segunda-feira, 24 de julho de 2023

Segunda Guerra Mundial - 1939 Corsários Alemães

Luta  no  Mar
O  Graf  von  Spee  em  ação

Corsários  Alemães:

A  tripulação  do  Almirante  Graf  von  Spee  estava  rigidamente  formada  na  coberta  do  encouraçado  de  bolso. Defronte  deles,  um  homem  de  estatura  mediana,  olhos  claros,  penetrantes,  observava-os.  O  mais  denso silêncio  envolvia  a  nave.  De  repente,  o  homem  falou,  pausadamente,  com  voz  firme.

-  Nossa  Marinha  de  Guerra  é  invencível.  O  olhar  de  centenas  de  homens  estava  cravado  nele.  -  Nosso  Fuhrer foi  marcado  pelo  destino!  As  fileiras  estremeceram.  -  O  destino  da  pátria  está  em  suas  mãos.  Um  silêncio carregado  de  emoção  recebeu  aquelas  palavras.  -  A  Alemanha  espera  que  todos  saibam  cumprir  o  seu  dever. Ouviu-se  um  grito,  único.  Era  uma  exclamação  que  ecoou  com  estranhas  ressonâncias.  -  Heil  Hitler!

Os  marinheiros  do  Graf  von  Spee  acabavam  de  conhecer  o  homem  que  os  conduziria  ao  combate.  Era  deu chefe  máximo,  o  comandante  Hans  Langsdorff.  A  partir  daquele  momento,  o  destino  do  barco  e  seus  homens dependia  inteiramente  dele.  Pouco  faltava  para  a  grande  decisão.

3  de  setembro  de  1939:

O  Almirante  Graf  von  Spee  sulcava  as  águas  do  oceano  a  toda  máquina,  impulsionado  por  seus  motores Diesel  e  se  dirigia  para  a  posição  estabelecida.  A  bordo,  tudo  era  animação.

De  repente,  um  marinheiro  surgiu  de  uma  das  escotilhas  e  aproximou-se  correndo,  de  um  grupo  de  jovens tripulantes  que  estavam  ali  perto.  A  excitação  era  visível  em  sua  fisionomia.  -  Acabou  de  estourar  a  guerra! Aquelas  palavras  caíram  em  meio  a  um  silêncio  cheio  de  presságios.  Após  o  primeiro  momento  de  surpresa, os  marinheiros  crivaram  seu  camarada  de  perguntas.  A  resposta  não  se  fez  esperar.  -  Um  radiotelegrafista captou  uma  mensagem  de  terra  com  a  notícia.  Avisamos  imediatamente  ao  comandante  Langsdorff  e  a guarda  está  sendo  reforçada.  Os  homens  calaram-se.  Todos  pensavam  naquelas  palavras  que  acabavam  de escutar.  “Acabou  de  estourar  a  guerra”.

Horas  mais  tarde,  diante  da  tripulação  reunida,  o  comandante  Langsdorff  confirmou  a  notícia  e  falou  a  seus homens.  “A  Alemanha  espera  que  todos  cumpram  o  seu  dever”.

Primeira  presa:

No  dia  30  de  setembro  de  1939,  o  Almirante  Graf  von  Spee  navegada  a  toda  máquina  nas  águas  do  Atlântico Sul.  A  tripulação  dedicava-se  às  tarefas  de  rotina  quando  os  apitos  deram  a  impressão  de  um  combate iminente.  Correndo,  os  homens  ocuparam  seus  postos  e  se  prepararam.  Os  olhares  se  cravaram  na  ponte  de comando.  Dali,  vários  oficiais  examinavam  a  linha  do  horizonte.  Pouco  depois,  por  entre  a  pesada  bruma  que ocultava  o  horizonte,  surgiu  uma  longínqua  silhueta.  Aquela  visão  fez  os  tripulantes  estremecerem.  Era  um navio  inimigo,  sem  dúvida.  Agora    faltava  saber  se  era  de  guerra  ou  mercante.  Mas,  pouco  tempo  durou  a incógnita.

O  telegrafista  do  Graf  von  Spee  transmitiu  imediatamente  a  intimação.  “Detenham  a  marcha  e  parem  seu transmissor”  ...  “detenham  a  marcha  e  parem  seu  transmissor...”  Ao  mesmo  tempo,  um  tiro  do  encouraçado cobriu  de  ecos  a  imensidão  do  oceano.  O  projétil,  disparado  com  precisão,  levantou  uma  coluna  de  água  a poucas  dezenas  de  metros  da  proa  do  navio  mercante.  O  barco  deteve  imediatamente  sua  marcha.  Pouco depois,    próximos  do  navio  mercante,  distinguiram  claramente  seu  nome:  “Clement”.  Era  um  cargueiro inglês  de  5.000  tons.,  que  procedia  do  Brasil.  Encontrava-se,  na  ocasião,  na  altura  de  Pernambuco.

Foi  a  primeira  nave  capturada  e  destruída  pelo:  Almirante  Graf  von  Spee.  As  conseqüências  dessa  ação  não se  fizeram  esperar.

 

Caçada  ao  corsário:

No  Almirantado  britânico,  a  notícia  do  afundamento  do  Clement  confirmou  suspeitas  existentes.  Sem dúvida,  uma  nave  inimiga  operava  na  zona  do  Atlântico  Sul.  O  Alto  Comando  inglês  determinou  a  formação de  vários  grupos  de  caça,  destinados  a  patrulhar  a  zona  e,  eventualmente,  encontrar  o  agressor  desconhecido.

Os  grupos  formados  eram  nove,  no  total.  Eram  integrados  por  23  navios  de  guerra.  Os  grupos  e  seus  navios eram  os  seguintes:  Grupo  F,  com  os  cruzadores  Bernwick  e  York;  Grupo  G,  com  os  cruzadores  Cumberland, Exeter,  Ajax  e  Aquiles;  Grupo  H,  com  os  cruzadores  Sussex  e  Shropshire;  Grupo  I,  com  os  cruzadores Cornwall  e  Dorsetshire  e  porta-aviões  Eagle;  Grupo  J,  com  o  navio  de  linha  Malaia  e  o  porta-aviões Glorious;  Grupo  K,  com  o  navio  de  linha  Renown  e  o  porta-aviões  Ark  Royal;  Grupo  L,  com  o  navio  de linha  Repulse  e  o  porta-aviões  Furious;  Grupo  X,  com  dois  cruzadores  franceses  e  o  porta-aviões  Hermes  e  o Grupo  Y,  com  o  navio  de  linha  Strassbourg,  o  cruzador  Neptune  e  um  cruzador  francês.

A  importância  que  o  Almirantado  dava  à  operação  ficou  comprovada  pelo  fato  de  destinar-lhe  um  grupo  tão numeroso  de  naves.  De  fato,  muitas  delas  procediam  de  diversas  guarnições  localizadas  em  pontos  de  vital importância.  Essas  guarnições  ficavam,  assim,  com  o  seu  poder  ofensivo  diminuído.

Novas  vítimas:

No  dia  5  de  outubro  de  1939,  verificou-se  um  novo  acontecimento  que  pôs  em  estado  de  alarme  toda  a  frota inglesa.  Nesse  dia,  no  Cabo  da  Boa  Esperança,  foram  afundados  três  novos  navios  mercantes.  As  três  naves desapareceram  sem  deixar  rastro  algum.  Nenhuma  mensagem  foi  transmitida.  Nenhum  pedido  de  socorro cruzou  os  ares.  Os  três  barcos  haviam  sido  afundados  de  forma  rápida  e  inesperada,  impedindo-lhes  qualquer reação.

Imediatamente  os  grupos  de  caça  entraram  em  ação.  Pela  metade  de  outubro,  a  caçada  se  concentrou  ao  redor do  Graf  von  Spee.  A  operação,  habilmente  planejada,  ficou  a  cargo  do  Grupo  K,  integrado  pelo  Renown  e Ark  Royal.  Reuniram-se  a  ele  os  grupos  X,  que  contava  com  dois  cruzadores  franceses  e  o  porta-aviões inglês  Hermes  e  G,  sob  o  comando  do  Comodoro  Harwood  e  composto  pelos  cruzadores  Cumberland, Exeter,  Ajax  e  Aquiles,  este  último  neozelandês.  O  grupo  G,  de  fato,  tinha  a  seu  cargo,  desde  o  início,  a operação  de  patrulha  da  zona  correspondente  à  costa  oriental  da  América  do  Sul.

E  assim  chegou  o  dia  15  de  novembro  de  1939.  Nesse  dia,  o  Graf  von  Spee  fez  mais  uma  presa.  Um  barco inglês  foi  afundado  no  canal  de  Moçambique,  entre  Madagascar  e  a  costa  da  África.  Com  aquele  ataque,  o Graf  von  Spee  tentava  atrair  para  as  águas  do  Oceano  Índico  a  frota  inglesa.  Por  isto,  após  o  afundamento, emproou  para  o  Atlântico.  Mas,  sua  manobra  foi  prevista  e  os  navios  de  guerra  britânicos  não  descuidaram sua  vigilância.

No  dia  2  de  dezembro  de  1939,  o  Graf  von  Spee  afundou  dois  outros  barcos  inimigos  nas  águas  do  Cabo  da Boa  Esperança.  No  dia  7  do  mesmo  mês,  juntou  uma  nova  vítima  à  sua  longa  lista.

Harwood:

Porém,  na  zona  do  Rio  da  Prata,  o  Comodoro  Harwood,  no  comando  do  grupo  de  caça  G,  estudou detidamente  a  campanha  de  seu  poderoso  adversário.  Deduziu,  de  seus  aparentes  movimentos,  que  o  navio inimigo  seguiria  rumo  à  zona  do  Rio  da  Prata  e  que  ali  chegaria  aproximadamente  em  13  de  dezembro. Harwood,  portanto,  alertou  seu  grupo  e  preparou-se  para  a  batalha.  Sua  força  de  operação  era  composta, originariamente,  por  quatro  cruzadores.  Nessas  condições,  seu  poder  de  fogo  era  tal  que  permitia-lhe enfrentar  com  êxito  um  combate  com  o  Graf  von  Spee.  Mas,  naquela  emergência,  o  grupo  achava-se diminuído  em  seu  poderio  pela  ausência  do  cruzador  Cumberland,  que  naquela  ocasião  estava  na  base  das Ilhas  Malvinas,  para  abastecimento  e  reparos.  Ficaram,  portanto,  três  cruzadores  para  enfrentar  o  poderoso navio  de  batalha  alemão.  A  força  era,  portanto,  insuficiente.  No  entanto,  Harwood  se  apressou  em  direção  à batalha.

Pressa  para  o  combate:

No  Graf  von  Spee,  enquanto  isso,  a  navegação  continuava,  em  obediência  aos  planos  previstos.  Era  o  dia  13 de  dezembro  de  1939,  dia  em  que  o  Comodoro  Harwood  havia  calculado  avistar  o  navio  alemão.

 

A  bordo  do  poderoso  encouraçado,  o  grosso  da  tripulação  descansava  em  suas  macas.  Somente  o  pessoal  da guarda  e  da  vigilância  ocupava  seus  postos.  A  noite  havia  começado  a  desaparecer  e  as  primeiras  luzes  da madrugada  acendiam-se  no  horizonte.  De  repente,  o  alarme  soou  em  todo  o  barco.  Centenas  de  marinheiros saltaram  de  seus  leitos  e  correram  para  ocupar  seus  postos  de  combate.  Na  coberta    se  encontrava  o comandante  Langsdorff,  examinando  com  seu  binóculo  o  horizonte.  De  cima,  os  vigias  faziam  a  mesma coisa.  Logo  os  rumores  começaram  a  correr  por  todo  o  barco.

-  É  um  navio  mercante...  -  É  um  navio  mercante  e  um  de  guerra...  -  É  um  cruzador  e  dois  navios  mercantes... Ao  longe,  muito  ao  longe  ainda,  uma  pequena  frota  ia  ao  encontro  do  Graf  von  Spee.  Eram  os  três cruzadores  do  Comodoro  Harwood.

O  comandante  Langsdorff,  sem  vacilar,  ordenou  que  se  avançasse  a  toda  máquina,  rumo  ao  inimigo.

Fogo  a  vontade:

A  ação  começou  quase  simultaneamente  por  ambos  os  lados.  Após  diminuir  as  distâncias,  um  dos  cruzadores pediu  ao  Graf  von  Spee  a  correspondente  identificação.  O  encouraçado  alemão  respondeu  içando  a  bandeira de  combate.  Imediatamente,  os  canhões  abriram  fogo.  A  resposta  foi  instantânea.  Os  canhões  do  Exeter vomitaram  fogo  e  o  combate  acendeu-se.

Os  cruzadores  ingleses,  aproveitando  a  vantagem  que  lhes  dava  o  número,  bifurcaram  sua  rota.  O  Exeter tomou  um  rumo,  enquanto  os  outros  dois  cruzadores  menores  se  dirigiam  em  direções  opostas,  separando-se. Após  os  primeiros  tiros,  as  avarias    eram  vistas,  tanto  no  Graf  von  Spee,  como  no  Exeter.

No  cruzador  inglês,  voou  parte  da  chaminé,  enquanto  alguns  projetis  de  seus  canhões  atiravam  contra  o encouraçado  alemão.  Os  cruzadores  menores,  por  sua  vez,  dispararam  seus  torpedos  contra  o  navio  alemão, um  dos  quais  atingiu  o  alvo.  Após  alguns  minutos  de  combate,  um  tiro  de  artilharia  alemã  atingiu  o  Exeter, destruindo-lhe  uma  torre  e  fazendo  voar  a  ponte  de  comando.  As  conseqüências  foram  graves  para  o  barco inglês  que,  devido  as  suas  avarias,  ficou  fora  de  controle.  Enquanto  isso,  disparado  com  precisão,  um  torpedo inglês  atingiu  em  cheio  o  casco  do  Graf  von  Spee,  abrindo-lhe  um  grande  buraco.  Ante  tal  emergência,  o encouraçado  alemão  fez  uma  volta  e  afastou-se  de  seus  atacantes,  oculto  atrás  de  uma  cortina  de  fumaça. Enquanto  isso,  no  barco  alemão,  examinavam  os  danos  causados  pelo  torpedo.

Nos  barcos  ingleses,  entretanto,  a  situação  era  menos  grave.  O  Exeter  navegava  com  dificuldade  e  era  visível um  incêndio  na  parte  média  do  barco.  Suas  baterias,  praticamente,  achavam-se  fora  de  ação.  O  Ajax  e  o Aquiles,  por  sua  vez,  continuavam  a  perseguição,  navegando  aos  lados  do  Graf  von  Spee  e  descarregando artilharia  contra  o  encouraçado.  Foi  naquele  instante  que  um  dos  projeteis  que  o  encouraçado  alemão disparou  sobre  o  Aquiles,  matou,  na  ponte  da  nave,  o  comandante  do  cruzador.

Eram  7:25  da  manhã,  quando  o  Comodoro  Harwood,  do  Ajax,  determinou  interromper  a  ação. Imediatamente  sua  nave  abandonou  o  cenário  da  luta,  protegida  por  uma  cortina  de  fumaça.  O  Graf  von  Spee não  o  seguiu.

Rumo  à  armadilha:

A  batalha  havia  terminado  após  uma  hora  e  20  minutos  de  combate.  Às  8:00,  no  dia  13  de  dezembro,  uma distância  de  15  milhas  separava  as  forças  inimigas.  O  Graf  von  Spee  havia  tomado  o  rumo  de  Montevidéu. De  cima,  o  avião  do  cruzador  Ajax  vigiava  os  movimentos  do  encouraçado  alemão.  Às  9:00,  a  tripulação teve  conhecimento  de  seu  rumo,    perto  da  costa.  Teve,  então,  noção  da  situação  de  inferioridade  em  que  a nave  se  encontrava,  com  as  reservas  de  munição  quase  esgotadas,  escassa  água,  avarias,  e,  além  disso,  com  a ameaça  de  um  novo  encontro  com  poderosas  forças  inglesas  que  se  presumia  estariam  se  dirigindo  para  o local  da  luta.

Durante  toda  tarde,  o  navio  alemão  navegou  à  procura  do  porto  de  Montevidéu.  Perto,  seguindo  seu  rumo,  os dois  cruzadores  menores  ingleses,  Ajax  e  Aquiles,  não  abandonavam  o  rastro  do  inimigo.  Enquanto  isso,  a toda  máquina,  aproximava-se  o  Cumberland,  enviado  apressadamente  da  base  das  Malvinas.  Dirigiu-se  para o  lugar  dos  acontecimentos,  também  a  força  K,  composta  pelos  barcos  Renown  e  Ark  Royal.  Essas  duas unidades  se  encontravam  ainda  a  600  milhas  de  Pernambuco.  Sua  intervenção  na  ação  era  muito  pouco provável.  O  Almirantado  em  conseqüência,  procedeu  astutamente  e  fez  emitirem  mensagens  dizendo  que  tal força    se  encontrava  ao  sul  do  Rio  de  Janeiro  e  avançava  à  velocidade  de  30  nós.

 

Assim,  chegou  a  noite  e  o  encouraçado  alemão  alcançou  seu  objetivo.  Antes  da  meia  noite  entrou  no  porto  de Montevidéu.  O  comandante  alemão  Langsdorff,  de  Montevidéu,  irradiou  no  dia  16  uma  mensagem  destinada ao  Alto  Comando  da  Marinha  de  guerra  alemã.  Seu  texto  dizia:  “Posição  das  forças,  em  Montevidéu.  Além de  cruzadores  e  destróieres,  o  Ark  Royal  e  o  Renown”.  Bloqueio  estreito  durante  a  noite.  Fuga  a  mar  aberto  e escapada  as  águas  alemães  impossível.  Solicito  decisão  a  respeito  de  se  o  barco  deve  ser  afundado  apesar  da pouca  profundidade  do  Rio  da  Prata  ou  se  é  preferível  internação”.  A  resposta  não  se  fez  esperar.  “Tente estender  permanência  águas  neutras.  Abra  caminho  lutando  para  Buenos  Aires  se  for  possível.  Não  se  interne no  Uruguai.  Tente  destruição  efetiva  se  decidir  afundar  o  navio”.

Enquanto  isso,  o  navio  era  objeto  de  contínuos  e  intensos  trabalhos  de  recondicionamento  por  parte  da tripulação.  Os  buracos  feitos  pelas  granadas  inimigas  foram  cobertos  por  grossas  pranchas  de  aço  e  os  restos das  estruturas  derrubadas,  desarmadas  e  afastadas  para  não  dificultar  a  tarefa.  A  tripulação  se  dedicou ativamente  à  tarefa  de  limpar  e  ainda  lustrar  os  bronzes  do  navio,  como  se  efetivamente  a  partida  fosse iminente.  Outras  tarefas,  dramáticas,    haviam  sido  cumpridas.  A  primeira  foi  a  descida  para  terra  dos feridos,  para  maior  cuidado.  Muitas  ambulâncias  os  conduziram  sem  demora  para  hospitais  e  sanatórios. Vários  furgões  cumpriram  a  tarefa  também  dolorosa  de  transportar  os  tripulantes  mortos.

O  comandante  Langsdorff,  porém,  cumpria  diversas  diligências  destinadas  a  obter  uma  ampliação  do  prazo de  72  horas  a  que  tinha  direito  o  navio  antes  de  abandonar  o  porto.  Junto  ao  pessoal  diplomático  e  da respectiva  embaixada,  o  marinheiro  alemão  esgotou  seus  recursos.  Mas,  tudo  foi  em  vão.

A  grande  decisão:

Foi  com  grande  surpresa  que  a  tripulação  recebeu  ordens  de  abandonar  o  navio  e  transportar-se  para  uma navio  alemão,  o  Tacoma.,  que  se  achava  no  porto  de  Montevidéu.  Porém,  conhecendo  a  gravidade  do momento,  obedeceu  e  abandonou  o  encouraçado.  Um  total  de  700  homens  foram  transportados,  ficando  a bordo  somente  o  mínimo  de  tripulantes  necessários  para  por  em  marcha  e  dirigir  o  navio  naquela  que  seria sua  última  viagem.  Por  fim,  às  18:15,  do  dia  17  de  dezembro,  o  Graf  von  Spee  levantou  âncoras  e  abandonou o  porto.  Duas  horas  e  meia  depois,  às  20:54,  o  avião  do  cruzador  Ajax  que  seguia  a  manobra  do  alto  e  ao longe,  enviou  a  seguinte  mensagem:  “O  Graf  Spee  está  em  brasas”.

No  dia  seguinte,  18  de  dezembro,  a  tripulação  do  encouraçado  alemão  chegou  ao  porto  de  Buenos  Aires  a bordo  de  três  rebocadores.  Com  eles  vinha  o  seu  comandante,  Hans  Langsdorff  e  a  oficialidade  do  navio.  Um dia  depois,  19  de  dezembro,  o  comandante  Langsdorff  visitou  seus  homens,  rodeado  por  seus  oficiais.  Foi sua  última  revista.  E  sua  última  arenga.  Após  exortá-los  ao  cumprimento  do  dever  e  a  lealdade  à  pátria distante,  Langsdorff  se  afastou  de  sua  antiga  tripulação.

Pouco  depois  o  comandante  alemão  escreveu:  “Agora  posso  provar,  por  meio  da  minha  morte,  que  as  forças do  Terceiro  Reich  estão  prontas  para  morrer  em  honra  de  sua  bandeira.  Sou  o  único  responsável  pelo afundamento  do  encouraçado  de  bolso  Almirante  Graf  von  Spee.  Sinto-me  feliz  de  oferecer  minha  vida  em troca  de  qualquer  dúvida  que  possa  surgir  acerca  da  honra  de  minha  bandeira”.

No  dia  19,  à  noite,  o  comandante  Langsdorff  se  suicidou  disparando  uma  bala  na  cabeça.  No  dia  20,  pela manhã,  seus  homens  acharam  seu  corpo  sem  vida.  Hans  Langsdorff  havia  cumprido  a  tradição  de  não sobreviver  a  sua  nave.

Os  sucessores  do  Graf  Spee:

A  campanha  do  Admiral  Graf  Spee,  curta  mais  frutífera,  confirmou  a  eficiência  dos  planos  traçados  pelo Almirante  Raeder,  chefe  da  Kriegsmarine.  Esses  planos  concebidos  para  hostilizar  os  barcos  mercantes aliados  e  conseguir  a  dispersão  das  unidades  pertencentes  à  frota  de  guerra  britânica  haviam-se  cumprido plenamente.  Com  efeito,  grande  quantidade  de  navios  de  guerra  britânicos  tiveram  que  ser  deslocados  para  o Atlântico  Sul  e  para  o  Índico,  onde  se  supunha  operava  o  navio  alemão.  Prosseguindo  com  o  plano estabelecido,  o  Alto-Comando  naval  alemão  enviou  ao  Atlântico,  entre  os  meses  de  abril  e  junho  de  1940, cinco  barcos  mercantes  corsários,  poderosamente  armados.  Outro  navio  desse  tipo  alcançou  o  Pacífico depois  de  uma  longa  e  arriscada  travessia  através  dos  mares  gelados  do  norte  da  Rússia.

A  flotilha  de  corsários  realizou  uma  série  de  audazes  ataques  aos  barcos  mercantes  aliados  e  espalhou  o  caos nas  rotas  de  navegação.  Em  fins  de  setembro  de  1940,  os  corsários  que  operavam  no  Atlântico  e  no  Índico tinham  conseguido  afundar  36  navios  aliados.  O  êxito  dessas  operações  levou  a  marinha  alemã  a  arriscar

 

novamente  suas  grandes  unidades  de  guerra.  Efetivamente,  em  fins  de  outubro  de  1940,  no  dia  27,  o  navio gêmeo  do  Graf  Spee,  o  Admiral  Scheer,  comandado  pelo  Capitão  Krancke,  internou-se  no  Atlântico  a  fim  de atacar  os  comboios  que  abasteciam  a  Inglaterra.  Um  mês  depois,  o  cruzador  Hipper  fez-se  ao  mar  com  os mesmos  fins.  O  Scheer  estendeu  suas  operações  ao  Atlântico  Sul  e  ao  Índico  e  conseguiu  em  uma  campanha de  quase  cinco  meses  de  duração,  afundar  16  navios  aliados.  As  vitórias  obtidas  pelas  unidades  citadas fizeram  que  Raeder  empenhasse  nas  operações  seus  grandes  navios  de  guerra,  o  Gneisenau  e  o  Scharnhorst que,  depois  de  serem  submetidos  aos  necessários  reparos,  após  sua  campanha  da  Noruega,  achavam-se estacionados  no  porto  francês  de  Brest.

Em  3  de  fevereiro  de  1941,  os  dois  navios  sob  o  comando  do  Almirante  Lutjens,  internaram-se  no  Atlântico, amparados  pela  neblina.  Simultaneamente,  o  Hipper,  que  havia  retornado  a  Brest  após  sua  primeira  incursão, zarpou  também  rumo  ao  Atlântico  Sul.  Os  dois  cruzadores  alemães,  avistaram,  5  dias  depois,  um  comboio britânico.  O  Almirante  Lutjens  decidiu  não  atacá-lo,  ao  comprovar  que  estava  escoltado  pelo  encouraçado inglês  Ramillies.  Mas  este  primeiro  contratempo  viu-se  rapidamente  compensado  pela  aparição  de  novas presas.  Em  um    dia,  o  Gneisenau  e  o  Scharnhorst,  com  seus  poderosos  canhões,  afundaram  cinco  navios mercantes  britânicos.  Após  esta  vitória,  Lutjens  afastou-se  rapidamente  para  o  sul  para  iludir  o  possível contragolpe  da  frota  de  guerra  inglesa.  Os  barcos  alemães  conseguiram  seu  maior  êxito  entre  os  dias  15  e  16 de  março,  quando  destruíram  ou  capturaram  16  navios  mercantes  aliados.  Lutjens  julgou  então  prudente  dar por  terminada  a  campanha.  Sem  ser  interceptado,  conseguiu  entrar,  no  dia  22  de  março,  no  porto  de  Brest. Enquanto  isso,  o  Hipper  realizou  um  ataque  devastador  contra  um  comboio  britânico  integrado  por  19 navios.  Disparando  incessantemente  seus  canhões,  conseguiu  afundar  9  dos  navios.  Em  seguida  afastou-se  a toda  máquina,  e  conseguiu  chegar  a  Brest.

Assim,  com  esses  audazes  golpes,  os  navios  alemães  conseguiram  forçar  a  frota  britânica  a  retirar  seus efetivos  da  ação  direta  e  empregá-los  na  caça  aos  corsários.  A  essa  difícil  tarefa  some-se  também  a  ação contra  os  submarinos.

Hitler  põe  fim  à  ação  dos  corsários:

No  dia  21  de  maio  de  1941  a  Marinha  britânica  teve  de  enfrentar  uma  nova  e  terrível  ameaça.  Nesse  dia  foi avistado  o  poderoso  encouraçado  alemão  Bismarck  acompanhado  pelo  cruzador  Prinz  Eugen,  no  fiorde  de Bergen,  Noruega.  Rapidamente  a  frota  britânica  mobilizou  seus  principais  efetivos  e  após  uma  árdua perseguição,  conseguiu  afundar  o  Bismarck.  Em  Brest,  ficaram,  ainda  o  Gneisenau  e  o  Scharnhorst,  que  em qualquer  momento  podiam  voltar  a  repetir  suas  façanhas.  Para  impedir  isso  a  RAF  realizou  então  cerca  de 300  reides  contra  este  porto.  Atingidos  pelo  fogo  antiaéreo,  os  aviões  ingleses  sofreram  terríveis  perdas.  Os navios  alemães,  ao  contrário,  saíram  imunes  dos  múltiplos  ataques.    leve  avarias.

Com  a  entrada  dos  Estados  Unidos  no  conflito,  em  dezembro  de  1941,  apresentou-se  uma  extraordinária possibilidade  aos  corsários  alemães.  Com  efeito,  o  campo  de  ação  dos  mesmos,  ampliara-se consideravelmente.  Ficaram  expostos  aos  seus  ataques  as  águas  do  Atlântico  ocidental  e  as  do  mar  do Caribe.

A  frota  submarina  alemã  aproveitou  essa  situação  com  extraordinários  resultados.  Os  corsários,  no  entanto, não  puderam  fazer  o  mesmo,  pois  Hitler,  acreditando  erradamente  que  os  aliados  pretendiam  invadir  a Noruega,  ordenou  que  todas  as  grandes  unidades  de  superfície  se  dirigissem  para  aquele  país.  O  Tirpitz chegou  a  Trondheim  em  janeiro  de  1942  e  uniram-se  a  ele  logo  depois  o  Scheer  e  o  Hipper.  O  Gneisenau,  o Scharnhorst  e  o  Prinz  Eugen  conseguiram  por  sua  vez,  em  uma  audaz  manobra  realizada  sob  a  proteção  da Luftwaffe,  abandonar  Brest  e  atravessar  o  Canal  da  Mancha.  Posteriormente,  após  sofrer  avarias  ocasionadas pelas  minas,  alcançaram  o  porto  de  Kiel.  Ali  o  Gneisenau  foi  seriamente  danificado  pelos  bombardeiros  da RAF  e  não  interveio  mais  nas  operações.  As  outras  duas  unidades  dirigiram-se  para  a  Noruega  onde  atuaram, junto  com  o  Tirpitz,  em  algumas  incursões  contra  os  comboios  aliados  que  se  dirigiam  para  a  Rússia.

ANEXO

Abordagem:

A  silhueta  do  navio  se  recortou  à  distância.  Uma  chaminé  fumegava  sem  parar,  deixando  um  traço  que  escurecia  o  céu. Nos  costados,  os  marinheiros  do  Graf  Spee  contemplam  o  navio  silenciosos.  Um  apito  soou,  estridente.  Os  homens  se mobilizaram  imediatamente.  Ocuparam  seus  lugares  de  combate  e  se  prepararam  para  a  ação.  O  Graf  Spee  cortou  as águas  mudando  sua  rota.  Lenta  mas  firmemente,  aproximou-se  do  barco  inimigo.  Os  esforços  deste  último  para  fugir  do encouraçado  foram  inúteis.  Por  fim,  quando  apenas  algumas  centenas  de  metros  separavam  as  duas  embarcações,

 

partiram  do  Graf  Spee  os  sinais  de  rotina.  “Detenham  a  marcha...  Silenciem  o  rádio...  Detenham  a  marcha...  Silenciem  o rádio...”  O  barco  inimigo,  um  navio  mercante  inglês,  desobedecendo  a  advertência,  tentou  valentemente  forçar  a situação.  Virou  rapidamente  e  afastou-se  a  toda  máquina.  Ouviu-se  uma  ordem  no  Graf  Spee.  Seguiu-se  um  fogacho  e uma  surda  detonação.  Uma  massa  de  água  se  levantou  a  poucas  dezenas  de  metros  da  proa  do  navio  mercante  inglês. Era  o  primeiro  aviso.    não  se  podia  mais  esperar.  Era  possível,  quase  certo,  que  o  transmissor  inimigo  estivesse irradiando  continuamente  o  pedido  de  auxílio  e  a  posição  das  duas  naves.  Não  se  podia  mais  correr  riscos.  Ouviu-se uma  nova  ordem.  Atrás  dela,  nova  detonação.  Desta  vez,  o  alvo  estava  enquadrado.  A  chaminé  do  navio  inglês  saltou aos  pedaços.  Instantes  depois,  o  barco  detinha  sua  marcha.  Então  o  Graf  Spee  parou  seus  motores.  Uma  lancha, conduzindo  vários  oficiais  e  um  grupo  de  marinheiros  armados  foi  posta  na  água.  Em  seguida,  rumou  para  o  barco inimigo.  Uma  nova  presa  havia  sido  feita.

Abastecimento  em  alto  mar:

A  proa  cortava  rapidamente  as  ondas.  Em  ambos  os  costados,  uma  chuva  de  espuma  voava,  decompondo  a  luz  do  sol em  mil  cores.  Da  ponte,  vários  oficiais  perscrutavam  o  horizonte.  O  capitão  Langsdorff  juntou-se  a  eles.  A  oficialidade assumiu  posição  de  sentido.  A  um  gesto  do  chefe,  os  homens  voltaram  à  sua  atitude  anterior.  De  repente,  um  deles lançou  uma  exclamação:  -  Ali  está!  Todos  olharam  para  a  direção  assinalada.  De  fato,  ali  estava.  Era  um  navio mercante.  Recortava-se  no  horizonte.  À  primeira  vista.  Era  uma  embarcação  comum.  Mas  para  os  oficiais  do  Graf  Spee, era  algo  mais.  Era  um  auxiliar  indispensável:  o  Altmark.  Vários  botes  do  Graf  Spee  foram  baixados  para  as  águas. Alguns  oficiais  tomaram  lugar  neles  e  se  dirigiram  para  o  navio  que  avançada  em  sua  direção.  Pouco  depois,  já próximos  os  dois  navios,  detiveram  a  marcha.  Durante  várias  horas  os  homens  do  Graf  Spee  e  do  Altmark  cruzaram-se uma  e  muitas  vezes.  Barris,  bolsas,  canhões,  remédios  e  outros  objetos  foram  rapidamente  conduzidos  do  Altmark  para o  Graf  Spee.  Através  dos  cabos  telefônicos,  estendidos  entre  os  dois  navios,  a  oficialidade  deu  informações  e  pediu dados.  Enquanto  isso,  os  botes  continuavam  a  sua  tarefa.  Horas  mais  tarde,  depois  de  retirarem  os  cabos  e  as  cordas,  a tarefa  estava  concluída.  Os  botes  foram  içados  e  as  naves  de  prepararam  para  se  afastar.  No  Altmark,  as  bandeiras começaram  sua  dança  de  palavras-chave.  A  resposta  não  se  fez  esperar.  Pouco  depois,  os  motores  do  Graf  Spee começaram  a  roncar.  Rapidamente  pôs-se  em  movimento  e  acelerou  a  marcha.  Os  homens,  acomodados  nas  bordas  da poderosa  nave,  cravaram  os  olhos  no  navio  mercante  que  se  tornava  pequeno  à  distância.  Um  pedaço  da  pátria  ficava ali.

Transformação:

Os  homens  se  alinharam  na  coberta.  Vários  oficiais,  dividindo-os  em  grupos,  explicaram-lhes  sua  missão.  Pouco  depois, munindo-se  de  grandes  pedaços  de  madeira,  cordas,  pregos,  martelos  e  baldes  de  tinta,  os  marinheiros  se  espalharam pelo  navio.  Uma  estranha  atividade  começou  então.  Grandes  tábuas  foram  pregadas,  cobrindo  as  torres  de  tiro.  Extensas lonas  foram  esticadas,  envolvendo-as.  Depois,  a  pintura  foi  feita  rapidamente,  por  dezenas  de  marinheiros  que  assim, dissimularam  aquelas  estruturas.  A  transformação  estava  concluída.  O  Graf  Spee  perdera  seu  aspecto  característico. Vista  à  distância,  a  formidável  nave  de  guerra,  cuja  silhueta  o  inimigo  conhecia  de  cor,  havia  desaparecido.  Em  seu lugar  aparecia  a  desconhecida  silhueta  de  outro  navio  qualquer.  Qual?  Ninguém  poderia  dizê-lo.  Porque  aquele  navio não  existia.  Havia  sido  criado  em  horas.  Era  um  milagre  da  camuflagem.

Encouraçado  Admiral  Graf  von  Spee:

Pelo  Tratado  de  Versalhes,  a  Alemanha  viu-se  impedida  de  construir  navios  de  guerra  de  mais  de  10.000  tons.  A limitação  tinha  por  objetivo  tornar,  de  certa  forma,  inofensiva  a  frota  de  guerra  alemã.  Mas,  a  ciência  naval  germânica achou  a  fórmula  para  burlar  a  disposição  aludida.  Exemplo  disso  foram  os  encouraçados  de  bolso.

Deslocamento:  10.000  toneladas

Motores:  54.000  HP

Velocidade  (em  nós):  26

Autonomia  (em  milhas):  10.000

Armamento:  6  canhões  de  280  mm;  8  de  150  mm;  6  de  105  mm;  8  de  37  mm  e  8  tubos  lança-torpedos.

Presa  cobiçada:

O  encouraçado  Graf  Spee  navegava  a  toda  força.  Sua  missão  era  a  de  afundar  a  maior  quantidade  possível  de  navios inimigos.  A  oportunidade  de  fazê-lo  se  apresentava  novamente.  Os  observadores  do  Graf  Spee  deram  a  voz  de  alarme. A  tripulação  se  preparou  imediatamente  para  a  ação.  Longe  ainda,  a  silhueta  de  um  navio  mercante  se  perfilava  contra  o horizonte.  Pouco  depois,  a  distância  se  havia  encurtado  consideravelmente.  Foi  nesse  instante  que  os  sinaleiros  do encouraçado  alemão  indicaram  ao  navio  desconhecido  que  detivesse  a  marcha.  Este,  sem  acatar  a  ordem,  forçou  as máquinas,  tentando  escapar.  Mas  os  canhões  do  Graf  Spee  troaram  imediatamente.  Uma  tromba  d’água  se  levantou  na proa  do  mercante.  A  pontaria  era  excelente.  O  aviso  deu  resultado.  As  máquinas  do  barco  desconhecido  detiveram  a  sua marcha  instantes  depois.  A  tripulação  de  abordagem  chegou  minutos  depois,  fortemente  armada.  Após  minuciosa vistoria  nas  despensas,  comprovou-se  que  o  navio  transportava  um  rico  carregamento.  Sem  perda  de  tempo,  o  capitão Langsdorff  e  seus  oficiais  estudaram  a  situação.  Restavam  dois  caminhos:  afundá-lo  com  seu  carregamento  ou  arriscar tudo,  rebocando  o  navio  até  a  proximidade  do  Altmark.  Decidiu-se  pela  última  solução.  Pouco  depois,  preso  ao  Graf

 

Spee  por  fortes  cabos  de  aço,  o  navio  mercante  pôs  novamente  em  marcha  as  sua  máquinas  e  retomou  o  avanço...  Dias depois,  a  apareceu  subitamente  o  Altmark,  chamado  por  mensagem  cifrada.  Procedeu-se,  então,  o  transporte  do  rico carregamento.  Depois,  os  prisioneiros.  Por  último,  após  afundar  o  navio  mercante  e  reabastecer-se  de  petróleo,  o  Graf Spee  recomeçou  a  marcha.  A  aventura  havia  tido  êxito.

Sacrifício:

Todo  o  povo  de  Montevidéu    se  havia  postado  no  cais.  Das  sacadas  dos  prédios  mais  altos,  milhares  de  pessoas seguem  a  marcha  de  um  barco.  Muitos  utilizam  binóculos,  outros  cobrem  os  olhos  com  as  mãos  transformadas  em quebra-luz.  Todos  estão  ansiosos,  amigos  e  inimigos.  O  espetáculo  que  contemplam  é  único  nessa  terra  de  paz.  Um navio  marchando  para  o  combate  jamais  partiu  daquele  porto.  Menos  ainda  um  encouraçado.  Um  grande  silêncio  se estende  sobre  a  cidade.  Longe,  a  centenas,  a  milhares  de  km,  em  outras  cidades  de  outros  países,  as  comunicações  de rádio  obrigam  a  guardar  o  mesmo  silêncio.  As  notícias  são  dramáticas.  “O  navio    zarpou...  Dirige-se  para  a  saída  do porto...  Ao  longe,  podem-se  ver  os  navios  ingleses...”  Uma  competição  que  leva  a  um    resultado:  morte.  De  repente,  a nave  se  detém.  Ainda  pode  ser  vista  do  porto  de  Montevidéu.  O  enigma  é  explicado  10  segundos  depois.  Pequenos pontos  negros  se  elevam  de  suas  bordas.  São  alguns  botes  salva-vidas,  carregados  com  os  últimos  homens  que permaneciam  a  bordo.  Subitamente,  a  terra  estremece.  O  velho  rio  parece  sacudir-se  em  seu  leito.  Uma  estrondosa explosão  provoca  mil  ecos  que  ressoam  muitas  vezes.  Outra  explosão,  e  outra  mais,  e  ainda  muitas  outras.  Línguas  de fogo  se  elevam  sobre  a  superfície  do  rio.  Altas  colunas  de  fumo  se  levantam,  dando  à  nave  o  aspecto  de  uma  pira funerária.  O  navio  começa  lentamente  a  desmoronar-se.  Pontes,  torres,  estruturas  que  se  despregam,  somando  surdos ecos  à  sucessão  de  explosões  que  não  param.  No  interior  do  barco,  com  o  caminho  aberto  pelos  projéteis  que  se  lançam em  todas  as  direções,  a  água  invade  tudo.  Um  momento  depois  tudo  termina.

O  “Spee”  em  Buenos  Aires:

Chegava  as  primeiras  horas  da  tarde.  Sobre  o  rio  da  Prata,  aproximando-se  lentamente  de  Buenos  Aires,  vários rebocadores  apresentavam  um  estranho  aspecto.  Suas  pequenas  cobertas,  os  botes  salva-vidas  e  as  bordas,  permaneciam ocultas  por  uma  multidão  de  homens  jovens,  que  vestiam  uniformes  da  marinha  de  guerra  alemã.  Eram  os  homens  do Graf  Spee.  Seu  rumo:  Buenos  Aires.  Doca  norte.  Uma  longa  fila  de  marinheiros  aguarda  pacientemente.  Permanecem silenciosos,  inibidos.  São  muitos  os  que  se  aproxima  deles  e  os  saúdam  cordialmente.  Respondem  com  gestos  e  sorrisos e  as  mãos  se  agitam.  Ainda  estão  aturdidos  por  tudo  o  que  aconteceu  e  mal  podem  crer  que  a  guerra  terminou  par  eles. Um  momento  depois,  o  exame  médico  dos  marinheiros  termina.  Começa  então  o  trabalho  de  identificação.  Depois  de terminado,  os  homens  são  conduzidos  ao  Hotel  dos  Imigrantes.  O  pesadelo  está  terminado.

Um  homem  e  seu  barco:

19  d  dezembro  de  1939.  Buenos  Aires.  Os  marinheiros  do  Spee  comentam  risonhamente  a  aproximação  do  Natal.  Para muitos,  talvez  para  todos,  aquele  é  o  primeiro  fim  de  ano  que  passam  fora  de  casa,  longe  dos  parentes.  Muitos receberam  presentes,  simples  ou  modestos,  que  testemunham  o  carinho  de  um  povo  que  não  quer  fazer  diferença  entre amigos  e  inimigos,  de  um  povo  que  não  conhece  a  dor  da  guerra,  mas  pode  percebê-la  através  das  experiências  de muitos  homens  afastados  de  seu  lares.  Dezenas  de  marinheiros  enchem  suas  horas  com  uma  única  ocupação:  escrever para  a  terra  distante.  Cartas  aos  pais,  aos  amigos,  às  noivas.  Nessa  manhã,  inesperadamente,  surge  uma  visita.  É  o Capitão  Langsdorff.  Aparece  como  nas  grandes  revistas  de  bordo,  rodeado  por  seu  Estado-Maior.  Vem  em  uniforme  de gala  e  as  condecorações  cobrem  seu  peito.  Os  homens  se  perfilam.  Langsdorff  passa  revista  lentamente  e  depois  se detém  na  frente  deles.  Fala-lhes  com  emoção:  -  A  honra  da  Alemanha  está  acima  de  tudo.  Confio  em  vós,  em  vosso sentimento  de  dever,  em  vosso  sentido  de  disciplina.  Quando  se  retira,  minutos  depois,  um  grande  silêncio  cai  sobre  os marinheiros  que  ainda  permanecem  em  posição  de  sentido.  Compreendem  que  continuam  sendo  combatentes,  que  seus uniformes  ainda  representam  a  Alemanha.  Compreendem  que  o  capitão  confia  neles  e  pede-lhes  que  não  esqueçam  sua condição.  Muitos  fazem  a  mesma  pergunta:  qual  o  motivo  daquelas  palavras  emocionadas?  Por  que  aquela  arenga  que mais  parece  uma  despedida?  Na  manhã  seguinte,  20  de  dezembro,  cinco  dias  antes  do  Natal,  tem  a  resposta.  Langsdorff deixara  de  existir.  Durante  a  noite,  vestido  com  seu  uniforme  de  gala  e  com  o  peito  cheio  de  medalhas,    em  seu quarto,  o  capitão  se  suicidara.

O  sacrifício  do  Jervis  Bay:

5  de  novembro  1941,  O  encouraçado  alemão  de  bolso  Admiral  Scheer  navegava  em  águas  do  Atlântico.  Seu  avião  de reconhecimento  foi  lançado  ao  ar,  patrulhando  a  zona,  em  busca  de  navios  inimigos.  São  16:50.  O  piloto  do  avião comunica  que  avistou  um  comboio  inimigo  integrado  por  37  navios  e  escoltado  por  um  barco  mercante  armado. Imediatamente  o  Scheer  lança-se  na  direção  indicada  e  avista  os  navios.  A  presa  é  fácil  e  o  resultado  da  luta  pode  ser previsto.  No  entanto,  os  homens  do  Scheer  não  calcularam  uma  possibilidade  sempre  latente:  o  heroísmo  e  o  espírito  de sacrifício.  E  as  duas  qualidades  estão  ali,  representadas  pelos  homens  do  mercante  armado.  O  pequeno  e  quase inofensivo  barco  escolta  é  o  Jervis  Bay.  Navega  sob  o  comando  do  Capitão  Fegen  e  sua  tripulação  é  de  apenas  200 homens.  O  Jervis  Bay,  à  vista  do  Scheer,  muda  sua  direção  e  dirige-se  a  toda  máquina  contra  o  encouraçado.  O  Capitão Fegen  sabe  que  seu  navio  nada  pode  fazer,  mas  sabe  também  que  seu  pequeno  barco  pode  distrair  o  encouraçado enquanto  os  navios  do  comboio  se  dispersam  ou  fogem.  E  seus  canhões,  pequenas  peças  de  pouco  alcance,  abrem  fogo

 

contra  o  encouraçado  alemão.  O  Scheer  imediatamente  responde  com  todas  suas  peças.  O  combate  desproporcional, irreal,  prolonga-se  até  as  primeiras  horas  da  noite.  Às  20:00  o  Jervis  Bay,  destroçado  pelos  impactos  do  encouraçado alemão,  começa  a  afundar.  A  bordo,  sem  abandonar  o  navio,  afundam  com  ele  200  oficiais  e  marinheiros.  Na  ponte  de comando,  sem  desfalecer,  permanece  até  o  último  momento  o  Capitão  Fergen.  O  sacrifício  foi  consumado.  Mas  teve  um objetivo:  salvar  os  navios  do  comboio.

 

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