumbrar  o  possível  inimigo.  De  repente,  entre  a  bruma,  vê-se  aparecer  a massa  negra  de  um  grande  navio  que  navega  sem  luzes  de  sinalização  e  ziquezagueando.  Depois  de  um primeiro  minuto  de  vacilação,  Lemp  acredita  reconhecer  a  silhueta  de  um  cruzador  auxiliar  britânico.  Dirige- se  ao  seu  lugar-tenente  e  ordena:  -  Submergir!

Ao  mesmo  tempo,  o  alarma  de  combate  ressoa  pelo  submarino.  Os  homens  correm  a  seus  postos.  Lemp desce  ao  interior  e  se  coloca  diante  do  periscópio.  O  submarino,  impulsionado  agora  pelos  seus  poderosos motores  elétricos,  navega  debaixo  da  superfície  para  impedir  a  passagem  do  grande  navio.  Um  profundo silêncio  reina  entre  os  tripulantes.  Lemp,  depois  de  uns  instantes,  ordena:  -  Periscópio  acima!

Em  poucos  segundos,  o  comandante,  sem  afastar  os  olhos  do  visor  do  periscópio,  calcula  a  velocidade  e  o rumo  da  nave  inimiga.  Imediatamente  transmite  esses  dados  ao  segundo  comandante,  encarregado  dos torpedos.  Assim  se  chega  ao  minuto  que  antecede  o  ataque.  Nesse  momento,  apenas  1.500  metros  separam ambas  as  naves.  Lemp,  sem  vacilar,  grita  a  ordem:  -  Fogo!

Rapidamente,  três  torpedos  partem  para  o  alvo  e  60  segundos  depois,  o  submarino  estremece.  Um  dos projéteis  acertou  o  alvo.  Lemp  ordenou  então  subir  à  superfície.  Ainda  não  terminara  de  emergir  quando  a torre  se  abria.  O  comandante  Lemp  é  o  primeiro  a  observar  aquele  triste  espetáculo.  Ao  longe,  iluminado pela  luz  da  lua,  o  barco  se  afunda,  de  popa,  lentamente.  Nesse  instante,  o  rádio-telegrafista  de  bordo  capta uma  mensagem  do  navio  sinistrado:  “Athenia,  torpedeado,  56,42  norte;  14,05  oeste”.  Lemp,  então,  consulta o  registro  do  Lloyd’s  .  O  rádio-operador,  contudo,    se  adiantara.  Conferira  e  o  informa:  “Navio  de passageiros,  inglês,  meu  comandante;  13.500  toneladas  de  acordo  com  o  registro”.  Lemp  se  sente amargurado.  Desobedeceu,  por  engano,  à  ordem  emitida  por  Doenitz  de  não  atacar  navios  de  passageiros. Seu  trágico  equívoco  acaba  de  custar  a  vida  de  112  passageiros  das  1.400  que  o  Athenia  transportava.  Entre as  vítimas,  estavam  69  mulheres  e  16  crianças.

Dessa  maneira,  involuntariamente  cruel,  começa  a  guerra  submarina.  Lemp,  arrasado,  decide  não  dar  parte do  afundamento  até  regressar  ao  porto.  Este  fato  complica  ainda  mais  a  série  de  versões  que  imediatamente cercam  o  afundamento.  A  imprensa  da  Inglaterra  e  dos  Estados  Unidos  comentam  com  grandes  manchetes  o bárbaro  ataque.  Raeder,  ignorando  o  sucedido,  comunica  a  Hitler  que  o  Athenia  não  foi  afundado  por  um submarino  alemão.  O  Fuhrer,  no  dia  seguinte,    ordem  de  enviar  uma  mensagem  a  todos  os  submarinos,  no qual  determina  que  “sob  nenhum  pretexto  se  devem  realizar  operações  contra  navios  de  passageiros,  mesmo quando  estiverem  escoltados”.  A  27  de  setembro,  o  U-30  regressa  à  sua  base.  Lemp  se  entrevista imediatamente  com  o  Almirante  Doenitz,  que  não  tem  a  menor  suspeita  da  grave  comunicação  que  o comandante  do  U-30  lhe  fará,  minutos  depois.  Com  efeito,  Lemp,  lhe  confessa:  -  Eu  afundei  o  Athenia.

Doenitz  ordena  que  ele  viaje  imediatamente  a  Berlim  para  prestar  contas  ao  Alto-Comando  Naval.  Essa entidade  de  comando,  depois  de  submeter  o  capitão  a  severo  interrogatório,  decide  manter  em  absoluto segredo  o  episódio.  Lemp,  por  sua  vez,  não  será  submetido  a  uma  corte  marcial,  pois  considera-se  que  sua ação  foi  fruto  de  um  engano.  Por  seu  lado,  Doenitz,  para  manter  o  segredo,  ordena  a  suprimir  do  livro  de navegação  do  submarino  todos  os  dados  referentes  ao  afundamento.  Igual  medida  é  tomada  com  as  cópias  do mesmo,  que  permanecem  ao  Alto-Comando.

Apesar  de  ter  conhecimento  da  verdade  acerca  do  episódio,  Hitler,  pessoalmente,  ordenou  a  Goebbels  que propalasse  pela  imprensa  e  pela  rádio  uma  versão  muito  diferente  do  que  realmente  sucedera.  E,  no  dia  22  de outubro,  o  ministro  de  propaganda  nazista  anunciou  pelo  rádio  que  o  navio  Athenia  havia  sido  afundado  por

 

ordem  de  Churchill.  No  dia  seguinte,  os  jornais  da  Alemanha  repetiram  a  notícia  em  primeiro  plano.  A versão  dizia  que  uma  bomba  de  tempo  fôra  colocada  na  navio,  por  ordem  do  Primeiro  Ministro  inglês,  com  o objetivo  de  criar  um  incidente  entre  a  Alemanha  e  os  Estados  Unidos  (o  Athenia  transportava  331 passageiros  americanos,  28  dos  quais  morreram).

Primeira  grande  vitória  alemã:

A  17  de  setembro,  o  velho  porta-aviões  britânico  Courageous  navegava  a  200  milhas  a  sudoeste  da  Irlanda, escoltado  por  dois  destróieres.  Ao  entardecer,  no  momento  que  o  grande  navio  manobrava  para  receber  na sua  coberta  os  aviões  da  sua  guarnição  que  regressavam  de  um  vôo  de  patrulha,  foi  interceptado  pelo submarino  alemão  U-29,  comandado  pelo  Tenente-de-Fragata  Schuhardt.  Este,  ao  perceber  que  o  porta- aviões  estava  protegido  por  escolta  fraca,  resolveu  atacá-lo.  O  U-29  encurtou  rapidamente  a  distância  que  os separava,  e  se  colocou  em  posição  de  tiro.  Depois  de  receber  a  ordem  de  Schuhardt,  o  segundo  comandante disparou  uma  salva  de  quatro  torpedos  que  acertaram  em  cheio  o  navio  britânico.  Em  15  minutos,  o  porta- aviões  foi  a  pique,  arrastando  ao  fundo  do  mar  500  dos  seus  1.200  tripulantes.  O  comandante,  Capitão Makeig  Jones,  pereceu  no  naufrágio.  Os  dois  destróieres  que  escoltavam  o  porta-aviões  se  lançaram imediatamente  à  caça  do  submarino.  O  U-29,  contudo,  desceu  a  grande  profundidade,  e,  navegando lentamente,  conseguiu  burlar  os  seus  perseguidores.

Três  dias  depois,  outro  submarino,  o  U-39,  havia  atacado  o  porta-aviões  Ark  Royal,  a  150  milhas  a  oeste  das ilhas  Hébridas.  Seus  torpedos,  contudo,  explodiram  antes  de  atingir  o  alvo,  não  causando  nenhum  dano.  Os destróieres  da  escolta,  reagindo  imediatamente,  em  poucos  minutos  conseguiram  caçar  e  afundar  o submarino.  Foi  esse  o  primeiro  submarino  alemão  destruído  na  Segunda  Guerra  Mundial.

Ataque  a  Scapa  Flow:

O  Almirante  Doenitz  planejou,  em  princípios  do  mês  de  outubro  de  1939,  realizar  um  audacioso  ataque submarino  contra  a  base  principal  da  frota  britânica,  situada  nas  ilhas  Orcadas,  na  baía  de  Scapa  Flow.    na Primeira  Guerra  Mundial  os  alemães  haviam  tentado,  em  duas  oportunidade,  introduzir-se  nessa  base,  sem resultado.  Doenitz,  portanto,  realizou  cuidadosos  estudos,  valendo-se  de  fotografias  aéreas  tomadas  pela Luftwaffe.  Baseado  nessas  fotografias,  determinou-se  que  a  entrada  menos  defendida  por  redes  anti- submarinas  e  navios  de  bloqueio  era  o  estreito  canal  Kirk.  Um  submarino  do  tipo  VII  (500  toneladas),  capaz de  permanecer  durante  24  horas  submerso,  foi  o  navio  escolhido  para  efetivar  o  difícil  ataque.  Esse submarino  deveria  navegar  através  do  canal  de  uma  milha  de  comprimento  e  apenas  10  metros  de profundidade,  evitando  obstáculos  que  lhe  davam  um  espaço  de  manobras  de  apenas  30  metros,  lutando, além  do  mais,  contra  fortes  correntezas.  Para  a  difícil  missão  foi  escolhido  o  U-47,  capitaneado  pelo  Tenente Gunther  Prien.  Este  marinheiro  era  considerado  como  o  mais  experiente  e  audaz  comandante  de  submarinos alemães.  Às  22  horas  de  13  de  outubro  de  1939,  o  U-47  iniciou  a  operação.  A  noite  estava  calma  e  sem  lua. As  marés  eram  favoráveis.  Prien,  com  grande  perícia,  orientou  o  U-47  navegando  na  superfície  e  deslizou através  do  estreito  de  Kirk,  para  o  interior  de  Scapa  Flow.  O  submarino  passou  roçando  os  cascos  dos  navios afundados  que  bloqueavam  a  entrada  e,  logo  completou  a  passagem.

À  sua  vista  estendia-se  o  vasto  ancoradouro  da  frota  britânica.  Prien  rumou  para  o  sudoeste,  onde,  segundo os  informes  ancorava  a  maior  parte  dos  navios  ingleses.  Contudo,  não  avistou  ali  nenhum  barco,  com exceção  de  alguns  destróieres  que  patrulhavam  as  águas.  A  frota  inglesa  se  havia  feito  ao  mar  no  dia  anterior, enquanto  o  U-47  permanecia  fundeado  fora  de  Scapa  Flow,  aguardando  a  chegada  da  noite.  Prien,  então, decidiu  dirigir-se  para  o  norte  da  baía  e    distinguiu,  na  obscuridade,  a  negra  silhueta  de  dois  grandes  navios de  guerra.

Rapidamente,  selecionou  como  alvo  a  um  deles,  que  identificou  como  o  encouraçado  Royal  Oak.  Colocou  o U-47  em  posição  de  tiro  e,  numa  salva  única,  lançou  cinco  torpedos.  Somente  um  dos  projéteis  acertou  no alvo,  explodindo  na  proa  do  encouraçado.  Aconteceu  então  uma  coisa  inacreditável.  O  capitão  do encouraçado  e  seus  oficiais,  convencidos  da  impossibilidade  que  tinham  os  submarinos  alemães  de  penetrar na  inexpugnável  base,  atribuíram  o  estampido  a  uma  explosão  interna.  Prien,  surpreso  com  a  falta  de  reação britânica,  tomou  uma  decisão  temerária:  efetuaria  um  novo  ataque.  Dirigiu  então  o  U-47  para  o  centro  da baía,  seus  homens,  realizando  um  esforço  extraordinário,  recarregaram  em  20  minutos  os  cinco  tubos  lança- torpedos.  Disparou  novamente  os  seus  torpedos  e  voltou  a  acertar,  com  os  cinco  projéteis,  desta  vez.  Uma explosão  atroadora  encheu  a  baía.  A  coluna  de  água  que  se  ergueu  repentinamente,  caiu  numa  cascata  que atingiu  o  U-47.  O  submarino  com  o  eco  da  explosão,  sacudiu  perigosamente.

 

Com  o  Royal  Oak  pereceram  o  Contra-Almirante  Blagrove  e  786  oficiais  e  marinheiros.  O  U-47,  acelerando ao  máximo  os  seus  motores,  escapou  sem  ser  visto  pelos  destróieres  inimigos  e,  atravessando  novamente  o estreito  de  Kirk,  alcançou  o  mar  aberto.  A  façanha  estava  cumprida.

Intensifica-se  a  luta:

Nos  primeiros  meses  da  guerra,  os  submarinos  alemães  operavam,  geralmente,  de  forma  individual.  Não existiam  unidades  suficientes  para  integrar  as  “alcatéias  de  lobos”  que,  posteriormente,  haveriam  de  causar danos  tão  graves  à  navegação  aliada.  Fizeram-se,  então,  as  primeiras  tentativas  para  por  em  prática  essa técnica,  fazendo  com  que  vários  submarinos,  dirigidos  por  um  comando  estabelecido  em  terra,  atacassem  os comboios  aliados.  As  informações  e  ordens  emitidas  da  base  eram  dirigidas  ao  chefe  de  um  submarino,  que assumia  a  orientação  dos  restantes.  Estas  ações,  contudo,  não  tiveram  resultados  positivos:  não  existiam submarinos  suficientes.

A  luta  se  concentrou,  nessa  época,  portanto,  diretamente  nas  rotas  de  acesso  à  Inglaterra,  pois  não  se  podia cobrir  áreas  maiores.  A  duras  penas,  conseguiu-se,  então,  manter  uma  média  de  20  navios  em  serviço permanente,  cobrindo  as  zonas  de  ataque,  no  Atlântico.  Os  resultados,  entretanto,  apesar  das  façanhas individuais  de  comandantes  habilidosos  como  Prien  e  Kretschmer,  com  seus  submarinos  U-47  e  U-99,  não foram  importantes.  Existiu  também  um  grave  problema,  verificado  numa  falha  dos  torpedos.  Os  chamados torpedos  “E”,  impulsionados  eletricamente,  eram  providos  de  uma  nova  espoleta  magnética,  que  sofria freqüentes  falhas  em  seu  funcionamento.  A  carga  era  detonada  ora  muito  cedo,  ou  muito  tarde;  e,  às  vezes, nem  sequer  detonava.  Esta  falha  obrigou  o  abandono  da  espoleta  magnética,  e  a  volta  à  adoção  da  antiga espoleta  de  contato.  Mesmo  assim,  novos  inconvenientes  surgiram  nos  mecanismos  dos  torpedos  destinados a  fixar  a  profundidade.  Esses  graves  inconvenientes  somente  foram  solucionados,  definitivamente,  no  verão de  1941.

Com  a  conquista  da  França,  realizada  em  junho  de  1940,  a  guerra  submarina  tomou  um  curso  mais  intenso, ao  disporem  os  alemães  de  bases  na  costa  atlântica.  Os  portos  de  Lorient,  Saint  Nazaire,  La  Pallisse  e Bordéus  converteram-se,  a  partir  de  então,  nos  centros  nevrálgicos  da  atividade  submarina.  Efetivamente,  até esse  momento,  os  submarinos  alemães  se  haviam  confinado  às  suas  bases,  nas  costas  do  Mar  do  Norte,  o  que reduzia  notavelmente  a  sue  efetividade  e  raio  de  ação  na  zona  do  Atlântico.  No  porto  de  Lorient  iniciou-se  a construção  de  enormes  ancoradouros,  cobertos  por  grossas  abóbadas  de  concreto,  para  proteger  os submarinos  contra  os  ataques  aéreos.  Estas  construções  foram  também  realizadas  em  outras  bases,  e  tiveram resultados  extraordinários.  Com  efeito,  nem  mesmo  nos  anos  finais  da  guerra,  quando  os  aliados  realizaram bombardeios  maciços  contra  as  bases  de  submarinos,  não  conseguiram  destruir  essas  defesas.

A  ocupação  da  França  permitiu  também  aos  alemães  ampliar  o  alcance  dos  seus  aviões  e  atacar  os  comboios britânicos,  causando-lhes  graves  perdas.  Este  fato  obrigou  os  ingleses  a  desviar,  praticamente,  a  totalidade  da navegação  das  rotas  do  sul  para  o  norte.  Os  submarinos  alemães  tiveram  assim  oportunidade  extraordinária para  aumentar  o  número  de  afundamentos,  pois  a  concentração  dos  comboios  em  zona  estreita  facilitou  os seus  ataques.

Além  disso,  a  ameaça  de  invasão  da  Inglaterra  obrigou  a  Marinha  britânica  a  reunir  grande  número  de destróieres  para  a  defesa  das  ilhas  contra  o  iminente  ataque.  As  formações  de  escolta  se  viram  assim seriamente  debilitadas,  fato  que  também  contribuiu  para  aumentar  as  vitórias  dos  submarinos  alemães.

Anexo:

Churchill  organiza  a  defesa:

Ao  estourar  a  guerra,  a  3  de  setembro  de  1939,  Winston  Churchill,  ocupava  o  cargo  de  primeiro  lorde  do  Almirantado, no  gabinete  presidido  por  Chamberlain.  Churchill,  desde  o  início,  compreendeu,  em  toda  a  sua  amplitude,  o  perigo  que representavam  os  submarinos  alemães,  e  se  esforçou  para  criar  defesas  adequadas  para  enfrentar  os  seus  ataques.  O Almirantado    havia  preparado  em  tempo  de  paz  os  planos  destinados  a  aumentar  rapidamente  sua  frota  de  barcos  anti- submarinos,  convertendo  em  navios  armados  várias  unidades  mercantes.  Havia-se  também  previsto  a  construção  de destróieres,  cruzadores  e  navios  caça-submarinos  menores.  Esse  plano  foi  levado  à  prática  apenas  iniciada  a  luta.

Outro  ponto  de  vital  importância  era  o  de  organização  do  sistema  de  comboios.  Em  princípio,  e  diante  da  falta  de unidades  de  escolta  suficientes,  decidiu-se  limitar  o  seu  emprego  às  águas  da  costa  leste  da  Inglaterra,  onde  os submarinos  alemães  se  mostravam  mais  ativos.  O  afundamento  do  Athenia  a  oeste  da  Irlanda  induziu,  contudo,  o Almirantado  a  estender  a  navegação  em  comboios,  às  águas  do  Atlântico.  Também  nesse  setor  se  haviam  tomado  com

 

antecipação  as  necessárias  medidas  de  precaução.  Os  barcos  mercantes  e  suas  tripulações  receberam,  anteriormente  ao início  da  guerra,  orientação  e  materiais  para  operar  em  comboios.  Com  sábia  previsão,  os  britânicos  haviam  conservado os  canhões  utilizados  na  Primeira  Guerra  Mundial  para  defender  os  seus  barcos  mercantes  contra  os  submarinos.  Essas peças  de  artilharia  foram  rapidamente  recondicionadas  e  montadas  nos  transportes,  a  fim  de  obrigar  os  submarinos  a efetuar  seus  ataques  abaixo  da  superfície.  Assim,  nos  três  primeiros  meses  da  guerra,  os  ingleses  conseguiram  artilhar cerca  de  1.000  barcos  mercantes.

Muitos  navios  de  pesca  (trawlers)  foram  equipados  com  aparelhos  “Asdic”  -  instrumento  (sonar)  para  detectar submarinos,  consistente  num  transmissor  de  ondas  ultra-sonoras  que,  ao  chocar-se  com  um  objeto  submerso,  se  refletem e  se  eco  é  recolhido.,  indicando  automaticamente  a  distância  e  a  posição  do  submarino.  Estes  barcos  colaboraram eficazmente  na  luta  contra  os  submarinos.

Tática  dos  submarinos:

Princípios  de  operação  da  luta  submarina,  redigidos  pelo  Comandante  Otto  Kretschmer,  brilhante  ás  da  força  de submarinos  alemães.

“1  -  Em  toda  operação  de  submarinos  é  de  importância  primária  contar  com  vigias  competentes.  Quando  se  opera  em alto  mar  o  primeiro  requisito  para  o  êxito  é  ter  a  bordo  a  melhor  organização  possível.  Qualquer  peça  frouxa  no  sistema pode  significar  a  destruição.

“2  -  Não  basta  que  os  vigias  avistem  todos  os  objetos  que  apareçam  na  superfície;  também  devem  avistar  com  a  devida antecipação  todos  os  objetos  que  apareçam  no  céu.  A  aviação  desempenha  um  papel  cada  vez  mais  importante  na composição  dos  comboios  inimigos.  Os  aviões  são  um  perigo  mortal  para  um  submarino  na  superfície.  Confiamos  em que  os  vigias  nos  advirtam  da  sua  aproximação,  com  tempo  suficiente  para  descer  a  mais  de  60  pés...

“3-  Os  navios  isolados  que  não  ostentam  pavilhão  neutro  nem  distintivo  da  Cruz  Vermelha  e  que,  pelo  contrário, pareçam  beligerantes,  devem  ser  afundados  a  poder  de  canhoneio,  a  fim  de  reservar  os  torpedos  para  os  mais  difíceis alvos  escoltados.

“4  -  Deve-se  ajudar  os  sobreviventes  sempre  e  quando  se  dispuser  de  tempo,  e  se,  ao  fazê-lo,  o  submarino  não  ficar exposto  a  perigos  indevidos.  A  tripulação  deve  saber  que,  caso  o  U-99  (submarino  de  Kretschmer)  naufrague,  e  haja tempo  de  abandonar  o  barco,  poderá  esperar  que  o  inimigo  os  resgate.  É  justamente  o  que  o  inimigo  tem  o  direito  de esperar  de  nós.

“5  -  Os  comboios  podem  ser  atacados  durante  o  dia  somente  quando  não  convier  esperar  até  a  noite.  O  ataque  diurno  de um  comboio  escoltado  acarreta  um  risco  calculado,  e  somente  pode  ser  efetuado  após  um  cuidadoso  estudo...

“6  -  Em  circunstâncias  normais,  o  U-99  dedicará  as  horas  de  luz  diurna  para  seguir  um  comboio  e  manobrar  para  estar em  posição  de  ataque  favorável,  ao  cair  a  noite.  Entende-se  por  posição  de  ataque  favorável,  o  lado  escuro  de  um comboio  quando  houver  lua,  de  maneira  que  o  comboio  fique  bem  recortado  pelo  luar,  enquanto  que  nossa  silhueta, apresentada  pela  proa,  se  torne  impossível  de  perceber.

“7  -  Com  pouca  lua,  ou  em  noites  escuras,  o  U-99  atacará  sempre  pelo  lado  de  barlavento  do  comboio.  De  cara  ao  vento e,  às  vezes,  à  chuva  e  à  espuma,  os  vigias  inimigos  são  menos  eficientes  que  de  costas  ao  vento.

“8  -  O  U-99  se  guiará  pelo  meu  princípio  de  que  as  salvas  de  torpedos  lançados  de  grande  distância  não  tem  nenhuma garantia  de  êxito  e  forçosamente  resultam  num  desperdício.  Em  primeira  instância  não    nenhuma  necessidade  de disparar  mais  que  um  torpedo  por  barco.

“9  -  O  princípio  exposto  acima  obriga  a  disparar  à  queima-roupa,  o  que    é  possível  irrompendo  através  da  cortina  anti- submarina  da  escolta,  e,  as  vezes,  dentro  das  colunas  do  comboio.  Esse    de  ser  objetivo  de  todos  os  nossos  ataques.

A  bordo  de  um  submarino:

Viver  no  interior  de  um  submarino,  durante  um  período  que  pode  prolongar-se  alguns  dias  ou  várias  semanas,  parece impossível  para  quem  conheça  a  disposição  interna  de  um  barco  desse  tipo  e  o  ritmo  de  vida  que  ali  se  leva.

As  camas  que  o  pessoal  pode  descansar  somente  dão  para  a  metade  da  tripulação  do  navio.  Portanto,  os  homens  devem dormir  em  turnos;  ocupam  os  leitos  os  tripulantes  que  abandonam  o  serviço  e  são  substituídos  pelos  outros,  que deixaram  as  camas.

O  descanso  em  campanha,  deve  ser  feito  completamente  vestido,  pela  rapidez  com  que  os  homens  devem  ocupar  seus postos.

Por  outro  lado,  prevendo  longos  cruzeiros,  todos  e  cada  um  dos  espaços  livres  do  navio  são  ocupados  pelos  víveres necessários  para  a  tripulação.  Assim,  podem-se  ver  bolsas  e  caixas,  pacotes  e  caixotes,  ocupando  vãos,  corredores,  e  até amarrados  ao  teto.

A  atmosfera  que  se  respira  a  bordo,  durante  a  imersão,  está  sempre  viciada  por  mil  odores  oriundos  do  amontoado  de gente  e  da  escassa  ou  às  vezes  nula  ventilação.  Pouco  ajudam,  neste  caso,  os  purificadores  de  ar.  Em  plena  navegação, com  mar  grosso,  o  submarino,  pela  sua  conformação,  suporta  grandes  sacudidelas,  o  que  torna  impossível  o  descanso.

Em  linhas  gerais,  a  vida  dentro  de  um  submarino  em  campanha  é  uma  penosa  experiência  durante  os  primeiros  dias. Depois,  quando  o  espírito  de  equipe  faz  com  que  os  homens  se  sintam  orgulhosos  até  de  seus  padecimentos,  as  jornadas chegam  a  ser  razoavelmente  suportáveis  e  até  desejáveis.  Assim  foi  que  os  homens  que  tripularam  os  submarinos alemães  se  caracterizaram  por  um  rígido  espírito  de  equipe  que  não  os  abandonou,  nem  quando,  nos  últimos  tempos  da guerra,  tiveram  que  formar  unidades  especiais  e  combater  como  simples  soldados  de  infantaria,  por  falta  de  barcos.

Nenhum  outro  corpo  na  Alemanha  perdeu,  por  outro  lado,  tantos  homens  como  a  arma  submarina.  Efetivamente,  dos 39.000  oficiais  e  marinheiros  que  iniciaram  a  campanha  de  1939,  32.000  pereceram  no  curso  da  guerra.

 

O  “afundamento  do  Nelson”:

O  submarino  U-23  deslizou  pelas  águas  escuras.  Navegava  na  superfície  e  seu  comandante,  na  torre,  vigiava  as  sombras da  noite.

De  repente,  ao  longe,  uma  silhueta  alertou  o  alemão.  Um  navio,  sem  dúvida.  Voltou  a  focalizar  os  seus  binóculos,  uma e  outra  vez.  A  silhueta  tomo  forma  mais  definida.  O  comandante    tem  toda  certeza.  Encontrava-se  na  presença  de  um barco  inimigo.  O  passo  seguinte  era  um  só.  A  nave  estava  parada  ou  navegava  muito  lentamente.  Além  disso,  o  fazia  às escuras.  Isso    significava  uma  coisa:  navio  armado,  de  guerra,  ou  cruzador-auxiliar.  A  conclusão:  atacá-lo imediatamente.

A  torre  fechou-se  bruscamente.  As  ordens  percorreram  o  U-23.  O  submarino  desapareceu  da  superfície.  Instantes depois,  a  esteira  de  dois  torpedos  indicava  que  os  projeteis  se  dirigiam  para  o  alvo.  Passaram  60  segundos.  De  repente, uma  atroada  explosão  sacudiu  o  submarino.  O  resplendor  da  explosão  dos  dois  torpedos  iluminou  a  noite.  O comandante  do  U-23,  aferrado  ao  periscópio,  prescrutou  a  noite,  procurando  verificar  o  que  ocorrera.  A  escuridão  mais absoluta  seguiu-se  ao  resplendor  das  explosões.  Rapidamente,  o  submarino  emergiu.  A  torre  se  abriu  e  dois  homens  se precipitaram  para  fora.  Eram  o  comandante  e  o  subcomandante  do  U-23.  Este  último  dissipou  as  dúvidas  com  uma frase:  “Não  era  um  barco.  Era  uma  rocha”.

No  interior  do  submarino,  minutos  depois,  os  homens,  passada  a  tensão,  comentaram  em  tom  risonho  o  incidente.  E  o comandante,  continuando  a  brincadeira,  ordenou  irradiar  a  seguinte  mensagem:  “Rocha  torpedeada,  mas  não  afundada”. Dias  depois,  ao  regressar  de  seu  cruzeiro  para  a  base  de  Kiel,  o  comandante  do  U-23  se  surpreendeu  ante  a extraordinária  recepção  de  que  foi  alvo.  Perguntou  logo  o  motivo,  e  foi  o  próprio  Doenitz  que  esclareceu.  Interrogado pelo  almirante  acerca  do  afundamento  do  Nelson,  o  comandante  respondeu  que  jamais  o  havia  visto.  Doenitz, assombrado,  pediu  imediatamente  o  registro  das  mensagens  do  U-23  e  estendeu  ao  surpreso  comandante  uma  folha  de papel  onde  se  lia:  “Nelson  torpedeado,  mas  não  afundado”.

Esclarecido  o  incidente,  os  homens  riram  à  larga.  A  explicação  do  erro  estava  numa  simples  substituição  de  letras: rocha,  em  alemão,  é  FELSON;  na  recepção  da  mensagem,  havia-se  confundido  a  palavra  com  NELSON.  Depois  tudo seguira  seu  curso:  “afundaram”  o  Nelson...

Os  ases:

Comandantes  alemães  de  submarinos  que  conseguiram  afundar  maior  tonelagem  de  barcos  aliados:

Engebelbert  Endrass  -  Capitão.  Atuou  como  primeiro-oficial  de  Gunther  Prien  no  U-47.  Depois,  comandou  o  U-46  e afundou  29  navios  mercantes  com  206.000  t.

Albrecht  Brandi  -  Capitão-de-fragata.  Comandante  do  U-617,  U-380  e  do  U-967.  Afundou  no  Mediterrâneo  e  no Atlântico  35  barcos,  com  115.000  t.

Karl  Emmermann  -  Capitão-de-corveta.  Comandante  do  U-172.  No  Atlântico  e  no  Caribe  afundou  31  barcos,  com 191.000  t.

Reinhard  Hardegen  -  Capitão-de-corveta.  Comandante  do  U-123.  Afundou  28  barcos,  com  193.000  t.

Otto  Kretschmer  -  Comandante  do  U-23  e  do  U-99.  No  Atlântico  e  no  Mar  do  Norte,  afundou  54  barcos  com  314.000  t. Georg  Lassen  -  Capitão-de-corveta.  Comandante  do  U-160.  Afundou  29  barcos,  com  205.000  t.

Heinrich  Lehmann-Willenbrock  -  Capitão-de-fragata.  Comandante  do  U-5  e  do  U-96.  Afundou  28  barcos,  com  205.000 t.

Heinrich  Liebe  -  Capitão-de-fragata.  Comandante  do  U-38.  Afundou  no  Atlântico  e  no  Mar  do  Norte  33  barcos,  com 200.000  t.

Wolfgang  Luth  -  Capitão.  Comandante  do  U-9,  U-138,  U-43,  U-181.  Realizou  uma  missão  no  Oceano  Índico  de  203 dias,  a  mais  longa  da  Segunda  Guerra  Mundial.  Afundou  52  barcos  com  237.000  t.

Gunther  Prien  -  Capitão-de-corveta.  Comandante  do  U-47,  levou  a  cabo  o  audacioso  ataque  contra  a  base  de  Scapa Flow,  onde  afundou  o  encouraçado  Royal  Oak,.  No  Atlântico,  afundou  32  barcos,  com  203.000  t.

Reinhard  Suhren  -  Capitão-de-fragata.  Comandante  do  U-564,  afundou  no  Atlântico  e  no  Caribe  25  barcos,  com 148.000  t.

Erich  Topp  -  Capitão-de-fragata.  Comandante  do  U-46,  U-552.  No  mar  do  Norte  e  no  Atlântico,  afundou  40  barcos, com  243.000  t.

A  “alcatéia  de  lobos”:

Os  ataques  em  massa  de  submarinos,  contra  os  comboios,  haviam  sido  concebidos  ante  de  estourar  a  guerra,  pelo Almirante  Doenitz.  No  princípio  esses  planos  não  foram  executados  pelo  escasso  número  de  submarinos  existentes.  Em 1941,  porém,  ao  aumentar  o  número  de  unidades  em  operações,  as  “alcatéias  de  lobos”  entraram  em  ação.

A  tática  consistia  no  seguinte:  do  QG,  situado  em  terra,  e  depois  de  receber  informações  dos  serviços  de  patrulha  aérea ou  marítima,  acerca  do  movimento  de  um  comboio  inimigo,  enviavam  um  alerta  a  todos  os  submarinos  que  se  achavam nas  cercanias  da  zona  indicada.  O  primeiro  submarino  que  avistava  o  comboio  informava,  imediatamente,  a  sua posição,  velocidade  e  rumo,  aos  demais  submarinos  da  “alcatéia”.  Estes,  se  dirigiam  para  o  objetivo  e  o  atacavam.  No início,  os  ataques  se  realizavam  individualmente,  mas,  depois,  o  sistema  se  aperfeiçoou  e  os  membros  da  “alcatéia” aguardavam  até  a  emissão  de  um  sinal  do  QG,  indicando  que  tos  os  submarinos  estavam  reunidos.  Então,  todo  o  grupo

 

se  lançava  simultaneamente,  de  diferentes  ângulos,  sobre  a  presa,  processo  que  conseguia  um  número  excepcional  de afundamentos.

Os  comboios,  ao  serem  atacados,  recorriam  a  todos  os  tipos  de  manobras  evasivas  e  truques  diversos,  a  tentativa  de evadir-se  do  inimigo.  A  “alcatéia”,  porém,  mantendo-se  permanentemente  em  contato  com  o  QG,  e  entre  si,  tinha  muito pouca  chance  de  ser  burlada.

 

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