quarta-feira, 26 de julho de 2023

Segunda Guerra Mundial - 1939 Resistência Na Europa Ocupada

 

Resistência
“Maquis”  e  “Partisans”  de  armas  em  punho

Resistência  na  Europa  Ocupada:

Berlim,  5  de  setembro  de  1939.  Convidado  pelo  governo  alemão,  um  representante  da  imprensa  estrangeira, escolhido  pelos  correspondentes,  foi  levado  num  avião  oficial  para  Czestochowa.  Na  volta,  esse  jornalista declarou:  "Nas  imediações  ouvimos  disparos  intermitentes  e  o  fogo  da  artilharia  antiaérea  alemã  que  entrara em  funcionamento.  Numa  esquina  havia  dois  cavalos  mortos  que  ninguém  se  preocupava  em  retirar.  Diante dos  edifícios  crivados  de  balas  e  com  os  vidros  arrebentados,  vimos  passar  uns  trinta  civis  poloneses  que marchavam  com  as,  mãos  erguidas,  custodiados  por  soldados  alemães  com  baioneta  calada.  Um  oficial alemão  nos  explicou  que  se  tratava  de  franco-atiradores  e  constituíam  um  dos  maiores  problemas  com  que tropeçavam  agora  nas  cidades  os  soldados  alemães.  Por  essa  razão,  fôra  resolvido  capturar  todos  os  civis  em idade  de  portar  armas  e  levá-los  para  a  Prefeitura.  O  avião  chegou  ao  aeródromo  improvisado  de  Stubendorf, perto  de  Oppeln.  Ao  aterrissar,  um  tenente-coronel  nos  esperava  e  nos  avisou  que  não  poderíamos  ir  a Czestochowa,  porque  tinham  notícias  de  que  os  franco-atiradores  haviam  entrado  em  ação.  Chegou  então  um suboficial  que  nos  assegurou:  'Temos  tentado  ir  a  Czestochowa,  porém  tivemos  que  voltar  porque  no caminho  os  camponeses  fizeram  fogo  pelos  dois  lados'.  Pouco  antes  de  chegar  à  fronteira  polonesa,  em Gutentag,  deparamos  com  uma  barricada,  rodeada  de  arames  farpados,  e  com  uma  espécie  de  galpão  numa das  suas  extremidades.  Soube  que  ali  haviam  reunido,  durante  a  noite,  uns  1.100  poloneses,  para  mais  tarde serem  transportados  aos  campos  de  concentração  próximos.  Todos  eram  acusados  de  disparar  contra  as tropas  alemãs.  Um  oficial  comentou:  'As  mulheres  da  Polônia  lutam  como  tigres'.  A  pequena  localidade  de Graszyn,  vizinha  de  Czestochowa,  que  se  dedica  à  fabricação  de  ladrilhos,  foi  reduzida  a  cinzas.  Segundo outro  oficial,  a  população  se  rebelou  depois  da  entrada  das  unidades  alemãs".

O  texto  acima  citado  foi  distribuído  à  imprenso  mundial  apenas  quatro  dias  depois  de  começada  a  Segunda Guerra  Mundial.  E  demonstra  que,  quase  simultaneamente  com  a  chegada  das  tropas  alemães,  começou  a Resistência  nos  setores  ocupados.  Mais  até,  a  Resistência  se  iniciou  no  mesmo  dia  em  que  a  guerra  começou. E  teve  início,  indiscutivelmente,  com  o  primeiro  soldado  polonês  que  tirou  o  uniforme  e  escondeu  o  fuzil.

A  Resistência  na  Polônia:

O  General  Bor  Komorowski,  figura  chave  na  organização  da  Resistência  polaca,  assim  descreve  o  início  do movimento:

"Quando  soube  que  devia  ficar  e  elaborar  um  plano  para  a  organização  do  exército  secreto  da  Resistência, tive  que  formular  métodos  práticos  para  a  execução  desse  plano.  Nenhum  de  nós  tinha  a  menor  experiência nesses  assuntos...

"As  primeiras  medidas  consistiram  em  formar  pequenos  grupos  de  civis  e  militares  desmobilizados,  unindo- os  em  células  de  cinco  homens.  Cada  um  dos  membros  de  uma  célula  podia  conhecer  somente  seus  quatro companheiros.  Por  sua  vez,  cada  um  devia  organizar  um  novo  grupo  de  cinco  combatentes  clandestinos".

Dessa  forma,  a  organização  começou  a  crescer,  sempre  sob  a  direção  suprema  de  Bor  Komorowski.  Era proibido  o  uso  dos  verdadeiros  nomes  e  foram  escolhidos  diversos  pseudônimos.  As  áreas  de  operações foram  em  seguida  divididas  em  setores,  que  ficaram  cobertos  por  um,  dois  ou  mais  grupos.  Também  foram nomeados  comandantes  de  setor,  que  tinham  sob  suas  ordens  os  diferentes  grupos.

O  passo  seguinte  consistiu  em  adestrar  os  homens  no  uso  das  armas.  Estas,  polonesas  e  alemãs,  eram desconhecidas  para  muitos  dos  combatentes  clandestinos,  muitos  deles  adolescentes.  Foram  então organizadas  verdadeiras  escolas  militares,  onde  os  homens  se  familiarizavam  com  o  emprego  da  arma  curta, o  fuzil  e  a  metralhadora.  Também  os  explosivos  mereceram  uma  especial  atenção,  visto  que, indiscutivelmente,  seriam  intensamente  utilizados  nas  operações  previstas.

Bor  Komorowski,  na  Cracóvia,  organizou  um  estado-maior  e  determinou  os  locais  que  serviriam  de  refúgios e  centros  de  reuniões.  Estes  últimos  foram  denominados  com  palavras  em  código,  para  evitar  o  risco representado  pelo  envio  de  ordens  escritas.  Simultaneamente,  as  pessoas  em  cujas  casas  se  efetuavam  as reuniões,  desconheciam  os  homens  que  se  reuniam,  não  sabendo  senão  o  dia  e  a  senha  convencionada.

Além  dos  grupos  de  comando  e  os  setores  combatentes,  precisaram  criar  também  serviços  de  inteligência, com  o  fim  de  antecipar-se  às  atividades  dos  alemães  e  também  informar-se  acerca  dos  objetivos  a  serem atacados.

As  comunicações  a  longa  distância,  impossíveis  de  efetuar  com  agentes,  tornaram  necessária  a  criação  de uma  rede  de  estações  de  telégrafo  sem  fio,  que  permitiram  o  intercâmbio  de  informações  e  ordens  em  poucos minutos.

A  imprensa  polaca,  por  seu  turno,  suprimida  radicalmente  pelos  nazistas,  foi  substituído  por  boletins  que, gradualmente,  aumentaram  o  número  de  suas  páginas,  até  se  converterem  em  verdadeiros  jornais.  Deve-se salientar  que  os  elementos  necessários  para  a  impressão  foram  levados,  peça  por  peça,  a  subterrâneos cavados  especialmente  e  ali  montados  novamente.  Os  subterrâneos,  construídos  geralmente  no  subsolo  de casas  vizinhas  de  fábricas,  exigiram  aos  homens  da  resistência  esforços  indescritíveis.  A  proximidade  das fábricas,  logicamente,  era  necessária  para  atenuar  o  ruído  produzido  pelas  máquinas  impressoras.

A  imprensa  clandestina  polonesa,  além  de  imprimir  boletins  e  periódicos,  contribuiu  eficazmente  para  o treinamento  dos  combatentes  da  resistência,  imprimindo  folhetos  técnicos,  a  serem  distribuídos  entre  os homens,  ensinando-os  a  manejar  armas,  elaborar  granadas  e  a  conhecer  rudimentos  sobre  estratégia.

Os  métodos  e  as  técnicas  de  sabotagem:

As  palavras  de  Bor  Komorowski  ilustram,  fartamente,  os  métodos  empregados  pelos  combatentes clandestinos  na  sua  luta  contra  os  efetivos  nazistas:  "Um  exemplo  do  que  era  a  organização  durante  o primeiro  período  de  ocupação,  é  a  sabotagem  com  que  atacamos  os  vias  férreas.  O  número  de  trens  a  serem sabotados  em  cada  mês  era  determinado  no  QG  de  Varsóvia,  num  programa  mensal.  Foi  necessário  organizar unidades  especiais  com  esse  fim.  Estudaram-se  e  imprimiram-se  instruções  com  a  colaboração  dos maquinistas  e  engenheiros  das  empresas  ferroviárias.  Somente  os  métodos  que  não  delatavam  ser  obra  de sabotagem  eram  adotados,  e  gradualmente  foram-se  aprimorando  com  a  experiência.  Em  1940,  o  período normal  de  incapacidade  a  que  ficava  sujeita  cada  locomotiva  danificada  era  de  14  horas;  em  1942,  esse período  se  alongara  a  cinco  dias;  em  1943,  a  14  dias.

"Um  produto  químico  especialmente  preparado  era  adicionado  à  graxa  das  máquinas.  Em  apenas  10  dias, nossos  observadores  em  todas  as  oficinas  de  manutenção  do  país  relataram  que  aproximadamente  200 locomotivas  tiveram  que  ser  retiradas  do  serviço,  algumas  por  três  dias,  outras  por  três  meses,  de  acordo  com a  rapidez  com  que  o  maquinista  'percebia'  que  alguma  coisa  não  ia  bem.  Os  alemães  não  tinham possibilidade  de  descobrir  a  causa  dessas  imperfeições.  Por  quase  três  semanas,  o  tráfego  ferroviário  do  país esteve  completamente  desorganizado;  numa  dessas  ocasiões,  um  grande  número  de  trens  teve  que  ser recolhido  às  oficinas,  e  os  atrasos,  freqüentemente,  ultrapassavam  24  horas...

"Vários  trens  carregados  com  gasolina  seguiam  essa  rota  diariamente.  Para  sua  destruição  usávamos  bombas incendiárias  que  nós  mesmos  fabricávamos.  Um  depósito  com  uma  carga  explosiva  era  colocado  sobre  uma alavanca  pneumática;  um  simples  impulso  da  mão  sobre  a  alavanca  era  suficiente  para  firmar  a  bomba embaixo  do  carro-tanque.  Um  dispositivo  muito  primitivo  servia  para  regular  o  tempo  da  explosão;  esse dispositivo  funcionava  impulsionado  pelo  movimento  do  trem  ao  deslizar  sobre  os  trilhos.  Assim,  podíamos regular  a  distância...  o  lugar  da  explosão.

"No  caso  de  transportes  de  minerais,  o  trabalho  era  ainda  mais  simplificado.  A  tarefa  de  colocar  um  pequeno depósito  com  carga  explosiva  entre  os  pedaços  de  mineral  levados  em  caminhões  abertos,  era  bem  fácil.  A explosão  geralmente  ocorria  quando  o  mineral  descia  pelos  condutos  que  o  levavam  aos  fornos,  danificando assim  as  instalações  das  usinas  de  fundição.

"Em  todos  os  ramos  de  sabotagem  e  atividades  subversivas,  o  método  definitivo  e  a  iniciativa  da  execução ficavam  normalmente  a  critério  daqueles  que  se  encarregavam  de  levar  a  cabo  o  trabalho.  O  procedimento correto  somente  podia  ser  decidido  e  adotado  no  lugar  escolhido  para  a  operação,  e  com  conhecimento  exato das  condições  que  prevaleceriam  nela,  porém  os  homens  que  executavam  a  façanha  nem  sempre  contavam com  os  meios  necessários  para  desempenhá-la.  Por  exemplo:  no  caso  da  sabotagem  da  reserva  de  óleo lubrificante,  nos  informaram  que  o  dano  podia  ser  causado  pelos  homens  que  trabalhavam  no  local  em  que eram  despachados  os  abastecimentos.  Porém  esses  homens  não  possuíam  as  substâncias  químicas  requeridas para  a  tarefa.  Cabia,  portanto,  a  nós,  recorrer  aos  químicos  da  organização.  Depois  de  um  mês  de  trabalho meticuloso,  foram  obtidos  100  quilos  do  produto  necessário,  que  foram  escondidos  num  acondicionamento colocado  embaixo  de  um  montão  de  carvão,  junto  com  o  qual  chegou  ao  seu  destino,  onde  foi  descarregado por  homens  inteirados  do  assunto".

A  respeito  da  produção  de  materiais  de  guerra,  Komorowski  diz  o  seguinte:  "...  fôra  mantido  até  então  por vários  centros  que  trabalhavam  separadamente.  Agora  resolvemos  centralizá-los  sob  a  supervisão  de especialistas.  Essa  supervisão  foi  confiada  pelo  QG  a  um  engenheiro  que  ficou  diretamente  sob  minhas ordens.  A  operação  completa  se  dividiu  em  duas  partes  principais:  produção  de  armamentos  para  o  futuro, quando  seriam  empregados  no  levante  geral,  e  produção  necessária  para  os  necessidades  do  dia,  consistentes em  operações  de  destruição  e  sabotagem.  Ambos  os  centros  se  mantinham  em  estreita  cooperação  e,  por  seus esforços  conjuntos,  muitos  bons  resultados  foram  conseguidos.  (Por  exemplo,  depois  de  um  longo  período  de estudos  e  experiências,  conseguimos  produzir  pistolas  automáticas  e  lança-chamas).  Enquanto  os  técnicos preparavam  planos  e  métodos  de  produção,  eu  ordenava  a  formulação  de  uma  lista  de  matérias-primas requeridas,  tomando  especialmente  em  consideração  a  demanda  relacionada  com  as  operações  que  se efetuavam  para  minar  o  inimigo.  Um  grupo  de  cientistas  trabalhava  exclusivamente  na  pesquisa  de  materiais que  poderiam  ser  empregados  em  toda  classe  de  atividades  de  destruição  e  que  melhores  resultados produzissem  em  cada  caso".

Os  esforços  dos  técnicos  e  cientistas  da  resistência  eram  freqüentemente  neutralizados  pelos  alemães,  que descobriam  a  forma  de  superar  a  ameaça  de  um  certo  explosivo  ou  de  um  determinado  artefato.  Assim, perdiam-se  horas,  dias  e  até  meses  de  esforço.  Foi  o  que  aconteceu  precisamente  com  a  chamada  “bomba altimétrica”.

Após  um  longo  processo  de  investigação  e  ensaios,  os  homens  da  Resistência  conseguiram  criar  um engenhoso  dispositivo.  Era  uma  bomba,  em  forma  de  cilindro  alongado,  que  não  permitia  supor,  pelo  seu aspeto,  o  verdadeiro  fim  ao  qual  se  destinava.  A  bomba  era  colocada  na  cauda  dos  aviões  e,  durante  um tempo  funcionou  eficazmente,  explodindo  com  a  variação  da  altura,  isto  é,  com  a  pressão  barométrica.  Dessa forma  foram  destruídos  dezoito  aviões  alemães.  Logo,  no  entanto,  os  nazistas  adotaram  rigorosas  medidas  de vigilância  em  terra  e  a  colocação  de  tais  artefatos  tornou-se  impossível.

A  interrupção  do  tráfego  ferroviário  foi  objeto  de  estudos  especiais.  De  fato,  uma  mina  colocada  numa determinada  via,  ocasionava  a  paralisação  do  tráfego  durante  quatro  ou  cinco  horas.  Porém,  freqüentemente, era  necessário  que  tal  paralisação  se  prolongasse  por  dez  ou  doze  dias.  Conseqüentemente,  tiveram  que  ser idealizados  novos  métodos  e  técnicas.  Foi  então  decidido  fazer  o  seguinte:  na  via  principal,  pela  qual circularia  o  trem  a  ser  destruído  em  primeiro  lugar,  era  colocada  a  carga  explosiva.  Simultaneamente,  nas vias  vizinhas,  por  onde  chegaria  o  trem  de  auxílio,  se  colocavam  outras  cargas.  Após  o  primeiro  objetivo voar  pelos  ares,  eram  dinamitados  também  os  dois  ou  três  trens  de  socorro  que  chegassem  ao  local.  No  caso de  uma  única  via,  os  explosivos  eram  disseminados  ao  longo  de  vários  quilômetros;  ocasionando  sucessivas explosões.  Em  qualquer  dos  casos,  a  interrupção  se  prolongava  além  das  poucas  horas  iniciais  e  se  convertia em  uma  verdadeira  catástrofe.

Uma  das  maiores  dificuldades  enfrentadas  pelos  homens  do  Resistência  era  conseguir  os  elementos necessários  para  a  fabricação  de  explosivos,  como  o  salitre,  por  exemplo.  Por  fim,  a  situação  foi  contornada, comprando  diretamente  o  vital  elemento...  dos  alemães.  De  foto,  as  duas  grandes  fábricas  de  fertilizantes  de Chorzow  e  Moscice,  que  operavam  sob  controle  nazista,  forneciam  seu  produto  às  grandes  cooperativas agrárias  e  aos  agricultores.  Bastou  que  cada  um  deles  aumentasse  ligeiramente  as  quantidades  adquiridas para  que  os  homens  da  Resistência  chegassem  a  dispor,  rapidamente,  de  grandes  quantidades  do  elemento essencial.

Passemos  a  palavra  aos  protagonistas  dos  episódios  citados,  detalhando  os  duros  trabalhos  realizados  para obter  os  tão  necessários  explosivos:  "O  melhor  produto  explosivo  com  que  poderíamos  levar  a  cabo  nossas operações  era  o  Cheddite.  Para  isso  necessitávamos  uma  provisão  de  cloreto  de  potássio  muito  difícil  de obter.  Havia  apenas  uma  fábrica  alemã  produtora  dessa  substância  na  Polônia,  em  Rodocha.  Porém,  os alemães  sabiam  muito  bem  quão  útil  esse  produto  nos  podia  ser  e  tanto  sua  produção  como  a  venda  eram regulados  pelo  mais  estrito  controle.  Os  intentos  para  apoderar-nos  de  algumas  quantidades  desse  produto  em Radocha  fracassaram  redondamente.  Felizmente,  a  carga  de  dois  vagões  foi  desfalcada  pelos  nossos, enquanto  viajava.  Também  um  assalto  a  mão  armada  que  efetuamos  nos  armazéns  mais  importantes  de Varsóvia  nos  deu  oportunidade  de  conseguir  um  pouco  mais  dessa  substância.  Os  alemães  trataram  de  pôr um  fim  a  isso,  ordenando  às  suas  firmas  que  reduzissem  a  armazenagem  do  cloreto  ao  mínimo.  Apesar  disso, os  trabalhadores  poloneses  da  grande  fábrica  de  fósforos  de  Blonie  deram  um  jeito  para  ir  enchendo  os depósitos  da  fábrica  com  quantidades  extras  de  cloreto  de  potássio...  Em  outro  caso,  o  pessoal  polaco  de  uma fábrica  alemã  pediu  uma  grande  quantidade  da  substância  química,  que  teve  de  ser  importada  do  Reich;  essa remessa  também  desapareceu.  "Para  a  produção  de  outro  explosivo,  nos  apoderamos  de  5.000  quilos  de urotropina  com  a  ajuda  dos  fabricantes  de  produtos  farmacêuticos  de  Varsóvia,  Ludwig  Spiess  &  Son,  e Drozdowicz  &  Cia.,  que  eram  nossos  melhores  fornecedores.

"No  produção  de  granadas  de  mão,  minas,  bombas  e  outros  artefatos  era  necessário  utilizar  diferentes substitutos.  Por  exemplo,  10.000  copos  de  baquelite  foram  comprados  a  fim  de  serem  convertidos  em granadas  do  tipo  "Filipinka".  Para  outro  trabalho,  tivemos  que  empregar  os  depósitos  de  água  das  lâmpadas de  acetileno,  que,  nessa  época,  eram  de  uso  generalizado  na  Polônia.  Uma  boa  partida  de  chaveiros  foi  muito útil,  empregados  como  anéis  de  detonador  nas  granadas  de  mão  e  nas  bombas.

"Às  vezes  obtínhamos  nossas  matérias-primas  e  produtos  semi-elaborados,  das  fábricas  controlados  pelos alemães,  porém  a  maior  parte  de  nossos  produtos  acabados  vinha  de  oficinas  que  funcionavam  sob  licenças legais,  mas  que  faziam  trabalhos  ilegais...  Assim,  a  fabricação  de  submetralhadoras  se  escondia,  em  grande parte,  na  confecção  de  cadeados  e  fechaduras  comuns.  As  granadas  de  mão,  popularmente  conhecidas  como Sidolowki,  porque  tinham  uma  grande  semelhança  com  os  latas  de  graxa  Sidol,  eram  fabricadas  no  mesmo lugar  onde  se  faziam  as  latas  para  a  graxa.  Os  lança-chamas  eram  confeccionados  numa  fábrica  de  extintores de  incêndios.  "Muitos  testes  deviam  ser  feitos  e  isso  era  também  motivo  de  risco,  especialmente  se  o  teste  era acompanhado  de  explosões  e  incêndios...

Vejamos  o  caso  do  lança-chamas  que  se  testou  no  próprio  centro  de  Varsóvia,  em  um  dos  lados  da  Praça  do Teatro.  Estava  decidido  que  o  teste  devia  ser  feito  nas  ruínas  de  umas  casas,  atrás  da  igreja  de  Santo  Antônio, cuja  cripta  e  cúpulas  eram  um  dos  nossos  depósitos  de  armas  e  materiais  de  guerra.  Antes  que  a  prova  se efetuasse,  o  encarregado  da  fabricação  desse  tipo  de  lança-chamas  que  dirigiria  a  experiência  avisou  a estação  de  bombeiros  do  edifício  "Tom  Hall"  e  visitou  as  autoridades  policiais.  Explicou  que  era representante  da  "Motor  Stock",  fábrica  de  extintores  controlada  pelos  alemães,  e  os  preveniu  para  que  não se  alarmassem  caso  vissem  chamas  e  fumaça,  pois  ele  e  seus  empregados  iam  testar  um  novo  tipo  de  extintor perto  da  Praça  do  Teatro.

“O  lança-chamas  funcionou  com  toda  eficiência.  As  chamas  alcançaram  uma  altura  de  seis  metros,  e  nem  a polícia,  nem  os  bombeiros,  se  mexeram  para  investigar”.

A  guerra  psicológica:

Paralelamente  com  a  ação  bélica  ativa,  os  homens  da  Resistência  levaram  a  cabo  uma  intensa  ação psicológica.  Foi  denominada  pelo  comando  "Ação  Especial  IV"  e  consistiu  em  ataques  ao  moral  do  inimigo.

Uma  dessas  ações  foi  realizada  no  dia  1 o  de  maio.  Nesse  dia,  as  fábricas  e  oficinas  receberam  comunicações especiais  do  comando  alemão,  determinando  que  as  atividades  deviam  ser  paralisadas  por  24  horas.

As  ordens  foram  emitidas  em  papel  que  ostentava  o  emblema  do  Departamento  de  Trabalho  alemão  e estavam  redigidas  em  impecável  estilo  alemão.  Os  comunicados  foram  enviados  à  última  hora,  um  dia  antes, impossibilitando  o  comando  alemão  de  descobrir  a  tempo  o  truque.  Conseqüentemente,  apesar  da  intensa campanha  que  os  alemães  fizeram  na  noite  anterior,  utilizando  alto-falantes  e  outros  meios  de  difusão,  no  dia 1 o  de  maio,  as  oficinas  e  as  fábricas,  em  sua  maioria,  permaneceram  praticamente  desertas.  Um  dia  fôra perdida  para  a  produção.  Milhares  de  horas  de  trabalho,  irrecuperáveis,  haviam  sido  ganhas  pelos  homens  da Resistência,  sem  disparar  nem  um    tiro,  nem  perder  um    homem.

Em  outra  ocasião,  todos  os  residentes  alemães  de  Varsóvia  receberam  uma  comunicação  em  papel  oficial  do Partido  Nazista.  Na  nota,  eram  informados  que  deviam  estar,  em  determinada  hora,  na  sede  do  Partido, levando  consigo  certos  alimentos  que  seriam  meticulosamente  consignados.

A  conseqüência  imediata  da  ordem  foi  uma  reunião  maciça  de  residentes  alemães  na  sede  do  Partido. Paralelamente,  centenas  de  alemães  tiveram  que  abandonar  suas  ocupações  habituais  para  obedecer  à convocação.  Por  outro  lado,  as  autoridades  alemãs,  prevendo  a  possibilidade  de  infiltração  de  elementos guerrilheiros  entre  os  alemães,  ordenaram  que  todos  os  presentes,  em  número  de  vários  milhares,  fossem minuciosamente  registrados.  Em  resumo,  tempo  perdido,  trabalho  não  realizado  e  mobilização  totalmente inútil  de  efetivos  alemães.

"Foi  para  os  maquis"

-  O  que  aconteceu  com  fulano?

-  Foi  para  os  maquis...

Após  a  ocupação  do  território  da  França  pelos  alemães,  essa  troca  de  palavras  era  freqüente  nos  povoados  e cidades.  Homens,  jovens  geralmente,  dialogavam  em  segredo  rapidamente.  O  tema,  quase  sempre,  era  o antigo  amigo  que...  "foi  para  os  maquis"...

Isso  significava  abandonar  o  lar  e  a  família,  desaparecer  legalmente  do  vida,  aceitar  as  mil  penúrias  da  vida errante,  bastar-se  a  si  mesmo,  lutar  até  a  última  gota  de  sangue  e  talvez  morrer  nas  mãos  das  tropas  de ocupação  ou  frente  a  um  pelotão  de  fuzilamento.

Na  França,  os  maquis  se  ocultavam,  preferencialmente,  nas  zonas  montanhosas  ou  em  bosques.  Os  grupos eram  integrados  por  um  número  de  homens  que  oscilava  entre  dez  e  duzentos.  Raramente  mais. Estreitamente  unidos  entre  si,  pelo  sentido  da  sua  luta  e,  também,  por  uma  disciplina  severíssima,  esses homens  afrontavam  todos  os  perigos  da  guerra,  sem  contar,  paralelamente,  com  as  roupas,  as  armas  e  os víveres  que  normalmente  abastecem  o  exército  regular;  além  disso,  os  homens  sabiam  que  deveriam  lutar sem  a  proteção  das  leis  internacionais  e  convênios  que  dão  aos  soldados  regulares  a  possibilidade  de  salvar  a vida,  após  a  captura.

Ser  maquis  era,  segundo  as  palavras  de  jornal  clandestino  que  circulava  na  França  em  meados  de  1943:  "... incorporar-se  solenemente  ao  exército  da  Resistência,  decidir-se  a  arriscar  a  vida  pela  salvação  do  país, sofrer  na  espera  da  luta  pela  libertação.

"Ser  maquis  é  dormir  no  chão  duro,  não  comer  todos  os  dias,  aceitar  uma  disciplina  de  ferro.  Ser  maquis  é não  sair  mais.  Relutante,  reflita  bem  antes  de  partir,  pesa  tuas  responsabilidades,  nós  conhecemos  as  nossas. Se  vieres  conosco,  serás  acolhido  como  um  irmão,  encontrarás  entre  nós  um  ideal  maravilhoso,  digno  dos verdadeiros  combatentes:  o  de  morrer  na  defeso  da  pátria".

Um  correspondente  britânico,  lançado  de  pára-quedas  num  setor  dominado  pelos  maquis,  relata  assim  suas experiências:

"Chegar  aos  maquis  não  é  coisa  fácil.  Longe  dos  povoados,  longe  das  estradas,  é  necessário  escalar  durante horas  vertentes  abruptas,  cruzar  matas  espessas,  seguir  atalhos  imperceptíveis,  sempre  precedidos  por  um guia.  Entre  outros  refúgios,  existia  um,  cavado  na  terra,  guarnecido  por  uns  trinta  homens.  Todos  muito jovens,  refratários  à  desmobilização  e  à  S.T.O.  (Serviço  de  Trabalho  Obrigatório).  Encontram-se  ali, mescladas,  todas  as  classes  sociais  e  todas  as  regiões  da  França.  Três  estudantes  de  Lilly,  operários  das construções  de  Bordeaux,  jovens  camponeses  do  Languedoc,  marselheses,  lorenenses,  um  oficial  com culotes  de  montaria,  jovens  e  atléticos  esportistas.  Conjunto  heterogêneo,  imagem  da  França.  Ao  entrar,  tive minha  atenção  atraída  por  um  imponente  número  de  armas,  todas  dispostas  em  ordem;  os  fuzis,  obturados com  pequenos  tarugos  de  madeira;  os  cartuchos  nos  carregadores;  tudo  preparado  para  ser  utilizado  em poucos  instantes.  Os  rapazes  nos  crivaram  de  perguntas:  'Quais  as  notícias  do  rádio?'  'Tem  fumo?'  'Que  nos traz  de  bom?'  Perto  do  refúgio,  uma  enorme  marmita  colocada  sobre  uma  fogueira  de  lenha.  As  rações, segundo  me  explicaram,  são  de  um  quarto  de  legumes  secos  por  refeição  e  de  um  quilo  de  batatas,  com  pão  e carne...  quando  há.  Quanto  aos  alimentos,  'vamos  indo'  me  disse  o  cozinheiro,  um  rapaz  jovial  e  obeso, 'porque  estamos  em  excelentes  relações  com  os  camponeses'.  Freqüentemente,  foram  eles  acusados  de avidez,  de  estarem  para  sempre  contaminadas  pelo  mercado  negro.  Nada  é  mais  falso  e  injusto.  Nos  vendem de  tudo  aos  preços  normais  e  de  costume  entre  os  camponeses.  Às  vezes,  até  nos  fazem  presentes  estranhos: toucinho,  ovos,  banha.  E  em  todas  as  visitas  que  lhes  fazemos  nos  oferecem  sempre  uma  merenda.  Os caçadores  nos  fazem  participantes  da  sua  caça,  nos  dão  pescado  e  até  nos  confiam  seus  segredos.  É  preciso também  dizer:  os  camponeses  nos  ajudam  e  nós  pagamos  sempre  pelo  que  recebemos.  Todos  sobem  que  o roubo  não  é  absolutamente  proibido,  mas  que  respeitamos  rigorosamente  essa  confiança.  Procuraram  fazer com  que  apareçamos  como  bandidos,  porém  nossa  presença,  longe  de  atemorizá-los,  os  anima  para  a resistência.  Por  nossa  causa,  reservam  uma  parte  da  colheita  e  retardam  as  entregas...  Evidentemente, existem  alguns  que  têm  medo.  A  segurança  não  é  nunca  absoluto.  Aqui  não    lugar  para  os  covardes.  Para os  demais    armas  e  se  tomamos  a  decisão  de  nos  servir  delas  (e  acredite  que  a  tomamos)  nossa  segurança está  garantida.  Além  disso,  sabe,  temos  cúmplices  em  todos  os  lados.  Depois,  quem  poderia  atuar  contra  nós? Os  gendarmes?  A  maioria  é  composta  de  excelentes  franceses  e  antes  de  nos  entregar  aos  'boches', numerosos  seriam  os  que  viriam  ser  maquis,  ao  nosso  lado,  trazendo  armas  e  equipamentos.  Quanto  aos outros,  se  obedecem  aos  'boches'  e  vêm  nos  'aborrecer',  saberemos  sempre  onde  encontrá-los,  e  não  estamos dispostos  a  deixar  nenhum  prisioneiro  impune.  A  respeito  dos  safados  'dedos  duros'  da  milícia  e  a  alguns assalariados  pelos  'boches',  à  primeira  atitude  da  parte  deles,  terríveis  represálias  hão  de  lhes  tirar  qualquer vontade  de  voltar  a  se  manifestar.  Porque  nós  os  conhecemos  a  todos,  e  sabemos  onde  dar  o  golpe...  ".

Os  golpes  de  audácia:

Enumerar  os  golpes  de  audácia  realizados  pelos  maquis  seria  uma  tarefa  interminável.  Impossível,  também, por  se  carecer  de  um  registro  orgânico  das  centenas  de  ataques  e  emboscadas  protagonizados  pelos elementos  da  Resistência.  Além  disso,  a  estreita  união  que  se  estabeleceu  entre  os  revoltosos  e  os trabalhadores  que  desempenhavam  suas  tarefas  nas  fábricas  tornava  impossível  delimitar  as  atividades  de  uns e  de  outros,  sendo  muito  difícil  saber  a  quem  atribuir  muitos  dos  episódios  da  Resistência,  principalmente com  referência  às  atividades  de  sabotagem  em  fábricas  e  indústrias.

Para  descrever  os  aspectos  característicos  da  incessante  luta  travada  pelos  maquis,  reproduziremos textualmente  alguns  informes  tirados  de  relatórios  oficiais  de  Vichy:

"Uma  agressão  à  mão  armada  foi  cometida  durante  a  noite  de...  em  um  depósito  de  armas  situado  na  cidade de...

"Entre  três  e  três  e  meia  da  madrugada,  três  homens  mascarados  irromperam  no  local  e,  revólver  em  punho, ordenaram  ao  guarda  que  não  desse  o  alarma,  enquanto  outros  homens,  igualmente  mascarados,  ficavam  no corredor,  e  mais  outros,  colocados  nas  imediações,  vigiavam  o  Corpo  de  Guarda.

"G...  foi  levado  para  perto  de  um  caminhão  estacionado  na  estrada  e  teve  que  assistir  ao  carregamento  dos objetos  e  armas  tirados  do  negócio;  um  jovem,  o  único  que  não  usava  máscara,  se  apoderou  também  da pistola,  do  guarda  G...  encarregado  de  assegurar  a  vigilância  na  porta  de  entrado  sul,  do  campo,  enquanto  que um  último  grupo  de  agressores  se  encaminhou  para  o  compartimento  onde  estavam  depositadas  as  munições. Depois  de  haver  lançado  mão  de  todas  os  reservas,  e  tê-las  carregado  num  caminhão,  os  assaltantes  se dispersaram  na  noite.

"Em  número  de  trinta,  os  autores  desse  assalto  eram  todos  jovens  de  20  a  25  anos,  que  falavam  francês,  dos quais,  dois  pelo  menos,  utilizavam  o  dialeto  da  região.  Durante  o  curso  dessa  operação  foram  roubados:

225  fuzis  curtos;  271  baionetas;  568  pistolas  automáticas;  2  fuzis-metralhadoras;  17.000  cartuchos  para fuzis;  2.000  cartuchos  de  FM;  1  forquilha  de  FM;  2  ganchos  executores  de  FM;  8.180  cartuchos  para  pistola; 230  porta-fuzis;  70  cinturões;  4  culotes;  1  capote;  12  mantas.

"O  armazém  principal  de  abastecimento  da  cidade  de  G...  foi  assaltado  nas  seguintes  circunstâncias:  "Vários indivíduos  mascarados,  em  número  de  seis  a  oito,  penetraram  nos  armazéns,  revólver  em  punho;  obrigaram  o pessoal  encarregado  do  fichário  dos  bônus  de  racionamento,  e  ao  diretor  do  serviço,  a  reunir-se  no  recinto  do público,  enquanto  outros  indivíduos  se  apoderavam  dos  fichários  e  despejavam  o  conteúdo  dentro  de  umas sacolas.

"A  operação  durou  cerca  de  dez  minutos  e,  tendo-se  produzido  nesse  lapso  uma  interrupção  na  corrente elétrica,  ninguém  pôde  reconhecer  os  autores  da  agressão.  Por  outro  lado,  estes  haviam  cortado  os  fios telefônicos  à  sua  chegada,  e  avisaram  o  pessoal  que  seria  inútil  tentar  sair  antes  que  passassem  cinco minutos,  estando  todas  as  entradas  dos  armazéns  vigiadas  até  que  eles  fugissem.

"O  pessoal  obedeceu  a  essa  ordem:

"Na  noite  de...  um  grupo  de  revoltosos,  naturais  da  região,  fez  descarrilhar  um  trem  de  munições  perto  de  C... Dezessete  vagões  explodiram,  seiscentos  metros  do  ferrovia  foram  danificados  e  o  tráfego  na  linha  Paris- Lyon  esteve  interrompido  por  um  tempo  bastante  prolongado.

“É  de  notar  que  para  evitar  que  um  trem  de  passageiros  se  chocasse  contra  o  trem  acidentado,  os  autores  do descarrilhamento  tiveram  o  cuidado  de  fechar  a  via  férrea.

"Entre  S...  e  T...  acabava  de  ser  desparafusado  um  trilho  pelos  guerrilheiros,  quando  estes  se  inteiraram  que, contrariamente  ao  que  esperavam,  o  primeiro  trem  que  passaria  seria  um  de  passageiros;  imediatamente,  os guerrilheiros  tornaram  a  repor  o  trilho  em  condições  e  fugiram.

"No  dia...  guerrilheiros  condenados  a  trabalhos  forçados  foram  libertados,  durante  sua  transferência  de  R... para  a  casa  central  de  B...,  nas  seguintes  circunstâncias:

"Um  de  seus  cúmplices  se  apresentou  no  estação  de  T...  fazendo-se  passar  pelo  comissário  D...  Deu  ordem aos  gendarmes  que  acompanhavam  os  presos,  de  interromper  a  viagem,  pois  seria  perpetrado  um  suposto atentado  contra  o  trem  que  os  transportava;  depois,  apontando  uma  caminhonete  e  dois  ônibus  de  turismo, estacionados  na  praça  da  estação,  o  suposto  comissário  D...  ordenou  aos  gendarmes  que  tomassem  lugar  com os  prisioneiros.  Os  guardas,  nada  desconfiando,  pois  um  deles  foi  até  chamado  pelo  nome  pelo  comissário, não  opuseram  nenhuma  dificuldade  em  obedecer  às  ordens.  Subiram  aos  carros  onde    se  encontravam alguns  falsos  policiais;  quando  deixaram  para  trás  os  arredores  do  cidade,  foram  cloroformizados  e abandonados  em  um  bosque".

Os  campos  de  resistência:

Um  coronel  britânico  que  compartilhou  da  vida  dos  maquis  relata  alguns  acontecimentos  que  presenciou: "Depois  da  aldeia  foi  necessário  caminhar  ainda  duas  horas  ou  mais.  As  folhas  tardaram  a  cair  nesse  ano,  de modo  que  os  bosques  conservavam  uma  palpitante  profundidade.  De  noite,  era  mais  difícil  avançar. "Bruscamente,  descobrimos  o  campo.  Em  redor,  homens  estranhamente  vestidos.  Uma  cozinha  coberta  de zinco,  perto  da  qual  estava  pendurada  uma  vaca  esquartejada.  Uma  tina  fervia  sobre  três  pedras.  Esse  campo era  alguma  coisa  intermediária  entre  um  acantonamento  militar  e  um  acampamento  de  boêmios,  porém  um  ar puro  e  um  pouco  embriagador  emanava  dele.

"Ali  se  contava,  ali  se  dizia  tudo  o  que  era  proibido  dizer  e  cantar  em  outros  lugares.  Não  existia  outra  regra além  da  própria  honra;  era  um  momento  em  que  se  agradecia  ter  uma  tradição.

"Com  renovado  orgulho,  os  homens  se  reuniram  e  reconheceram  que  aquilo  que  acontecia  no  país,  mais  que uma  opressão,  era  uma  humilhação;  ser  ultrajados  durante  anos  pelos  desfiles  debaixo  de  suas  janelas,  pelo perpétuo  insulto  constituído  pela  „sua‟  força  e  „sua‟  alegria.  Ali  estavam  num  rincão  de  terra  francesa;  era alguma  coisa  ter  uma  arma  na  mão.  A  bandeira  tremulava  no  mastro.  Eram  terroristas,  como  dizia  Vichy, terroristas  à  sombra  do  pavilhão  tricolor.

"Quando  eram  interrogados  sobre  por  que  estavam  ali,  a  resposta  chegava,  às  vezes,  lentamente,  porém  era sempre  a  mesma.  Na  verdade,  sua  decisão  não  era  motivo  de  preocupação;  a  única  coisa  que  os  preocupava era  não  partir;  ir  à  Alemanha  era  uma  vergonha  que,  por  razões  de  caráter,  não  podiam  suportar,  como  uma humilhação  para  sua  honra;  recusavam  por  instinto.

"A  respeito  desse  heroísmo,  podemos  meditar  sobre  a  página  admirável  em  que  Junger,  à  frente  de  um  grupo de  prisioneiros  franceses  custodiados  por  uma  sentinela,  toma  a  resolução  de  jamais  se  render,  porque  toda rendição  abala  o  ser  humano  no  que  tem  de  mais  profundo.

"Com  esse  „não‟  nos  transportamos  além  da  política  do  momento;  à  única  possibilidade  deixada  à  energia francesa  para  se  livrar  do  pesadelo  das  derrotas,  à  única  forma  de  preservar,  psicologicamente  e fisiologicamente  falando,  a  faculdade  de  dispor  dos  atos  libertadores  do  porvir.  Esse  „não‟  palpitava  em  cada um  deles,  e  sei,  agora,  estava  latente  em  todos  os  companheiros;  a  negativa  de  se  deixar  vencer  para  sempre pela  rendição,  constituía,  no  mais  alto  grou,  um  ato  de  pedagogia  prática.  "O  ato  era  valioso  por  si  mesmo. Contudo,  aqueles  campos  ainda  lhe  emprestavam  um  outro  significado:  ali,  os  negativos  conduziam  a  um  só fim,  a  pátria,  que  lhes  conferia  dimensão  nacional.  Aparentemente,  esse  espírito  estava  disseminado  em todos  os  campos:  naqueles,  compostos  por  insubmissos  aos  S.T.O.,  jovens  entre  20  e  22  anos;  em  outros, com  insurretos  de  mais  idade,  voluntários  de  todos  os  tipos.  Aqui,  um  vendeiro,  ali  um  mocinho  de  17  anos, orgulhoso  pela  grande  Cruz  de  Lorena  que  luzia  em  seu  uniforme.  É  preciso,  contudo,  não  nos  iludirmos;  os campos  foram,  na  ocasião,  o  receptáculo  de  uma  juventude  que  fugia  da  deportação.  Viam-se,  então,  em alguns  pontos,  campos  repletos,  porém  desordenados  e  precários;  depois,  os  que  foram  para  a  montanha,  só paro  se  esconder,  desistiram  para  não  ter  que  suportar  o  inverno.  A  massa  dos  revoltosos  não  estava  nos campos,  mas  nos  maquis.  Nos  campos    não  era  possível  encontrar  revoltosos,  mas  sim  voluntários;  a distância  que  separa  as  duas  palavras  significa  uma  evolução  de  seis  meses.

"Privados  de  todas  as  comodidades  do  mundo,  viviam  em  barracas,  cegos  pela  fumaça,  com  um  pouco  de feno  para  dormir  e  algumas  vezes  nada.  Comiam  os  alimentos  tal  como  lhes  chegavam...  Vestiam  uma  roupa precária,  jaqueta  e  calças  rasgadas,  às  vezes,  sem  sapatos.  Se  se  pensar  nas  dificuldades  que  uma  família encontra  para  alimentar-se,  preservar-se  do  frio,  ter  um  teto,  compreenderemos  as  necessidades  a  serem vencidas  quando  se  trata  de  centenas  e  centenas  de  homens  que  vivem  em  completa  ilegalidade,  pois  não  têm direito  a  nada,  nem  sequer  a  um  pedaço  de  pão.  Na  verdade,  jamais  soldados  franceses  conheceram  miséria igual.  E  se,  por  uma  razão  que  não  conhecemos,  os  campos  não  desempenharam  nenhum  papel  importante no  aniquilamento  da  Alemanha,  terão  pelo  menos  escrito  uma  página  épica  na  história.

"Homens  jovens  (o  chefe  raramente  tinha  mais  de  25  anos),  crianças,  às  vezes,  eram,  no  entanto,  homens grandiosos.  Não  posso  deixar  de  lembrar  aqui  uma  série  de  retratos  que  um  dia  serão  descritos:  aquele paisano  taciturno,  de  boina  enterrado  até  às  orelhas,  aquele  oficial  jovial  e  resmungão,  aquele  aventureiro, capitão  na  China,  tenente  na  Espanha,  pois  estava  onde  quer  que  se  estivesse  lutando  por  uma  causa  justa, aquele  rapaz  de  Saint-Cyr,  de  rosto  grave  e  impassível...  Uma  mesma  vontade  os  unia,  fruto  de  um  mesmo sofrimento...  Exército  aparentemente  heterogêneo,  porém  mais  que  qualquer  outra  disciplina,  perseguições  e sofrimentos  comuns  uniam  seus  elementos..."

As  armas  da  Resistência:

Vejamos  como  Bor  Komorowski  descreve  o  envio  de  armas  e  abastecimentos  do  exterior,  destinados  aos grupos  combatentes  da  Resistência  polonesa:  "A  princípio,  o  único  recurso  com  que  contávamos  para  nos abastecermos  de  armas  eram  os  depósitos  que  alguns  particulares  haviam  enterrado  depois  da  campanha  de setembro  de  1939.  Algumas  dessas  armas,  apesar  dos  precauções  tomadas,  estavam  estragadas,  corroídas pela  umidade.  E  o  pior,  é  que  o  tipo  de  armas  nem  sempre  se  adaptava  às  necessidades  e  métodos  da  nossa arte  de  guerra.

"A  Polônia,  que  se  estendia  na  extremidade  do  área  de  vôo  da  aviação  inglesa,  era  um  dos  países  aliados  que se  encontrava  mais  afastado  da  Inglaterra.  Tínhamos  sérias  dúvidas  acerca  das  possibilidades  de  receber armamentos  pelo  ar.

"A  primeira  tentativa  para  o  lançamento  de  um  pára-quedista  com  uma  carga  de  armas,  explosivos  e  dinheiro foi  projetado  para  o  dia  20  de  dezembro  de  1940.  O  pessoal  estava    pronto  em  seus  postos  dentro  do  avião, quando  se  chegou  à  conclusão  de  que  os  tanques  não  poderiam  carregar  a  quantidade  necessária  de combustível  para  voar  até  à  Polônia  e  regressar.  A  segunda  tentativa  de  vôo  até  à  Polônia  foi  fixada  para  15 de  fevereiro  de  1941.  Os  pára-quedistas  e  os  abastecimentos  deviam  ser  lançados  no  distrito  de  Cracóvia, quando  eu  era  comandante  nessa  cidade.  Um  destacamento  especial  foi  designado  para  receber  os  ingleses no  lugar  e  na  hora  indicados.

"Na  tarde  de  15  de  fevereiro  recebi  o  aviso  de  que  o  vôo  teria  lugar  naquela  noite  e  de  que  Londres    dera  o primeiro  sinal.  Nada  aconteceu.  Dias  mais  tarde,  os  alemães  espalharam  proclamações  nas  ruas,  em  todas  as cidades  do  país,  oferecendo  uma  boa  recompensa  a  quem  os  ajudasse  a  localizar  três  perigosos  criminosos.

"Alguns  dias  depois,  os  perigosos  criminosos  procuraram  nossa  organização  em  Varsóvia.  Os  pára-quedistas haviam  saltado,  porém  não  sobre  território  polonês.  Haviam  caído  nos  domínios  do  Reich.  Contudo,  o  lugar em  que  caíram  estava  somente  a  uns  100  quilômetros  da  fronteira  polonesa  e  por  sorte  encontraram poloneses  que  lhes  prestaram  ajuda  de  emergência.  Conseguiram  cruzar  a  fronteira.  A  remessa  dos  armas, desgraçadamente,  fôra  perdida.

"A  fim  de  apreciar  claramente  as  enormes  dificuldades  que  tinham  que  passar  todos  os  que  se  lançavam  a essa  aventura,  lembraremos  que  nos  encontrávamos  separados  da  Inglaterra  pela  grande  barreira  que formavam  o  Reich  e  o  Mar  do  Norte.  E  além  disso,  a  ameaça  da  artilharia  antiaérea  e  dos  caças  alemães. Também,  os  bombardeiros  que  nos  traziam  homens  e  armas  teriam  outro  obstáculo  a  vencer:  o  tempo.  Os aviões  podiam  decolar  da  Inglaterra  somente  quando  o  tempo  fosse  favorável  ali,  sobre  o  Mar  do  Norte  e através  da  rota  de  1.000  milhas  para  chegar  à  Polônia.

"Outro  ponto  que  requeria  cuidadosa  atenção  era  o  de  estabelecer  uma  forma  de  comunicação  entre  os homens  que  se  lançavam  de  pára-quedas  e  os  que  estavam  em  terra,  esperando-os.  Era  essencial  colocar sinais  fáceis  de  serem  distinguidos,  antes  que  se  realizasse  cada  uma  destas  operações.  Nas  circunstâncias que  atravessávamos,  o  remoção  de  armas  de  um  lugar  paro  outro  apresentava  consideráveis  dificuldades.  O ponto  de  recepção  teve,  portanto,  que  ser  selecionado  com  muito  cuidado,  tomando  em  consideração  tanto nossas  necessidades  imediatas  como  as  do  combate  futuro.  De  tempos  em  tempos,  enviávamos  a  Londres  por meio  de  um  dos  nossos  correios,  um  mapa  preciso  em  que  eram  indicados  os  lugares  exatos  que  havíamos selecionado  para  receber  os  pára-quedistas  ingleses,  os  sinais  que  se  usariam,  o  tipo  de  documentos  de identificação  que  os  pára-quedistas  deveriam  portar  e  as  instruções  detalhadas  para  levar  a  cabo  a  operação. Na  Inglaterra,  um  centro  especial  de  treinamento  havia  sido  estabelecido  com  o  propósito  de  instruir  pára- quedistas.

"No  dia  em  que  um  avião  saía  da  Inglaterra  rumo  à  Polônia,  a  BBC  de  Londres  encerrava  a  sua  emissão  em polonês  com  uma  melodia  previamente  escolhida.  Isto  servia  como  aviso  para  que  um  certo  grupo  de recepção  esperasse  a  chegada  dos  abastecimentos  que  seriam  lançados  por  um  avião  inglês  num  lugar determinado,  naquela  mesma  noite.  De  acordo  com  o  plano,  a  unidade  de  recepção  se  reunia  no  lugar previsto.  Todos  iam  bem  armados;  quando  o  avião  se  aproximava,  faziam  sinais  com  luzes,  indicando  a direção  do  vento.  Ao  mesmo  tempo,  com  luzes,  indicavam  uma  determinada  letra    combinada,  à  guisa  de contra-senha.  Do  avião,  com  os  faróis,  respondiam-se  aos  sinais  combinados.  Eram  então  atirados  os  fardos com  a  ajuda  enviada,  de  muito  pouca  altura,  e  com  muita  precisão.

Anexo

“Wawer”

"Não  havia  nada  que  os  alemães  desejassem  tanto,  como  explorar  ao  máximo  o  seu  poder  sobre  o  fraco;  e  não  havia nada  que  os  pusesse  tão  furiosos  como  uma  brincadeira  pública  às  suas  custas.  Retrucar  ao  seu  sistema  de  terror  com uma  brincadeira  era  bastante  para  enfurecê-los.  Ridicularizá-los  era  nossa  mais  importante  missão  na  guerra psicológica.  Tínhamos  até  uma  dependência  especial  no  exército  para  se  encarregar  desse  assunto.  Esse  setor  era constituído  em  sua  maior  parte  por  escoteiros  (boy  scouts)  e  tinha  o  nome  chave  de  "Wawer".  Uma  das  brincadeiras mais  engraçadas  da  "Wawer"  ocorreu  no  inverno  de  1942.  No  coração  de  Varsóvia,  se  erguia  a  estátua  de  Copérnico,  do escultor  dinamarquês  Thorwaldsen.  Na  base  do  monumento  havia  uma  placa  com  a  inscrição:  „A  Copérnico.  de  seus compatriotas‟.  Os  alemães  a  arrancaram  e  em  seu  lugar  puseram  outra  que  dizia:  „Ao  Grande  Astrônomo  Alemão‟.  Bem perto  da  estátua  havia  uma  delegacia  de  polícia.  Um  dia,  um  grupo  de  trabalhadores,  de  macacões,  e  com  suas ferramentas,  se  aproximaram  da  estátua.  Com  grande  calma  e  despreocupação,  arrancaram  a  placa  que  os  alemães haviam  colocado  e  a  levaram.

"Três  semanas  passaram  antes  que  as  autoridades  alemãs  notassem  que  a  placa  fôra  retirada.  Então  apareceu  um  aviso assinado  pelo  governador  alemão.  Era  redigido  no  costumeiro  estilo  pomposo  e  dizia:

„Recentemente,  elementos  criminosos  arrancaram  a  placa  que  havia  sido  fixada  ao    da  estátua  de  Copérnico,  por razões  políticas.  Em  represália,  ordenei  retirar  o  monumento  de  Kilinski.  Ao  mesmo  tempo,  faço  advertência  clara  de que,  se  atos  como  o  presente  voltarem  a  repetir-se,  ordenarei  a  suspensão  de  todas  as  rações  para  a  população  polonesa de  Varsóvia  durante  uma  semana.

(Assinado)  Fischer,  Governador  de  Varsóvia‟.

"Kilinski  fôra  um  sapateiro,  que  deixou  seu  humilde  trabalho  para  converter-se  em  líder  popular  durante  o  sítio  da cidade  pelos  invasores  russos  no  ano  de  1794,  e  sempre  havia  sido  um  líder  popular  entre  os  operários  de  Varsóvia. Alguns  dias  mais  tarde,  sua  estátua  foi  arrancada  do  pedestal  e  posta,  temporariamente,  nos  subterrâneos  do  Museu Nacional.  No  dia  seguinte,  os  que  passaram  diante  do  Museu,  viram  uma  inscrição,  pintada  a  pixe  sobre  os  alvos  muros, dizendo:

„Povo  de  Varsóvia,  aqui  estou.  (Assinado)  Jan  Kilinski‟.

Uma  semana  mais  tarde,  os  murais  de  avisos  ostentavam  um  novo  proclama,  idêntico  em  formato  ao  de  Fischer.  E  o texto  era:

„Recentemente,  elementos  criminosos  retiraram  o  monumento  de  Kilinski  por  razões  políticas.  Em  represália,  ordenei  o prolongamento  do  inverno  na  frente  oriental  por  mais  dois  meses.

(Assinado)  Nicolau  Copérnico‟.

"Por  estranho  que  pareça,  o  inverno  aquele  ano  durou  muito  mais  do  normal  e  foi  causa  dos  alemães  não  poderem realizar  seus  planos  para  uma  ofensiva  de  primavera  na  frente  oriental.

Bor  Komorowski”  (História  de  um  Exército  Secreto)

Dante  Di  Nanni

Na  noite  de  16  de  maio  de  1944,  Dante  Di  Nanni  havia  participado,  com  alguns  companheiros,  no  assalto  a  uma  estação de  rádio  da  localidade  de  Barca,  na  periferia  de  Turim.  Os  nove  carabineiros  que  guardavam  o  local  foram  desarmados  e o  edifício  dinamitado.  Quando  se  retiravam,  foram  surpreendidos  por  uma  patrulha  alemã,  e  Dante  Di  Nanni  foi gravemente  ferido  numa  perna.  Seus  companheiros  o  transportaram  para  um  quarto  no  segundo  andar  do  edifício    14 da  Rua  San  Bernardino.  Como  Di  Nanni  piorava  minuto  a  minuto,  chamaram  um  médico,  que  lhe  extraiu  da  perna  um enorme  estilhaço  de  granada.  Poucos  minutos  depois  da  visita  do  médico,  uma  patrulha  de  soldados  fascistas  atacou  a casa.

Dante  pertencia  ao  GAP  (Grupo  de  Ação  Partidária),  pequeno  conjunto  de  Resistência  que  operava  na  cidade  de  Turim, e  tinha  18  anos.  Aos  soldados  fascistas  se  juntaram  alguns  alemães,  de  maneira  que  os  atacantes  formaram  um  grupo  de uns  cem  homens.

Di  Nanni  estava    quando  o  ataque  se  produziu,  armado  com  uma  metralhadora  e  algumas  bombas  de  mão.  Correndo continuamente  entre  a  porta  que  dava  para  a  escada  e  o  balcão  do  primeiro  andar,  disparava  rajadas  de  munição  ou lançava  suas  bombas.

Alemães  e  fascistas  não  se  atreviam  a  lançar-se  em  massa  para  tomar  o  edifício,  pensando  que  estava  ocupado  por dezenas  de  partisans.

Alguns  vizinhos  pensaram  que  se  tratava  de  um  louco  e  chamaram  os  bombeiros.  Ao  vê-los  chegar,  Nanni  gritou  para eles:  "Vão-se  embora!  Não  sou  louco,  sou  um  partisan  e  não  é  contra  vocês  que  combato.  Vão-se  embora!"  O  combate durou  cerca  de  quatro  horas,  isto  é,  até  que  o  partisan  esgotou  suas  bombas  e  munições.  Então,  ante  a  surpresa  dos atacantes  que  suspenderam  o  fogo,  apareceu  uma  figura  pálida  e  coberta  de  sangue  no  balcão  do  segundo  andar:  era  Di Nanni  que,  com  um  grito  de  "Viva  a  Itália!",  se  lançou  ao  vazio.

As  forças  atacantes  haviam  deixado,  no  transcorrer  da  luta,  trinta  mortos.

Carlo  Di  Stefani,  um  alfaiate  da  Rua  San  Bernardino,  recorda  o  acontecimento,  23  anos  mais  tarde:  "Há  29  anos  que trabalho  aqui,  na  Rua  San  Bernardino.  Agora  resido  no    22.  A  casa  onde  ocorreu  o  fato  era  a  14.  Recordo  que  naquela manhã  estive  trabalhando  e,  perto  das  nove  horas,  ouvi  o  primeiro  estampido,  provocado,  seguramente,  por  uma  bomba de  mão.  Pensando  que  alguma  coisa  estava  acontecendo  lembrei  logo  que  meus  filhos  estavam  brincando  na  porta.  Ao sair,  vi  militares  armados,  que  entravam  no  número  14.  Um  deles  estava  ferido  e  sangrava.

"Peguei  meus  filhos,  entrei  em  minha  casa  e  tranquei  a  porta.  Quando  os  soldados  subiam  a  escada,  voltei  a  ouvir  outra explosão.  Enquanto  isso,  ia  juntando  gente.  Na  casa  entraram  uns  trinta  soldados,  entre  fascistas  e  alemães,  e  na  frente do  número  14  estava  parado  um  carro  de  assalto  com  metralhadora.  Os  disparos  eram  ouvidos  alternados  com  as explosões  das  bombas  de  mão.  Várias  vezes,  os  soldados  procuraram  chegar  ao  segundo  andar,  porém  sempre  eram rechaçados  pelo  fogo  dos  sitiados.

"Eu  quis  voltar  a  trabalhar,  porém  as  explosões  e  o  vaivém  dos  soldados  me  impediam.  Não  compreendia  como  uma batalha  podia  durar  tanto;  como  cem  homens  não  podiam  com  alguns  defensores  que  não  deviam  ser  muitos;  não entendia  a  coragem  dos  sitiados  que  se  defendiam  como  leões.  Seguidamente,  eram  ouvidas  ordens  de  ataque  e  de retirada  em  alemão  e  italiano.  E  passou  do  meio-dia;  passou  uma  hora;  passaram  as  duas...

"De  súbito  não  ouvimos  mais  disparos.  Assomei  à  janela  e  vi  que  diante  do  portão  do  número  14  jazia  um  corpo ensangüentado.  Era  o  corpo  de  um  rapaz,  frágil  e  pálido,  coberto  inteiramente  de  sangue.  Parecia  impossível  que  toda aquela  batalha  tivesse  sido  suportada  unicamente  por  ele.  O  rapaz  estava  nos  últimos  espasmos  da  agonia.  Os  milicianos fascistas  lhe  davam  ponta-pés,  quando  um  oficial  alemão,  afastando  violentamente  os  italianos,  exclamou:  „Se  todos  os partisans  forem  como  este,  da  outra  vez  necessitaremos  uma  divisão'.  E  sacando  sua  pistola  disparou  no  agonizante  o tiro  de  misericórdia.  Depois  se  perfilou,  fez  continência  militar  ao  cadáver  e  ordenou  aos  seus  homens  que apresentassem  armas."

“Partisans”  alemães?

Embora  não  fosse  muito  freqüente,  houve  alguns  casos  de  soldados  e  oficiais  alemães  pedirem  para  ser  admitidos  nas fileiras  dos  partisans.

Rudolf  Jacobs,  Capitão  de  Marinha  alemã,  havia  sido  agricultor  durante  a  vida  civil,  na  zona  de  Hamburgo.  Desde muito  jovem  tornou-se  notório  o  seu  antinazismo.  Em  1944,  tinha  39  anos.  Após  discutir  o  problema  com  sua  esposa solicitou  sua  transferência  para  a  Itália,  com  a  idéia  secreta  de  unir-se  aos  partisans.  Ao  apresentar-se  aos  chefes  da Resistência  declarou:  "Não  posso  ser  por  mais  tempo  cúmplice  dos  delitos  do  nazismo,  e  estou  disposto  a  morrer voluntariamente  para  abreviar  mesmo  que  seja  por  um  dia,  esta  horrível  guerra..."

Integrando  a  brigada  "Ugo  Muccini"  realizou  diversas  e  felizes  missões,  até  que,  a  3  de  novembro  de  1944,  morreu durante  o  assalto  a  um  quartel  da  "Brigada  Negra".  O  Conselho  Comunal  de  Sarzana  lhe  concedeu  a  cidadania honorária,  e  colocou  uma  placa  comemorativa  na  praça  São  Jorge,  na  cidade.

Outro  caso  foi  o  de  Hans,  um  subtenente  das  SS,  de  vinte  anos.  Certo  dia,  quando  trocava  o  pneumático  de  um  veículo, foi  feito  prisioneiro  pelos  partisans,  perto  do  povoado  de  Salere,  na  estrada  Nice-Asti.

Junto  com  Hans,  os  captores  aprisionaram  dez  homens  mais.  Giuseppe  Berta  "Moretto",  chefe  dos  partisans,  decidiu oferecer  aos  alemães  uma  troca  de  prisioneiros,  que  eles  aceitaram.  No  momento  de  efetuar-se  a  troca,  Hans  disse  que preferia  ficar  com  os  partisans.  E  foi  assim  que  ingressou  no  grupo  do  seu  captor  "Moretto"  junto  ao  qual  realizou notáveis  atos  de  sabotagem.

"Maquis"

O  caminhão,  um  velho  Citroën,  se  deteve  um  pouco  além  da  bomba  de  gasolina.  Chovera,  e  o  caminho  estava enlameado,  porém,  contrastando,  as  árvores  apresentavam  um  verde  puro,  fresco  e  limpo.

O  veículo  não  se  deteve  muito  tempo,  ou  melhor,  quase  se  podia  dizer  que  o  veículo  nem  chegou  a  parar  de  todo. Diminuiu  a  marcha  ao  mínimo,  e  dois  homens  desceram.  Quando  partiu,  os  homens  saíram  do  caminho  e  se  internaram no  bosque.  Quase  não  falavam.  Tinham  os  sapatos  e  as  calças  ensopados  pela  folhagem  molhada.  Não  entraram  na aldeia  e  tiveram  que  fazer  uma  larga  volta  para  evitá-la.  Depois  da  aldeia  foi  necessário  caminhar  umas  duas  horas  ou mais.  Embora  o  outono  estivesse  bem  avançado,  as  folhas  estavam  caindo  tarde  aquele  ano  e  a  espessura  era  cerrada;  os homens  caminhavam  sem  ser  vistos.  E  era  evidente  que  conheciam  bem  o  terreno  que  pisavam.  Pouco  a  pouco  começou a  escurecer,  e  a  marcha,  à  medida  que  a  noite  caía,  se  tornava  mais  difícil.  Um  dos  homens  acendeu  uma  lanterna, somente  por  alguns  instantes.  De  noite,  uma  luz,  por  pequena  que  seja,  é  um  luxo  muito  perigoso  para  os  que combatiam  Vichy.  Subitamente,  apareceu  o  campo.  Estava  tão  bem  dissimulado  que  uma  casualidade  podia  descobri-lo a  qualquer  momento.

Assim,  de  noite,  era  um  lugar  bastante  estranho.  No  centro,  um  caldeirão  enorme  fervia  sobre  três  pedras.  Pelos reflexos,  entrevia-se  uma  precária  construção  coberta  de  zinco,  do  qual  balançavam  partes  de  uma  vaca,  recentemente abatida.

Havia  um  homem  seminu,  lavando  o  rosto,  e  mais  além,  outro,  limpando  um  fuzil.  A  medida  que  os  olhos  se  foram acostumando,  puderam  distinguir  mais  coisas,  por  exemplo,  algumas  tendas.

-  Verdum  -  murmurou  um  dos  homens...

-  Sim,  adiante  -  respondeu  o  que  lavava  o  rosto.  -  Não    sentinelas?...

-  Hoje,  não!  -  respondeu,  brincalhão,  o  outro  -  sabíamos  que  vocês  viriam  e  então  suspendemos  a  guarda.  Assim recebemos  os  amigos!

Os  dois  homens  riram.  O  campo  era  alguma  coisa  intermediária  entre  um  acampamento  militar  e  um  de  boêmios errantes.  Os  maquis  eram  assim  mesmo,  não  tinham  um  termo  exato  para  defini-los,  possuíam  um  estilo  muito  pessoal, que  os  unia,  superando  desinteligências  políticas,  religiosas  ou  raciais.  Sidi,  era  um  anarquista  argelino;  Roy,  um católico  de  esquerda;  Pierre,  um  marxista;  Claude,  simplesmente  um  aventureiro,  que,  segundo  suas  palavras,  "apenas queria  se  divertir  um  pouco";  Jacques,  um  monarquista.

Os  homens  "adotavam  o  maquis"  por  várias  razões:  por  patriotismo,  por  não  querer  ir  trabalhar  na  Alemanha,  por problemas  que  não  tinham  muito  que  ver  com  a  ocupação,  mas  sim  com  a  liberdade.  Michel,  por  exemplo,  havia  lutado com  um  miliciano  tão  bêbado  como  ele  e  o  havia  morto,  afinal.  O  acampamento  era  uma  das  muitas  lacunas  da  França ocupada.  Ali  se  viviam  os  grandes  momentos.  Celebravam-se  vitórias,  choravam-se  os  mortos,  planejavam-se  "golpes de  mão",  cantava-se  ou  costurava-se  a  roupa.

Em  geral,  os  guerrilheiros  da  Cruz  de  Lorena  tinham  necessariamente  que  viver  o  momento  presente.  Do  contrário  a existência  se  tornaria  impossível.  Assim,  eram  tensos,  violentos  e  cruéis  no  combate,  amáveis,  alegres  ou  melancólicos nos  poucos  momentos  de  descanso.  A  angústia  do  combate  terminava  com  o  combate;  esta  era  uma  premissa tacitamente  aceita.  Também,  as  possibilidades  da  Resistência  eram  assaltos  rápidos,  que  aumentavam  vertiginosamente à  medida  que  as  tropas  aliadas  desalojavam  os  alemães.

Quanto  tempo  viveriam  assim?  Ninguém  sabia  e  nem  perguntava.  Apesar  do  perigo,  viviam  um  momento  idílico. Talvez,  depois  da  guerra,  quando  se  restabelecesse  a  normalidade,  cada  um  poderia  voltar  às  suas  idéias  e  até  lutar  entre si.  Michel  desejava  viajar,  se  não  morresse  antes.  Sidi  queria  voltar  à  Argélia,  para  "lutar  contra  os  franceses"  porque, como  costumava  dizer,  "tenho  a  tez  escura,  os  franceses  não  me  consideram  francês  e  os  argelinos  não  me  consideram argelino".  Então,  Sidi,  meio  árabe  e  meio  gaulês,  voltaria  a  sentir  frio,  fome  e  angústia,  para  lutar  contra  uma  nação  que nesse  momento  defendia,  pela  liberdade  de  uma  outra.

Algumas  vozes,  no  acampamento,  começaram  a  cantar.  Entoavam  velhas  melodias,  nascidas  nos  boulevares  de  Paris  no princípio  do  século,  e  que  haviam  conhecido  a  glória  e  a  amargura  da  França.

Os  dois  homens  que  haviam  saltado  do  caminhão,  um  pouco  depois  da  bomba  de  gasolina,  umas  quatro  horas  antes, perguntaram:

-  Não  é  arriscado  cantar  a  esta  hora?

-  Bom  -  respondeu  Roy  -  na  verdade,  estamos  todos  os  dias  nos  arriscando  a  morrer,  não  é  mesmo?  Então  não  tem importância  que  de  vez  em  quando  a  gente  se  arrisque  a  viver  um  pouco...

Decálogo  de  um  "Maquis"

1 o )  Todo  homem  que  solicita  admissão  no  maquis  da  Resistência  Unida,  não  é  somente  um  refratário  à  mobilização alemã,  mas  também  um  franco  atirador  voluntário  e  um  auxiliar  do  exército  secreto  das  Forças  Francesas  Combatentes, comandadas  pelo  General  De  Gaulle  e  pelo  "Comité  National  Français".

2 o )  Aceita  submeter-se  à  severíssima  disciplina  do  maquis  e  obedecer  sem  discussão  a  todas  as  ordens  que  receber  do chefe.

3 o )  Renuncia,  até  o  fim  da  guerra,  a  comunicar-se  com  sua  família  ou  seus  amigos.  Guardará  segredo  absoluto  sobre  a distribuição  dos  refúgios,  a  identidade  dos  seus  chefes  e  companheiros.  Sabe  que  qualquer  infração  desta  proibição  será punida  com  pena  de  morte.

4 o )  Declara  compreender  que  nenhuma  ajuda  especial  pode  ser  proporcionada  à  sua  família,  sem  submetê-la  aos  ciúmes e  denúncias  dos  vizinhos.

5 o )  Sabe  que  não  pode  ser  feita  nenhuma  promessa  de  salário  regular,  que  sua  subsistência  e  até  seus  armamentos  são inseguros.  Declara  compreender  que  a  menor  coisa  obtenha,  não  foi  conseguida  senão  por  um  esforço  constante,  ao preço  de  enormes  dificuldades  e  de  perigos  extremos  para  todos  os  quadros  superiores  e  órgãos  de  ligação.  Respeitará  a propriedade  privada  e  a  vida  dos  cidadãos  franceses,  aliados  ou  neutros,  não    porque  a  existência  do  maquis  depende da  sua  boa  harmonia  com  a  população,  mas  também  porque  os  homens  do  maquis  são  o  que    de  melhor  no  país  e devem  dar  a  todos  o  exemplo  e  a  prova  de  que  a  coragem  e  a  honestidade  marcham  juntas  no  espírito  dos  verdadeiros franceses.

6 o )  A  alimentação  e  o  vestuário  dos  maquis  podem  nos  obrigar  a  ordenar  operações  de  pilhagem  nos  armazéns  das forças  de  polícia  de  Vichy,  ou  até  de  seus  depósitos,  das  reservas  de  víveres  ou  de  vestuário  do  "Secours  National"  ou dos  prisioneiros.  Esses  assaltos,  que  serão  limitados  ao  indispensável,  para  que  seja  assegurada  a  todo  preço  a subsistência  dos  refratários,  serão  executados  por  homens  de  classe,  escolhidos  com  cuidado  muito  particular  com relação  ao  seu  alto  valor  moral.  Assim  que  o  armamento  permitir,  essas  operações  se  realizarão  exclusivamente  sobre  as reservas  do  exército  de  ocupação.

7 o )  Naturalmente,  não  se  realizará  nenhuma  distinção  de  credo  religioso  ou  de  opinião  política,  no  que  concerne  à adesão  dos  candidatos.  Católicos,  protestantes,  muçulmanos,  judeus  ou  ateus,  monarquistas,  radicais,  socialistas  ou comunistas,  todos  os  franceses  que  desejarem  lutar  contra  o  "inimigo  comum"  são  bem-vindos  entre  nós.

Não  somente  o  homem  do  maquis  respeitará  as  crenças  e  as  opiniões  dos  seus  companheiros,  mas  também  deve  ser  para eles  um  amigo  abnegado,  um  irmão  de  armas;  a  salvação  de  todos  depende  deles,  e  somente  uma  boa  camaradagem

tornará  a  vida  suportável  nos  refúgios  da  Resistência.  Todos  deverão  esquecer  seus  costumes,  seu  egoísmo  e  até  seus gostos;  sacrificar-se  por  um  companheiro,  tomar  seu  lugar  na  labuta  quando  estiver  cansado,  em  perigo,  em  todos  os casos,  são  as  menores  virtudes  que  se  podem  exigir  de  homens  colocados  na  nossa  situação.

Um  ferido  jamais  deverá  ser  abandonado.  Os  cadáveres  deverão  ser  transportados  e  enterrados,  cada  vez  que  isso  for humanamente  possível.

8 o )  O  voluntário  do  maquis  não  será  armado  senão  quando  sua  resistência,  seu  treinamento,  e  sua  disciplina  o  tornarem digno  de  receber  uma  de  nossas  armas,  muito  poucas,  e  em  conseqüência,  muito  preciosas.  Deverá  cuidar  dela carinhosamente,  conservá-la  escrupulosamente  limpa,  levá-la  sempre  consigo,  salvo  se  tiver  que  confiá-la  ao  armeiro  do campo.

Toda  perda  de  arma  será  punida  com  a  morte.  Esta  sanção  é  severa,  porém  indispensável  para  a  salvação  de  todos.

9 o )  O  voluntário  conservará  seus  pertences  e  seu  corpo  tão  limpos  como  possível;  a  saúde  física  e  moral  depende  disso; é  indispensável  para  a  salvação  da  nação.

10 o )  Todo  homem  do  maquis  é  um  inimigo  do  Marechal  Pétain  e  dos  traidores  que  obedecem  a  ele.

Resistência  Francesa

Philippe  de  Crevoisier  de  Vomécourt,  escritor  francês  educado  na  Inglaterra,  participou  na  Resistência  desde  seus primeiros  momentos.  De  seu  livro  Who  lived  to  See  the  Day,  editado  em  Londres  pela  Editorial  Hutchinson, reproduzimos  um  fragmento  referente  às  primeiras,  e  em  muitos  casos  ingênuas,  formas  de  "resistência"  na  cidade  de Paris.

"A  fama  da  resistência  francesa  não  deve  morrer  e  não  morrerá"  -  as  palavras  de  De  Gaulle  criava  nos  ingleses  a  idéia de  que  uma  resistência  organizada  em  solo  francês  com  atos  de  sabotagem,  não  serviria  para  outra  coisa  senão  provocar represálias.  Os  franceses  livres  não  podiam  se  limitar  a  isso,  necessitavam  demonstrar  aos  alemães  que  a  guerra  com eles  não  havia  terminado.

"As  primeiras  tentativas  foram  naturalmente  diletantes  e  ingênuas.  Por  exemplo,  aquela  velha  senhora  de  78  anos,  que trabalhava  no  metrô  de  Paris.  Ficava  sentada  num  banquinho  ao  lado  da  porta  do  vagão  e  cada  vez  que  um  oficial alemão  subia,  fazia-o  tropeçar  em  sua  bengala.  Eram  trinta  ou  quarenta  vezes  por  dia  que  es  conquistadores  caíam  de pernas  para  o  ar.

"Nos  banhos  públicos  apareceram  uns  cartõezinhos  escritos  a  mão,  que  informavam  aos  cidadãos  sobre  a  melhor maneira  de  inutilizar  os  veículos  alemães,  colocando  açúcar  nos  tanques  de  gasolina.  "Houve  um  menino  que costumava  introduzir-se  nos  vestíbulos  dos  cafés  freqüentados  pelos  oficiais  da  Luftwaffe  e,  longe  das  vistas  de  todos, tirava  os  espadins  que  estavam  pendurados  junto  aos  capotes,  nos  cabides,  e  lhes  quebrava  as  lâminas.

"O  marquês  de  Mousrier,  um  velho  patrício  do  leste,  que  possuía  minas  na  França  e  na  Bélgica,  fez  voar  pelos  ares  um dos  seus  poços.  O  gesto  lhe  custou  quatro  milhões  de  francos,  uma  boa  soma  de  dinheiro  para  a  época,  porém,  em compensação  os  alemães  não  puderam  retirar  mineral  do  poço.  "Outras  atividades  saíram  bastante  caras,  como  a  bravata de  cinco  mocinhos  de  Nantes,  que  cortaram  os  fios  telegráficos  e  telefônicos  do  norte  da  cidade,  para  aborrecer  os alemães.  Eles  não  consideraram  a  inutilidade  do  seu  ato;  porque  os  invasores  continuavam  comunicando-se  pelas  linhas do  sul  ou  pelas  da  cidade  vizinha;  além  disso,  o  inconveniente  foi  facilmente  reparado.  Porém,  os  cinco  mocinhos  foram presos  e  passados  pelas  armas.

"Um  dos  fatores  que  mais  ativamente  contribuíram  para  organizar  centros  de  resistência  foi  a  reação  popular  à  tentativa dos  alemães  de  criar  grupos  e  movimentos  políticos  favoráveis  a  eles.  Uma  propaganda  maciça  através  do  rádio,  dos jornais,  etc.,  foi  lançada  para  desorientar  o  espírito  da  massa  e  inculcar-lhe  a  teoria  e  o  programa  do  regime  nazista.  A oposição  não  tardou  a  aparecer  de  forma  concreta,  numa  série  de  movimentos  clandestinos,  com  nomes  combativos, como:  “Liberdade”,  “Libertação”,  “O  Franco-atirador”,  “O  galo  acorrentado”  (o  galo  é  o  símbolo  representativo  do povo  francês)  e  “Combate”.  Eram  na  realidade,  reuniões  de  franceses  que  elaboravam  e  discutiam  a  melhor  maneira  de salvar  o  país  de  uma  total  submissão.  Em  seu  estado  embrionário,  esses  grupos  almejavam  por  uma  resistência,  porém não  ainda  em  forma  de  atividade  militar  organizada".

"Lulu"

Louis  Chabat,  mais  conhecido  como  "Lulu",  era  francês  e  combatera  com  os  maquis  na  zona  de  Grenoble.  Ao  ser  preso, a  8  de  setembro  de  1943,  foi  remetido  à  prisão  de  Fossano,  no  Piamonte.  Algum  tempo  mais  tarde,  em  companhia  de outros,  fugiu  para  unir-se  ao  grupo  de  Resistência  italiano  que  operava  na  região  de  Mondovi  e  Alba.  Comandando  dez homens,  assaltou  arsenais,  descarrilhou  trens  e,  para  coroar  sua  trajetória,  voltou  ao  cárcere  de  Fossano,  onde,  com  um golpe  de  audácia,  libertou  a  todos.  "Lulu"  costumava  vestir-se  com  uniformes  de  oficiais  fascistas  ou  alemães,  para facilitar  seus  atos  de  sabotagem.  No  dia  9  de  fevereiro  de  1945,  foi  morto  por  outro  grupo  de  partisans,  que  o  confundiu com  um  inimigo  emboscado.

Combater  com  papai

"Chamo-me  Fiumberto  Borelli.  Em  setembro  de  1943,  não  havia  completado  ainda  doze  anos  e  mal  terminara  de  cursar o  quinto  ano.  Nasci,  e  minha  família  viveu  sempre  na  praça  Cappella  de  Cangiani,  que  fica  ao  norte  da  cidade,  sobre  a colina  de  Camaldoni.

"No  dia  23  de  setembro,  enquanto  uma  longa  fila  de  caminhões  alemães  se  afastava  da  cidade,  vi  minha  mãe  chorando  e Vicente,  meu  pai,  armado  com  uma  metralhadora  de  mão.  Quando  se  aproximou  para  despedir-se  de  mim,  saltei  no  colo

dele  e  perguntei:  -  Papai,  posso  ir  com  você?  "Meu  pai,  que  era  chefe  do  bando  de  partisans  que  operava  na  zona  de Camaldoni,  sorriu,  me  acariciou,  pensou  um  pouco,  e  me  dando  uma  palmada  carinhosa,  disse:  -  Bem,  vem  comigo.

``Meu  pai  e  os  seus  homens  acampavam  em  um  pequeno  desfiladeiro  que  dominava  a  entrada  de  Orsolone.  Era  o esconderijo  ideal.  Eu  ficava  de  vigia  e  avisava  apressadamente  quando  notava  movimentos  de  soldados.  No  dia  27,  na rua  do  hospital  sanitário  „Príncipe  do  Piamonte‟,  vi  alguns  alemães  prendendo  dois  meninos,  filhos  de  partisans.

"Corri  velozmente,  e  emiti  um  assobio  agudo  pondo  dois  dedos  dentro  da  boca.  Era  o  sinal;  meu  pai  e  os  companheiros dispararam  suas  metralhadoras  e  os  alemães  fugiram.

"Outra  vez,  ainda  dentro  da  minha  nova  profissão  de  vigia,  vi  soldados  alemães  saltando  de  um  caminhão  e  começando a  colocar  cargas  de  explosivos  para  dinamitar  a  ponte  Caracciolo.  Não  dava  tempo  de  avisar  meu  pai;  me  sentia  muito emocionado,  mas  levantei  o  meu  revólver  e  disparei  contra  o  caminhão.

"Os  alemães  responderam  ao  fogo  e  nesse  momento  meu  pai  e  os  companheiros  chegaram,  e,  em  poucos  minutos, expulsaram  os  alemães,  capturaram  o  caminhão  e  inutilizaram  os  explosivos."

"Pássaro  Carpinteiro"

Violentos  golpes  sacodem  a  porta  de  entrada  de  uma  casa  situada  num  distrito  vizinho  às  margens  do  Vístula.  Cinco homens,  reunidos  em  torno  de  "Dzieciol"  (Pássaro  Carpinteiro),  chefe  do  Serviço  de  Inteligência,  se  entreolham silenciosamente.  Sabem  que  a  Gestapo  anda  na  pista  do  chefe.  E  sabem  também  que  muitos  companheiros  de "Dzieciol"  foram  presos  e  torturados  até  conseguir  arrancar  a  identidade  de  quem  os  dirigia.

Enquanto  os  homens,  extremamente  tensos  e  pálidos,  escutam  as  pancadas  aumentarem,  "Dzieciol"  corre  para  o  quarto ao  lado.  A  porta  da  rua  se  abre,  e  a  dona  da  casa  troca  umas  frases  com  alguém.  Depois,  sorridente,  aparece  no  quarto onde  estão  reunidos  os  integrantes  da  Resistência.

"Não    nada  a  temer  -  diz,  acalmando-os.  -  Trata-se  do  empregado  da  luz  que  veio  examinar  o  medidor;  impacientou- se  porque  não  abri  logo".  Ao  ouvir  essas  palavras,  "Dzieciol",  cambaleante,  entra  no  quarto.  "Me  envenenei"  -  murmura com  voz  entrecortada,  e  desaba.  O  chefe  do  Serviço  de  Inteligência,  com  os  nervos  destroçados  pela  constante  angústia em  que  vivia,  não  havia  resistido  a  esta  última  prova.

Após  passar  por  grandes  dificuldades,  conseguiram  salvar-lhe  a  vida.  Seu  tratamento  durou  quase  duas  semanas.  Ao  sair do  hospital  onde  se  restabelecera,  foi  preso  pela  Gestapo.  E  dessa  vez,  não  carregava  consigo  nenhum  veneno...  Dias depois,  após  terrível  torturas,  foi  assassinado.

A  bordo  de  uma  barcaça  no  Tibre

Mauricio  Giglio  havia  completado  vinte  anos  quando  a  guerra  foi  declarada.  Membro  fanático  das  organizações  juvenis fascistas,  logo  partiu  para  a  frente.  Estava  pronto  a  morrer  por  suas  idéias  e  foi  enviado  à  Albânia,  depois  de  haver completado  o  curso  de  oficial.  Combateu  ardorosamente  até  ser  gravemente  ferido  e  foi,  então,  repatriado.  Durante  sua convalescença,  o  jovem  tenente  começou  a  refletir  seriamente  por  que  combatia,  e  sobre  tudo  o  que  aprendera  na  escola, e  sobre  o  que  recordava  haver  vivido  nos  seus  primeiros  anos.  A  8  de  setembro  de  1943,  o  dia  do  armistício,  o  Tenente Giglio  estava  decidido.  Escreveu  aos  seus  pais:  "Há  algum  tempo  que  me  aproximo  da  verdade.  É  uma  aproximação penosa  do  verdadeiro  caminho...  "

Um  dia  saiu  do  hospital,  atravessou  a  linha  de  frente  e  se  apresentou  ante  um  comando  do  5 o  Exército  americano.  Havia se  decidido  por  um  lado  no  combate.  Propôs  um  plano:  voltaria  a  Roma,  se  alistaria  na  polícia  fascista  para  não despertar  suspeitas  e  transmitiria  informações  para  os  Aliados  e  grupos  de  partisans.  Os  americanos  aceitaram  e  lhe entregaram  dois  pequenos  transmissores  de  rádio.

Voltou  a  atravessar  as  linhas  de  frente,  evitando  as  patrulhas  alemãs  e  se  uniu,  em  Roma,  a  outros  três  colaboradores. Alistou-se  na  polícia  fascista,  e  ao  cabo  de  umas  semanas  começaram  a  chegar  copiosas  informações  aos  serviços secretos  aliados.  Os  transmissores  eram  montados  em  diferentes  lugares  da  cidade  para  que  não  fossem  localizados pelos  serviços  de  contra-espionagem  alemão.  Um  dia  um  foi  colocado  na  casa  do  ator  Sergio  Tofano;  outro,  na  cúpula da  Igreja  de  Santa  Ana  na  praça  Navona.  A  recepção  e  a  transmissão  continuou  assim  pelo  espaço  de  alguns  meses.

A  16  de  março  de  1944,  a  polícia  fascista  prendeu  um  dos  operadores  que  confessou  que  o  outro  aparelho  estava transmitindo  a  bordo  de  uma  barcaça  no  Tibre,  perto  do  Ministério  de  Finanças,  e  junto  à  Ponte  do  Renascimento.  O Tenente  Giglio,  advertido,  poderia  ter-se  posto  a  salvo  e  transferido  o  rádio  para  outro  colaborador  em  lugar  seguro, porém  não  quis,  e  continuou  transmitindo  até  o  último  momento,  para  não  interromper  a  emissão.

Era  um  prisioneiro  precioso;  foi  torturado,  para  que  contasse  tudo  o  que  sabia,  mas  sem  êxito.  Teve  que  ser  carregado por  dois  soldados  quando  foi  colocado  diante  do  pelotão  de  fuzilamento.

Salto  para  a  morte

Milão.  20  de  maio  de  1944.  Rua  Pier  Capponi  2.

Gaston  Piccinini,  oficial  da  Marinha  italiana,  e  Sergio  Tavernari,  estudante  milanês,  ocupam  um  pequeno  quarto  num velho  edifício.  É  um  compartimento  úmido  e  escuro  e  está  pobremente  mobiliado.  Mas  um  armário  pequeno  que  ocupa um  ângulo  do  quarto  tem  um  valor  incalculável.  Ali  está  escondido  algo  que  para  eles  pode  significar  a  vida  ou  a  morte. Ali  está  instalado  um  pequeno  aparelho  transmissor  que  os  mantém  em  contato  permanente  com  os  grupos  guerrilheiros do  interior  da  Itália...

São  quatro  horas  da  manhã  do  dia  20  de  maio.

A  campainha  da  porta  da  entrada  começou  a  tocar,  estridente.  Gaston  Piccinini,  erguendo-se  bruscamente  do  seu  leito, perguntou  em  voz  alta  quem  chamava.  Uma  resposta,  seca,  terminante,  o  paralisou:  "Polícia".  Piccinini,  saltando  da cama  procurou  dar  um  tom  calmo  à  voz:  "Um  momento.  Me  visto  e  abro".  Em  seguida,  fazendo  um  sinal  a  Sergio Tavernari,  que  o  observava,  interrogativamente,  começou  a  destruir  o  aparelho  com  a  coronha  do  seu  revólver, enquanto  Tavernari  punha  fogo  nos  códigos  e  em  outros  documentos.  Entrementes,  os  policiais,  fora  do  quarto,  haviam começado  a  bater  na  porta  com  a  culatra  dos  seus  fuzis,  procurando  derrubá-la.  Piccinini  e  Tavernari,  correndo  para  a janela,  a  abriram  de  par  em  par.  Embaixo,  na  rua,  um  grupo  de  soldados  cercava  a  casa.  Algumas  balas  começaram  a silvar  em  redor  dos  dois.  Os  jovens,  então,  audaciosamente,  por  cima  de  uma  cornija,  chegaram  ao  balcão  de  uma  casa vizinha.  Forçaram  a  janela  e  penetraram  no  interior  de  um  recinto  silencioso  e  escuro.  A  luz  da  lanterna  de  Piccinini, explorando  rapidamente  o  ambiente,  mostrou  que  estavam  num  quarto  vazio.  Correram  para  o  terraço.  Tudo  estava silencioso  e  na  penumbra.  Do  ponto  mais  alto  da  casa,  cinco  andares  sobre  o  nível  da  rua,  olharam  para  baixo.  Grupos de  soldados  e  policiais  se  movimentavam  velozmente  para  as  esquinas.  O  quarteirão  estava  rodeado.  Os  dois  rapazes  se esconderam  rapidamente  entre  caixotes  e  madeiras  amontoados  num  canto  do  terraço.  Ainda  restava  uma  esperança... Porém  passos  precipitados,  cada  vez  mais  próximos,  os  convenceram  da  inutilidade  de  pretender  fugir.

Piccinini,  friamente,  segurou  Tavernari  pelo  braço  e  o  conduziu  até  ao  parapeito.  Depois,  encarapitando-se  nele,  fez  ao outro  um  sinal  apenas  perceptível.  Tavernari,  compreendendo-o,  o  imitou.  Com  os  braços  fortemente  agarrados,  como para  se  estimular  mutuamente  a  tentar  aquela  derradeira  fuga  sem  retorno,  se  lançaram  ao  vazio.

Sergio  Tavernari  e  Gaston  Piccinini  foram  recolhidos,  instantes  depois,  ainda  com  vida.  Transportados  a  um  hospital próximo,  Tavernari  não  conseguiu  sobreviver  aos  ferimentos.

Piccinini,  ao  contrário,  reagindo  às  inúmeras  fraturas,  passou  vários  dias  inconsciente.  Por  fim,  num  audacioso  assalto, um  grupo  de  guerrilheiros  dirigidos  por  Leon  Beltramini  penetrou  no  hospital  e  o  resgatou,  escondendo-o.  Meses depois,  Gaston  Piccinini  voltava  à  luta.  Atrás  dele  ficava  um  camarada  morto.

Hitler  ludibriado  na  Dinamarca

20  de  junho  de  1941.  A  Alemanha  invade  a  União  Soviética,  seu  ex-aliado.  Na  Dinamarca,  uma  nação  ocupada  pelos alemães,  que  graças  à  sua  aparente  passividade  havia  conseguido  importações  suficientes  para  ter  o  nível  de  vida  mais elevado  da  Europa,  começam  a  se  formar  grupos  de  resistência  clandestinos.

Um  deles,  denominado  "Frihedsraad"  (Conselho  de  Liberdade)  agrupa,  entre  outros,  notáveis  intelectuais,  como  os professores  Olle  Chievitz  e  Mongens  Fog.  Desde  o  princípio  procuram  prudentemente  estabelecer  contato  com  a  União Soviética  por  um  lado  e  com  os  Estados  Unidos  e  a  Inglaterra,  por  outro.

A  atividade  fundamental  do  grupo  é  constituída  por  ataques  a  linhas  férreas,  dinamitação  de  pontes,  incêndio  em  trens, etc.

Os  Aliados,  a  princípio  não  prestaram  muita  atenção  na  formação  da  Resistência  dinamarquesa;  acreditavam  mais  na efetividade  dos  exércitos  organizados,  que  na  ação  de  bandos  clandestinos  por  mais  boa  vontade  e  estrutura  que tivessem.  Porém,  nas  jornadas  de  preparação  do  famoso  Dia  D,  os  chefes  ingleses  e  americanos  começaram  a  encarar com  mais  seriedade  os  golpes  de  audácia  do  movimento.  A  invasão  da  "Fortaleza  Européia"  era  algo  que  os  alemães pressentiam  e  os  Aliados  preparavam  no  maior  segredo.  Hitler  temia  o  desembarque  aliado,  porém  ignorava  onde  seria efetuado.

Os  serviços  de  inteligência  ingleses  e  americanos  tratavam  por  todos  os  meios  de  despistar  Berlim,  criando  impressões falsas.  Queriam  dar  a  entender  que  o  desembarque  se  produziria  em  qualquer  uma  das  inúmeras  bordas  da  "Fortaleza  da Europa",  menos  nas  praias  da  Normandia.

Os  atos  de  sabotagem  no  norte  da  península  dinamarquesa  fizeram  a  Alemanha  desconfiar  que  o  assalto  se  efetuaria  na Dinamarca.  Fortes  contingentes  de  tropas  foram  retiradas  de  outras  frentes  e  enviadas  aos  arredores  de  Copenhague.

Estes  preparativos  foram  percebidos  pelos  Aliados  que  se  deram  conta  dos  pressentimentos  de  Hitler.  Então,  o "Frihedsraad"  passou  para  primeiro  plano.  Dia  e  noite,  os  aviões  da  Real  Força  Aérea  sobrevoavam  as  zonas  lançando agentes,  armas  e  material  de  propaganda.  As  unidades  rápidas  da  frota,  os  submarinos,  os  homens-rãs  e  os  "comandos", complementavam  essa  atividade  aérea,  garantindo  o  serviço  de  correspondência,  os  transportes,  e  efetuando reconhecimentos  e  atos  de  sabotagem.

Os  golpes  de  audácia  se  multiplicaram.  Na  província  da  Jutlândia  se  efetuaram  mais  de  oito  mil  atos  de  sabotagem,  com o  fito  de  distrair  a  atenção  alemã.

Quando  o  desembarque  finalmente  foi  efetuado,  Hitler  comprovou  o  seu  equívoco;  as  atividades  dos  grupos clandestinos  não  somente  haviam  erguido  uma  cortina  de  fumaça  sobre  as  reais  intenções  dos  Aliados,  como,  ao  mesmo tempo,  haviam  afetado  consideravelmente  os  meios  de  comunicação  alemães  na  Dinamarca.

Heróis  e  mártires

Aqui,  estão  alguns,  dentre  muitos,  membros  da  Resistência  francesa,  mortos  no  curso  de  suas  atividades  clandestinas:

Felix  Eboue ,  nascido  em  Caiena.  Administrador  de  Colônias,  primeiro  homem  de  cor  nomeado  governador.  E  1940, sendo  governador  no  Chad,  decidiu  unir  seu  território  à  França  Livre.  Morreu  em  1944.

Honoré  D’Estienne  D’Orves ,  Oficial  da  marinha.  Transferiu-se  para  Londres,  unindo-se  à  frota  da  França  Livre. Posteriormente  desembarcou  clandestinamente  na  Bretanha.  Traído  por  um  de  seus  homens,  foi  preso  pela  Gestapo  em 1941.  Condenado  à  morte  e  executado  a  29  de  agosto  de  1941.

Bertie  Albrecht ,  membro  do  movimento  clandestino  Combat.  Preso,  foi  libertado  por  seus  camaradas.  Novamente aprisionado  pela  Gestapo,  foi  torturado  e  morto  em  junho  de  1943.

Jean  Moulin ,  preso  pelos  alemães  por  negar-se  a  assinar  uma  declaração  que  considerava  infamante.  Fugido,  chegou  a Londres,  unindo-se  ao  movimento  da  França  Livre.  Em  janeiro  de  1942  regressa  à  França,  organizando  o  movimento  da Resistência  no  sul  do  país.  Preso  em  junho  de  1943,  foi  torturado  e  morto  em  julho  do  mesmo  ano.

Jean  Artus,  Jacques  Baudry,  Pierre  Benoit,  Pierre  Grelot,  Lucien  Legros ,  alunos  do  Liceu  Buffon.  Organizaram manifestações  antialemães  e  atacaram  oficiais  inimigos.  Presos  em  junho  e  agosto  de  1942,  foram  condenados  à  morte  e fuzilados  a  8  de  fevereiro  de  1943.

General-de-Divisão  Delestraint ,  especialista  em  blindados.  Nomeado  pelo  General  De  Gaulle  chefe  do  exército secreto  dos  Movimentos  Unidos  da  Resistência.  Preso  em  Paris  em  junho  de  1943,  enviado  ao  campo  de  concentração de  Dachau  e  morto  nesse  campo  em  abril  de  1945.

Jean  Cavailles ,  filósofo,  professor  na  Sorbonne.  Preso,  conseguiu  fugir.  Preso  novamente,  foi  condenado  à  morte  e executado  em  agosto  de  1943.

Pierre  Brossolette ,  jornalista.  Partiu  para  Londres,  de  onde  regressou  à  França,  com  a  missão  de  coordenar  a  ação  da zona  norte.  Preso  e  torturado,  suicidou-se,  lançando-se  por  uma  janela  da  Gestapo,  em  Paris,  em  março  de  1944.

Pierre  Georges  Fabien ,  operário  metalúrgico,  autor  do  primeiro  atentado  contra  um  oficial  alemão,  fundador  dos Batalhões  Armados  da  Juventude,  comandou  a  Brigada  das  Forças  Francesas  no  interior  da  “Ile  de  France”.  Suas unidades,  formadas  por  operários  parisienses  deram  o  melhor  exemplo  da  unidade  existente  entre  o  exército  clandestino e  o  Primeiro  Exército  Francês.  Tomou  parte  na  campanha  da  Alsácia,  no  transcorrer  da  qual  tombou  morto  em Habsheim,  no  Alto  Rin,  a  27  de  dezembro  de  1944.

O  texto  a  seguir  pertence  a  uma  carta,  a  última,  escrita  por  um  condenado  à  morte.  Foi  redigida  aos  seus  pais  por  um jovem  combatente  da  Resistência:

29  de  julho  de  1942

Queridos  pais:

Vou  ser  fuzilado  ao  meio  dia  (agora  são  9h15m).  Sinto  uma  estranha  mescla  de  alegria  e  de  emoção.  Perdão  por  toda  a dor  que  lhes  causei,  por  todo  o  que  lhes  causo,  e  por  tudo  o  que  ainda  causarei.  Perdão  a  todos  pelo  mal  que  lhes  possa ter  feito  e  por  todo  o  bem  que  não  fiz.  Mês  testamento  será  curto.  Peço  apenas  que  não  percam  a  fé.  Abraço-os  de  todo  o coração.  Do  filho  que  os  adora,  Roger.

Roger  Peronneau,  fuzilado  a  29  de  julho  de  1942.

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