terça-feira, 8 de agosto de 2023

Segunda Guerra Mundial - 1940 Campanha da França, Invasão da Holanda e Bélgica Ruptura no Mosa

 

Campanha  da  França
Ataque  no  Ocidente
Invasão  da  Holanda  e  Bélgica Ruptura  no  Mosa

Na  manhã  de  10  de  janeiro  de  1940,  O  general  Franz  Halder,  chefe  do  Estado-Maior  do  Exército  alemão, recebeu  de  Hitler  a  ordem  para  o  inicio  do  ataque  contra  a  França.  Sem  demora,  Halder  deu  as  instruções finais  aos  comandantes  dos  diferentes  exércitos.  A  17  de  janeiro,  pela  madrugada,  as  135  divisões  da Wehrmacht  se  lançariam  ao  assalto  ao  ocidente.

De  acordo  com  as  diretrizes  partidas  de  Hitler,  as  forças  alemães  avançariam  através  dos  territórios  da Holanda  e  da  Bélgica,  flanqueando  pelo  norte,  as  fortificações  da  Linha  Maginot.  Esse  plano,  de  nome “Amarelo”  carecia  de  toda  originalidade,  pois  seguia  sem  maiores  variações  as  linhas  do  célebre  plano Schlieffen,  usado  pelos  alemães  em  sua  fracassada  invasão  da  França,  na  Primeira  Guerra.

Na  noite  de  10  de  janeiro,  um  avião  da  Luftwaffe  decolou  do  aeroporto  de  Munster  e  seguiu  rumo  ao  sul.  A bordo,  viajava  o  major  Helmut  Reinberger,  oficial  de  ligação  das  forças  aerotransportadas,  que  se  dirigia  à cidade  de  Bonn,  sede  do  comando  da    Frota  Aérea,  para  discutir  com  os  chefes  daquele  corpo  alguns detalhes  da  iminente  ofensiva.  Em  sua  pasta,  Reinberger  levava  uma  cópia  do  plano  completo  das  operações da  invasão  da  França.

Era  uma  noite  tempestuosa  e  os  fortes  ventos  desviaram  o  avião  da  rota.  O  piloto  desorientado,  transpôs,  sem perceber,  a  fronteira  belga.  Durante  longo  tempo  voou  sobre  campos  cobertos  de  neve,  sem  estabelecer  a  sua posição.  Finalmente,  sem  combustível,  viu-se  obrigado  a  fazer  uma  aterragem  forçada,  nas  cercanias  da cidade  de  Machelen-sur-Meuse.  Ao  descer  do  avião,  um  grupo  de  guardas  de  fronteira  dirigiu-se  ao  lugar  da aterragem.  Reinberger,  angustiado,  abandonou  o  aparelho  e  tentou  queimar  os  documentos  vitais,  o  que  não conseguiu  fazer.  Os  soldados  belgas  apoderaram-se  dos  papeis  e  prenderam  Reinberger  e  o  piloto.

Quando  chegou  a  Berlim  a  notícia  do  acidente,  os  chefes  da  Wehrmacht  compreenderam  que  o  segredo  da invasão  estava  perdido.  Hitler  enfurecido,  ordenou  suspendê-la  a  13  de  janeiro  e  resolveu  adotar  novo  plano. Por  sorte,  existia    um  projeto  que  diferia  radicalmente  do  que  havia  caído  em  mãos  aliadas.  Seu  autor  era  o general  Von  Manstein,  um  dos  mais  brilhantes  estrategistas  do  Exército  alemão.

O  plano  de  Von  Manstein:

A  31  de  outubro  de  1939,  von  Manstein,  que  ocupava  o  cargo  de  chefe  do  Estado-maior  do  Grupo  de Exércitos  A,  levou  a  seu  superior,  o  general  Rundstedt,  o  primeiro  projeto  do  plano  que  havia  de  assegurar, nove  meses  após,  a  derrota  total  da  França.  Sua  concepção  afastava-se  dos  cânones  clássicos  e  garantia diferentemente  do  plano  “Amarelo”,  a  plena  aplicação  dos  princípios  revolucionários  da  “guerra  relâmpago”.

Manstein  propunha  concentrar  o  grosso  das  forças  alemães,  especialmente  as  divisões  Panzer,  na  verde  e agreste  região  das  Ardenas,  para  atacar  de  surpresa  o  débil  flanco  sul  dos  exércitos  aliados,  estabelecidos  ao largo  da  fronteira  norte  da  França.  Os  chefes  franceses  e  britânicos  consideravam  as  Ardenas,  como  uma impenetrável  barreira  natural,  pois  era  quase  totalmente  destituída  de  estradas  para  os  carros  blindados.  Por isto,  destacaram  para  ali,  poucas  divisões,  integradas  em  sua  maioria  de  reservistas  e  tropas  de  segunda classe.  Existia,  portanto,  a  possibilidade  de  realizar  naquela  zona  uma  rápida  ruptura.

Uma  vez  rompida  a  frente,  os  tanques  seguidos  pela  infantaria  motorizada  e  apoiadas  pela  aviação, avançariam  a  toda  velocidade  até  as  costas  do  Canal  da  Mancha,  cercando  pela  retaguarda  as  tropas  inimigas. Essa  seria  a  missão  do  Grupo  de  Exércitos  A,  comandada  por  von  Rundstedt.

O  Grupo  de  Exércitos  B,  sob  o  comando  de  Von  Bock,  se  lançaria  ao  ataque  pelo  norte,  através  da  Holanda  e da  Bélgica  e  atrairia  as  forças  franco-britânicas  ao  interior  da  Bélgica,  a  fim  de  separá-las  das  fortificações  da fronteira.  Um  terceiro  grupo  de  exércitos,  o  C,  comandado  por  Von  Leeb,  ficaria  postado  diante  da  Linha Maginot,  com  a  missão  de  imobilizar  as  numerosas  divisões  francesas  ali  destacadas.

Ao  internar-se  na  Bélgica  para  enfrentar  o  ataque  do  grupo  de  exércitos  B,  as  forças  aliadas  seriam  tolhidas na  retaguarda  pelas  divisões  blindadas.  Desta  forma,  por  meio  de  uma  gigantesca  batalha  de  aniquilamento se  faria  a  destruição  total  do  grosso  dos  exércitos  aliados.

O  ousado  projeto  de  Manstein  foi,  no  entanto,  posto  de  lado  pelo  general  Brauchitsch,  Comandante-Chefe  do Exército,  embora  o  general  Guderian,  o  mais  destacado  especialista  na  guerra  de  tanques,  o  tenha  apoiado com  entusiasmo.  Manstein,  não  obstante,  não  desanimou  e,  em  repetidas  oportunidades,  levou  a  seus  chefes detalhados  informes,  em  apoio  do  plano.  Finalmente,  a  27  de  janeiro,  Brauchitsch  decidiu  acabar  com  a insistência  do  obstinado  general  e  o  afastou  de  suas  funções  de  chefe  do  Estado-Maior,  designando-o comandante  de  um  corpo  de  infantaria,  que  se  achava  em  formação  no  interior  da  Alemanha.

Foi  nessa  ocasião  que  Hitler  decidiu  alterar  seus  planos  de  ofensiva.  A  17  de  fevereiro,  Manstein  foi convidado  a  comparecer  à  Chancelaria  do  Reich,  junto  com  os  chefes  de  todas  as  novas  unidades  do Exército.  Ao  terminar  a  reunião,  Hitler  o  chamou  à  parte  e  o  convidou  a  passar  ao  seu  gabinete.  Uma  vez sozinhos,  ordenou-lhe  que  expusesse  os  pormenores  do  seu  plano.  Manstein  fez  uma  explicação  detalhada, sem  que  Hitler  o  interrompesse  uma    vez.  Ao  finalizar  sua  exposição,  Hitler  pôs-se  de    e,  apertando-lhe  a mão,  comunicou-lhe,  com  entusiasmo,  que  estava  plenamente  de  acordo  com  as  suas  idéias.

Três  dias  após,  Halder  recebeu  ordem  de  substituir  o  plano  “Amarelo”  pelo  projeto  de  Manstein.  Sem demora,  foram  dadas  as  novas  diretrizes  e  se  realizou  o  reagrupamento  das  forças.  Sete  das  10  divisões Panzer  da  Wehrmacht  foram  anexadas  ao  grupo  de  exércitos  de  von  Rundstedt.  Esta  gigantesca  falange blindada  com  mais  de  1.500  tanques,  realizaria  a  irrupção  de  surpresa,  através  dos  “intransponíveis”  bosques das  Ardenas.

Começa  a  ofensiva:

Na  tarde  de  9  de  maio  de  1940,  Hitler  subiu  em  seu  trem  especial,  acompanhado  pelos  generais  Keitel  e  Jodl. Logo  depois,  o  trem  deixou  a  estação  e  dirigiu-se  velozmente  para  a  localidade  de  Muenstereifel,  situada  a cerca  de  30  km  da  fronteira  belga.  Ali,  o  ditador  havia  instalado  o  seu  QG,  de  onde  se  dispunha  a  dirigir  a campanha  contra  a  França.

Às  21h  e  ainda  na  metade  do  caminho,  Hitler  recebeu  o  informe  das  perspectivas  do  tempo  para  o  dia  10: totalmente  favoráveis.  Sem  vacilar  um  instante,  deu  a  Keitel  a  ordem  de  ataque:  “Danzig!”.

Ao  receber  a  ordem.,  o  general  Halder  dispôs  que  as  forças  da  Wehrmacht  se  lançasse  ao  assalto  através  da fronteira,  tão  logo  o  sol  aparecesse.  Às  5h  de  10  de  maio,  as  esquadrilhas  da  Luftwaffe  decolaram  e  mais  de 3.000  aviões  atacaram  de  surpresa  os  aeródromos  do  norte  da  França,  Bélgica  e  Holanda  e  destruíram  em terra  centenas  de  aviões  aliados.  A  supremacia  aérea  alemã  ficou  assim  provada,  praticamente,  desde  o primeiro  dia  de  luta.

Simultaneamente,  4.500  pára-quedistas  e  20.000  soldados  aerotransportados  desciam  na  Bélgica  e  na Holanda,  para  tomar  intactas  as  pontes,  por  onde  penetrariam  as  forças  do  Exército  até  o  oeste.  Um  reduzido grupo  de  78  sapadores,  comandados  pelo  tenente  Witzig,  aterrissou  em  planadores  junto  à  cúpula  principal do  forte  Eben  Emael,  ponto  chave  das  defesas  da  fronteira  belga  e,  mediante  um  ousado  golpe,  conseguiu tomar  as  galerias  superiores.  Embaixo,  nas  entranhas  do  forte,  ficaram  isolados  1.200  soldados  belgas. Reforçados  com  novos  contingentes  de  pára-quedistas,  Witzig  conseguiu  manter  confinados  os  belgas  até  a chegada,  ao  meio-dia,  dos  tanques  da  vanguarda,  do    Exército  de  von  Reichenau.  O  caminho  para  Bruxelas estava  livre.

Em  Roterdã,  os  pára-quedistas  comandados  pelo  General  Student,  tomaram  os  aeródromos  e  as  pontes  vitais sobre  o  rio  Mass.  No  entanto,  o  ataque  contra  Haia,  conduzido  pelo  general  conde  de  Sponeck,  foi  rechaçado pelos  holandeses.  500  pára-quedistas  desceram  na  Bélgica,  junto  à  margem  do  Canal  Alberto,  profundo  curso d’água  que  os  aliados  pensavam  em  utilizar  como  barreira  antitanque  e  tomaram  as  três  pontes  principais, sem  luta.

O  ataque  das  forças  aerotransportadas,  planejado  pelo  próprio  Hitler,  alcançou  êxito  absoluto.  Em  meio  ao pânico  e  à  confusão  na  retaguarda  das  linhas  aliadas,  causados  pela  descida  dos  pára-quedistas  e  pelos bombardeios  da  Luftwaffe,  as  forças  de  von  Bock,  precedidas  por  suas  três  divisões  Panzer,  se  internaram rapidamente  na  Bélgica  e  na  Holanda.

Às  6:30h  da  manhã,  após  receber  os  primeiros  informes  do  fulminante  ataque  alemão,  o  general  Gamelin, comandante-chefe  do  Exército  francês,  ordenou  a  seus  exércitos  que  saíssem  ao  encontro  dos  alemães.  Uma hora  depois,  duas  divisões  mecanizadas  entravam  na  Bélgica  e  avançaram  velozmente  para  leste,  em  meio  às aclamações  da  multidão  que  margeava  as  estradas.

A  conquista  da  Holanda:

Na  manhã  de  13  de  maio,  a  vanguarda  do  18°  Exército  de  Von  Kuchler,  fez  contato,  finalmente,  com  os pára-quedistas,  que,    três  dias  combatiam  nas  pontes,  diante  de  Roterdã.  Dois  dias  antes,  a    DP  (divisão Panzer),  apoiada  pela  Luftwaffe,  repeliu  até  o  sul  o    Exército  francês  do  general  Giraud,  cujas  unidades tinham  avançado  rápido  pela  costa,  para  ajudar  a  guarnição  de  Roterdã.  A  sorte  da  Holanda  estava  selada.

Protegido  pela  rede  de  canais,  o  grosso  do  Exército  holandês  se  entrincheirou  em  torno  de  Haia  e  se  preparou para  oferecer  uma  resistência  desesperada.  Hitler  decidiu  então  dar  um  golpe  de  terror,  com  o  objetivo  de obter  a  imediata  capitulação  do  país.  A  13  de  maio,  ordenou  à  Luftwaffe  que  realizasse  um  bombardeio maciço  contra  Roterdã,  sem  saber  que  a  sua  guarnição    havia  iniciado  negociações  para  a  rendição  da cidade.

Às  3  da  tarde,  apareceram  sobre  Roterdã  as  primeiras  esquadrilhas  de  Stukas.  O  general  Choltitz,  chefe  das tropas  aerotransportadas  sediada  nas  pontes,  ordenou  imediatamente  que  se  disparassem  sinais  luminosos, para  avisar  os  aviões  que  interrompessem  o  ataque.  Apesar  disso,  a    visibilidade  e  a  fumaça  dos  incêndios impediu  que  uma  das  esquadrilhas  avistasse  os  sinais  e  seus  aviões  deram  início  ao  bombardeio.  Em  poucos minutos,  todo  o  centro  da  cidade  ficou  reduzido  a  escombros  e  morreram  mais  de  800  civis.  Logo  após,  a guarnição  se  rendia,  e  as  tropas  alemães  entraram  na  cidade  em  chamas.

O  caminho  de  Haia  ficava  assim  aberto.  Pela  tarde  a  Rainha  Guilhermina  embarcou  num  destróier  inglês  e solicitou  ao  capitão  que  a  conduzisse  ao  porto  de  Flushing,  ao  sul  da  Holanda.  O  comandante  porém,  negou- se  a  fazê-lo  e  se  dirigiu  diretamente  à  Inglaterra.  No  dia  seguinte,  o  general  Winckelmann,  comandante  do Exército  holandês,  rendeu  o  seu  país  aos  alemães.

Os  aliados  caem  na  armadilha:

Na  tarde  de  10  de  maio  as  divisões  da  vanguarda  francesas,  comandadas  pelo  general  de  Prioux,  chegaram  às margens  do  Dyle.  Era  ali  que  Gamelin  queria  concentrar  o  grosso  das  forças  franco-britânicas  -  o    Grupo de  Exércitos  do  General  Billotte  -  para  resistir  à  investida  dos  alemães.  Nesse  momento,  as  tropas  do  6° Exército  alemão,  precedidas  por  duas  DP,  internavam-se  na  Bélgica,  pelas  pontes  do  Mosa  e  do  Canal Alberto.

No  dia  seguinte,  após  capturar  o  forte  Eben  Emael,  os  tanques  alemães  flanquearam  a  cidade  de  Liege  e  se dirigiram  rápido  ao  Dyle.  Às  13h,  encontraram  os  blindados  do  general  Prioux,  que  se  haviam  adiantado  em direção  à  fronteira.  A  principio,  os  franceses,  tentaram  deter  os  Panzer,  mas  logo  a  Luftwaffe  lançou  ao ataque  suas  esquadrilhas  de  Stukas  e  Prioux,  após  sofrer  grandes  perdas,  viu-se  obrigado  a  retirar-se precipitadamente.  Sem  demora,  enviou  mensagem  ao  general  Billotte,  sugerindo-lhe  que  renunciasse  ao avanço  sobre  o  Dyle,  devido  a  extraordinária  potência  do  ataque  alemão.  Billotte,  no  entanto,  recusou  o conselho  e  ordenou  a  suas  unidades  que  apressassem  a  marcha  para  o  rio.

A  13  de  maio,  as  divisões  francesas  e  o  Corpo  Expedicionário  Inglês  do  General  Gort,  chegaram,  finalmente, à  linha  “fortificada”  do  Dyle.  Com  surpresa  e  consternação,  os  chefes  aliados  comprovaram  que  não  havia  ali obra  nenhuma  de  defesa  permanente.  Os  belgas  se  haviam  limitado  a  construir  uma  série  de  débeis  redutos, protegidos  por  simples  arames  farpados.  Apesar  disso,  Billotte  ordenou  a  suas  tropas  que  se  entrincheirassem junto  ao  rio.

Pela  tarde,  ali  chegaram  as  dizimadas  forças  de  Prioux  que  foram  incorporadas  sem  demora.  Atrás  deles, surgiram  os  tanques  do    Exército  alemão,  antes  do  por  do  sol,  realizaram  os  primeiros  ataques  contra  as posições  aliadas,  mas  foram  repelidos.

Até  então,  a  Luftwaffe,  havia  limitado  a  sua  ação  à  frente  de  combate,  razão  pela  qual  os  aliados  puderam  se mover  tão  rápido  para  a  frente.  Isto  criou  dúvidas  no  Comando,  mas  Gamelin  convencido  de  que  os  alemães atacavam  principalmente,  pelo  norte,  através  da  Bélgica  e  Holanda,  manteve  a  sua  conduta.  E  era  exatamente isto  que  os  alemães  queriam.  No  mesmo  momento  em  que  as  forças  de  Billotte  se  preparavam  na  Bélgica para  travar  a  batalha  “decisiva”,  ao  sul,  44  divisões  do  Grupo  de  Exércitos  de  Rundstedt,  precedidos  por  3 Corpos  Panzer,  com  mais  de  1.500  tanques,  acabavam  de  cruzar  as  Ardenas.  Dispostas  em  intermináveis colunas,  os  blindados  marcharam  dois  dias  sem  parar,  sem  encontrar  resistência  e  na  tarde  de  12  de  maio, chegaram  de  surpresa  nas  margens  do  Mosa  e  se  dispuseram  a  cortar  o  centro  das  linhas  aliadas.  Tudo  correu como  devia.

Ruptura  no  Mosa:

Na  madrugada  de  13  de  maio,  as  tropas  de  assalto  da    DP,  do  general  Erwin  Rommel,  conquistaram  a primeira  cabeça  de  ponte  sobre  a  margem  esquerda  do  Mosa,  na  cidade  belga  de  Dinant.  Rommel  então ordenou  de  imediato  ao  resto  das  forças  que  cruzassem  o  rio  e  iniciassem  o  avanço  para  o  oeste.

Mais  ao  sul,  em  Sedan,  o  General  Guderian  apressou-se  em  executar  a  operação  decisiva.  Suas  três  divisões blindadas  apoiadas  pelos  Stukas,  iam  tentar  a  ruptura  da  frente  no  ponto  de  união  entre  o    Exército  do general  Corap  e  o    do  general  Huntziger.  Dessa  forma,  todas  as  forças  aliadas  no  norte  da  França  e  na Bélgica,  ficariam  separadas  das  fortificações  da  Linha  Maginot.

Às  16h,  após  um  demolidor  bombardeio  aéreo,  que  silenciou  as  baterias  francesas,  as  tropas  de  assalto  do regimento  de  infantaria  Grossdeutschland  cruzaram  o  rio  em  centenas  de  botes  de  borracha  e  se entrincheiraram  na  outra  margem.  Guderian  acompanhou  as  suas  tropas  e  ordenou  a  imediata  construção  de pontes  de  barcaças,  para  acelerar  a  passagem  dos  tanques.  Na  manhã  seguinte,  as  três  DPs  haviam atravessado  o  Mosa  e  iniciaram  o  seu  esmagador  avanço,  semeando  o  pânico  entre  as  desmoralizadas  tropas francesas.  Milhares  de  soldados  abandonaram  suas  posições  sem  lutar  e  fugiram  desordenadamente,  pelos caminhos  e  estradas  que  conduziam  ao  oeste.  A  ruptura  era  completa.

O  General  Georges,  Comandante-chefe  das  forças  aliados  no  norte  da  França,  ordenou  um  contra-ataque contra  o  flanco  sul  da  cabeça  de  ponte  alemã.  Dois  regimentos  de  infantaria,  apoiados  por  vários  batalhões  de tanques,  lançaram-se  contra  as  posições  alemães,  mas  foram  repelidos  e  sofreram  pesadas  perdas.

Na  tarde  de  14  de  maio,  Guderian  ordenou  a  duas  de  suas  divisões  que  seguissem  ao  oeste,  para  empreender sem  tardar  a  marcha  até  o  litoral  do  Canal  da  Mancha.  Mais  ao  norte,  o  Corpo  Blindado  do  general  Reinhardt que  havia  cruzado  o  Mosa  em  Monthermé,  avançava    para  o  oeste,  após  ter  aniquilado  as  unidades  do  9° Exército  francês  que  defendiam  o  local.

Ao  cair  da  noite,  o  General  Huntziger,  chefe  do    Exército  francês,  ordenou  a  retirada  de  suas  forças  até  às fortificações  da  Linha  Maginot,  para  não  serem  aniquiladas  pela  maré  dos  blindados  alemães.  Na  madrugada de  15  de  maio,  o  General  Corap,  por  sua  vez,  ordenou  que  os  restos  do  seu    Exército  abandonassem  suas posições  no  Mosa  e  formassem  uma  nova  linha  defensiva  mais  para  oeste.  Dessa  forma,  abriu-se  no  centro das  linhas  aliadas,  uma  brecha  de  mais  de  90  km  de  largura,  através  da  qual  se  precipitaram  as  divisões Panzer  até  o  coração  da  França..

A  corrida  para  o  Canal:

Na  manhã  de  15  de  maio,  Guderian  recebeu  ordens  do  general  von  Kleist,  chefe  do  Grupamento  blindado, para  deter  o  avanço  e  consolidar  a  cabeça  de  ponte  sobre  o  Mosa.  Enfurecido,  Guderian  telefonou  de imediato  ao  seu  superior  e  lhe  solicitou  energicamente  autorização  para  continuar  o  avanço,  para  explorar  a fundo  o  êxito  alcançado  na  véspera  por  suas  unidades.  Kleist,  finalmente,  acedeu  e  permitiu  o  avanço  dos tanques  durante  24  horas.  Era  o  que  Guderian  necessitava.  Sem  demora,  foi  juntar-se  às  suas  divisões  e  lhes ordenou  o  reinicio  do  ataque.

O  alto  comando  francês    percebia  a  ameaça  mortal  que  pairava  sobre  a  cabeça  dos  exércitos  que  lutavam  na Bélgica.  Na  madrugada  de  15  de  maio,  Paul  Reynaud  telefonou  urgentemente  para  Winston  Churchill,  que desde  o  dia  10  ocupava  a  chefia  do  Governo  inglês,  e  lhe  comunicou  angustiado,  que  os  aliados  haviam perdido  a  batalha.  Churchill,  incrédulo,  respondeu-lhe  que  os  tanques  alemães  deveriam  parar  a  sua  marcha para  reabastecer-se  de  combustível  e  munição.  O  veterano  político  britânico,  tal  como  a  maioria  dos  chefes aliados,  ignorava  tudo  acerca  da  revolucionária  capacidade  combativa  das  forças  mecanizadas.

Às  9h  da  manhã,  a    Divisão  Blindada  francesa,  comandada  pelo  general  Bruneau,  atacou  o  flanco  norte  da cunha  alemã,  no  desejo  desesperado  de  conter  avanço  das  divisões  Panzer.  Apesar  disso,  os  lentos  e antiquados  tanques  franceses  não  conseguiram  o  seu  objetivo.  Ao  terminar  o  dia,  a  divisão  de  Bruneau  havia deixado  de  existir.  Os  restos  calcinados  de  seus  veículo  marcavam  a  rota  de  avanço  dos  tanques  de  Rommel.

Ao  sul,  as  divisões  de  Guderian  avançavam  velozmente,  precedidas  por  esquadrilhas  de  Stukas,  sem enfrentar  praticamente  nenhuma  resistência.  Às  20h,  suas  unidades  de  vanguarda  encontravam-se  perto  de Montcornet,  situada  a  menos  de  100  km,  ao  norte  de  Paris.  Na  capital  a  vida  transcorria  normalmente,  sem que  a  população  tivesse  a  menor  notícia  da  proximidades  das  forças  alemães.  Mas,  nos  círculos governamentais,  corriam    os  primeiros  rumores  da  catástrofe  que  se  havia  desencadeado  sobre  os  exércitos franceses  que  defendiam  o  Mosa.

No  seu  QG,  em  Vincennes,  Gamelin,  desesperado,  compreendeu  que  tudo  estava  perdido.  Seu  único  exército de  reserva,  o    do  general  Giraud,  se  achava  lutando,  por  ordem  sua,  no  norte  da  Bélgica.  Não  contava,  em conseqüência,  de  nenhuma  força  para  fechar  a  gigantesca  brecha  aberta  pelos  blindados  alemães.  Paris  corria o  risco  de  ser  ocupada  pelos  alemães  em  questões  de  horas.

Às  20:30  horas,  Gamelin  telefonou  a  Edouard  Daladier,  ministro  da  defesa  e  lhe  comunicou  a  trágica  notícia. Pouco  depois,  tomou  uma  série  de  medidas  desesperadas,  para  reconstituir  a  frente.  Os  exércitos  aliados  que combatiam  na  Bélgica  abandonariam  logo  as  suas  posições  no  rio  Dyle  e  estabeleceriam  uma  nova  linha defensiva  mais  para  a  oeste,  nas  margens  do  Escalda.  Por  sua  vez,  O    Exército  de  Giraud  se  deslocaria  em marcha  forçada  até  o  sul,  para  deter  o  caminho  dos  blindados  alemães.  Para  defender  Paris,  o    Exército  do general  Touchon,  destacado  em  frente  à  fronteira  da  Suiça,  marcharia  para  o  norte  e  tentaria  se  estabelecer nas  margens  do  rio  Aisne,  sob  a  proteção  da    DB  (divisão  blindada)  que,  sem  demora,  deveria  atacar,  as unidades  Panzer  que  operavam  em  Montcornet.

Enquanto  Gamelin,  dava  as  últimas  instruções  aos  diferentes  exércitos  aliados,  os  tanques  alemães prosseguiam  seu  avanço  vertiginoso  para  o  oeste.

Na  manhã  de  16  de  maio,  as  divisões  de  Guderian  ocuparam  Montcornet  e,  sem  se  deter,  prosseguiram avançando  até  esgotar  suas  últimas  reservas  de  combustível.  O  ataque  ficou  assim  momentaneamente paralisado,  bem  perto  do  rio  Oise.  Aproveitando  a  pausa,  Guderian  reuniu  os  chefes  de  todas  as  unidades  e lhes  deu  diretivas  para  a  realização  da  última  investida  até  a  costa  da  Mancha.

Mais  ao  norte,  os  Corpos  Blindados  dos  generais  Reinhardt  e  Hoth  alcançaram  também  neste  dia  as  margens do  Oise.  A  armadilha  montada  por  Manstein  estava  prestes  a  se  fechar  sobre  a  cabeça  os  exércitos  aliados.

Pânico  em  Paris:

Seguindo  as  ordens  de  Gamelin,  o  coronel  Charles  De  Gaulle,  designado  chefe  da    DB,  se  dirigiu  a  16  de maio  à  cidade  de  Laon,  para  organizar  um  ataque  contra  o  flanco  sul  da  cunha  aberta  pelos  Panzer.  De Gaulle,  amargurado,  viu  que  a  sua  “divisão  blindada”  era  apenas  uma  unidade  em  formação,  integrada  por 150  tanques,  em  sua  maioria  antiquados,  tripulados  por  soldados  carentes  de  toda  a  instrução.  Como  apoio  de infantaria    contava  com  um  batalhão  transportado  em  ônibus.  Apesar  disso,  o  jovem  coronel  dispôs-se  a levar  a  adiante  a  temerária  operação.

Na  madrugada  deste  dia,  Gamelin  telefonou  urgentemente  a  Daladier,  e,  com  voz  angustiada,  comunicou-lhe que  declinava  de  toda  responsabilidade  com  respeito  à  sorte  de  Paris,  pois,  nesse  momento,  as  forças  alemães estavam  a  poucos  quilômetros  ao  norte  da  cidade.  Paris  podia  cair  nessa  mesma  noite.  Nestas  circunstâncias caóticas,  chega  a  Paris,  Winston  Churchill  que  na  mesma  tarde,  manteve  uma  conferência  com  os governantes  franceses.

A  dramática  reunião  realizou-se  no  edifício  do  Ministério  das  Relações  Exteriores.  Do  lado  francês,  estavam presentes  Paul  Reynaud,  Daladier  e  o  general  Gamelin.  Este  último,  valendo-se  de  um  grande  mapa  no  qual estava  assinalada  a  cunha  aberta  pelos  Panzer,  expôs  a  Churchill  a  crítica  situação.  Ao  concluir  a  sua exposição,  a  sala  ficou  em  completo  silêncio.  Churchill  finalmente  perguntou:  -  Onde  está  sua  reserva estratégica?  O  chefe  francês  totalmente  abatido,  respondeu:  -  Não  existe  nenhuma.

Foi  assim  que  Churchill,  pela  primeira  vez,  percebeu  claramente  a  catástrofe  que  ameaçava  desencadear-se sobre  os  exércitos  aliados.  Nessa  mesma  tarde,  pediu  urgentemente  ao  seu  Governo  que  autorizasse  o  envio  à França  de  19  esquadrilhas  de  aviões  de  caça.  No  entanto,  nada  mais  podia  alterar  o  inexorável desenvolvimento  dos  fatos.

Na  madrugada  de  17  de  maio,  De  Gaulle  lançou  ao  ataque  seus  tanques,  em  direção  à  cidade  de  Montcornet. Combatendo  encarniçadamente,  os  lentos  blindados  franceses  tentaram  abrir  passagem  através  dos  surpresos destacamentos  de  infantaria  alemães  e,  durante  algumas  horas,  conseguiram  manter-se  em  Montcornet. Finalmente,  ao  cair  da  noite  e  após  suportar  os  incessantes  ataques  dos  Stukas,  De  Gaulle  ordenou  a  retirada de  suas  forças  para  o  sul.  O  ataque  fracassara  totalmente.

O  cerco  se  fecha:

Na  manhã  de  17  de  maio,  Guderian  se  dispôs  a  reiniciar  o  avanço  até  as  costas  do  Canal.  Nesse  momento, recebeu  urgente  mensagem  do  QG,  anunciando-lhe  que  devia  transportar-se  imediatamente  a  um improvisado  campo  de  aterrissagem,  situado  nas  cercanias  de  Montcornet,  para  aguardar  a  chegada  do general  von  Kleist,  chefe  de  Grupo  dos  Exércitos  Blindados.

Pouco  depois  teve  lugar  a  entrevista.  Kleist,  sem  saudar  a  Guderian,  censurou-o  violentamente,  afirmando- lhe  que,  ao  abandonar,  com  suas  divisões,  a  cabeça-de-ponte  do  Mosa,  havia  infringido  ordens  do  Alto Comando.  Guderian,  enfurecido,  solicitou  dispensa  do  comando,  com  o  que  Kleist  concordou.  Assim,  ficou novamente  paralisada  o  avanço  das  divisões  Panzer.

Qual  a  causa  dessa  intempestiva  ordem  do  Alto?  Nessa  manhã.  Hitler  tivera  uma  entrevista  com  o  general Rundstedt  e,  ao  inteirar-se  da  profunda  penetração  realizada  pelos  blindados,  ordenou  deter  imediatamente  o seu  avanço.  Hitler  temia  que  os  franceses  lançassem  de  surpresa  um  contra-ataque  contra  o  flanco  sul  da cunha  aberta  pelos  tanques  e  conseguissem  separá-los  das  forças  de  infantaria,  que  se  encontravam  ainda completando  a  passagem  do  Mosa.

Esta  primeira  intervenção  de  Hitler  na  condução  da  campanha  mostrou  aos  chefes  da  Wehrmacht  que  o ditador  carecia,  por  completo,  das  qualidades  de  um  verdadeiro  líder  militar.  Sua  irresolução  e  seus exagerados  temores  o  levariam,  novamente,  dias  mais  tarde,  a  ditar  a  funesta  ordem  de  alto  às  divisões blindadas,  o  que  permitiu  que  o  grosso  das  tropas  inglesas  escapasse  pelo  porto  de  Dunquerque.

Pouco  depois  da  entrevista  com  Kleist,  Guderian  recebeu  a  visita  do  general  List,  enviado  pessoal  de  von Rundstedt.  Após  informar-se  dos  pormenores  do  incidente,  List  repôs  Guderian  no  comando  e  o  autorizou  a prosseguir  o  avanço,  com  “fins  de  exploração”.  Este  era  o  pretexto  que  Guderian  queria.  Sem  perder  um instante,  ordenou  a  seus  tanques  que  se  pusessem  novamente  em  movimento.  Nesse  mesmo  dia,  os  Panzer franquearam  o  rio  Oise  e,  na  manhã  seguinte,  ocuparam  a  cidade  de  Saint  Quentin.  Ao  norte,  os  corpos blindados  de  Reinhardt  e  Hoth  prosseguiram  o  avanço,  envolvendo  os  restos  do    Exército  francês  que  se interpunham  em  seu  caminho.

Na  manhã  de  19,  De  Gaulle,  reforçado  com  alguns  batalhões  de  tanques  leves,  lançou-se  novamente  ao ataque,  para  cortar  as  linhas  de  abastecimento  de  Guderian.  A    DB  avançou  em  direção  ao  Oise,  mas  não conseguiu  abrir  passagem  através  das  unidades  que  protegiam  o  flanco  alemão.  Ao  meio-dia,  De  Gaulle recebeu  a  ordem  de  suspender  o  ataque  e  retirar-se  ao  sul.  Havia  cumprido  a  sua  missão.  O    Exército  o general  Touchon  acabava  de  terminar  a  sua  concentração  ao  norte  de  Paris.  A  capital,  por  enquanto,  estava  a salvo.

Entretanto,  os  tanques  de  Guderian  continuavam  a  sua  marcha  vertiginosa  para  oeste.  Na  manhã  do  dia  20, ocuparam  a  cidade  de  Amiens  e,  nesta  mesma  tarde,  tomaram  Abbeville,  na  foz  do  rio  Soma.  Ao  cair  da noite,  um  batalhão  de  vanguarda  alcançou  as  costas  do  Canal  da  Mancha,  na  localidade  de  Noyelle.  A armadilha  fora  fechada.

Anexo

12  de  maio  de  1940:

Longe,  muito  longe.  Alto,  muito  alto.  São  apenas  pontos  escuros  que  aparecem  como  manchas  contra  o  azul  do  céu. Mas,  é  suficiente.  A  estrada,  cheia  de  soldados  e  civis  que  fogem  ante  o  avanço  alemão,  começa  a  esvaziar.  Jogando-se para  ambos  os  lados,  os  homens  afundam  nas  valas,  no  barro,  atrás  dos  troncos  caídos,  sob  grandes  pedras.

Os  pontos  escuros  aumentaram  de  tamanho.  Agora  são  visíveis.  Tem  assas  em  forma  de  W  e  um  trem  de  aterrissagem que  sobressai  de  forma  algo  grotesca.  O  nariz  do  aparelho,  grosso  e  achatado  avança  agressivo.  Sob  seu  ventre,  negra  e brilhante,  a  bomba  brilha  ameaçadora.  Os  homens  olham  para  o  alto.  Alguns  com  ódio.  Outros  com  terror.  Logo,  com um  ruído  estremecedor,  os  “Stukas”  descem  em  picada.  Os  homens  fecham  os  olhos  e  se  colam  no  fundo  das  valas...

Alto,  muito  alto,  os  grandes  “Dornier”  marcham,  imperturbáveis,  até  o  oeste.  A  seu  redor,  voando  como  pássaros,  os “Messerschmitt”  110  e  109  percorrem  o  céu.  Após  o  bombardeio  demolidor,  aparecem  as  colunas  alemães.  Caminhões, automóveis,  motociclistas  e  tanques,  uns  após  outros,  interminavelmente.

Os  batalhões  alemães  passam,  incontidos.  Atrás,  vão  ficando  os  canhões  antiaéreos,  em  posição,  prontos  para  disparar. A  coluna  se  detém.  Centenas  de  soldados  descem  dos  caminhões  e  acendem  seus  cigarros.  Outros  se  estendem,  para descansar  na  sombra  dos  veículos.  Logo  as  sirenes  dos  caminhões  começa  a  soar.  Gritos.  Ordens,  Apitos.  Alarme  aéreo. Os  alemães  se  atiram  nas  valas.  Em  alguns  lugares  compartilham  o  lugar  com  franceses  e  soldados  em  retirada. Aparelhos  franceses  aparecem  voando  a  baixa  altura.  as  bocas  das  metralhadoras  antiaéreas  desencadeiam  um  fogo demolidor.  As  traçadoras  riscam  o  céu,  em  busca  das  delgadas  fuselagens.

O  primeiro  avião  desce  perigosamente,  até  quase  roçar  a  copa  das  árvores.  Enquadra  a  estrada  em  sua  mira  e  lança  uma torrente  de  chumbo.  Depois,  toma  altura  e  lança  uma  pequena  bomba.  Seu  motor,  alcançado  pela  artilharia  antiaérea, está  em  chamas.  Balançando-se  sobre  a  estrada,  desce  de  novo  e  faz  funcionar  as  suas  metralhadoras.    é  uma  fogueira quando  cai,  2  Km  adiante.

Um  segundo  avião  aparece.  Logo  outro  e  mais  outro  e  outro  mais  ainda.  Todos  seguem  a  mesma  rota  trágica.  Um  após outro  caem  em  macabra  sucessão,  na  distância.

Quatro,  cinco,  seis  fogueiras  assinalam  o  sacrifício  de  seus  pilotos  franceses.  Na  estrada,  entretanto,  a  coluna  retoma  a sua  marcha.

Para  onde  vão?  Para  casa!:

Dia  13  de  maio  de  1940.  A  brecha  na  frente  francesa  foi  aberta.  Era  preciso  fechá-la.  Rapidamente.  Inexoravelmente. os  minutos  são  preciosos.  O  destino  da  França  está  em  jogo.  Os  civis,  que  sabem  disso,  fogem.  A  catástrofe  se aproxima.  Os  caminhos  que  levam  à  retaguarda  se  convertem,  minuto  a  minuto,  em  rumorosa  senda  coberta  de automóveis,  carros  puxados  por  cavalos,  bicicletas,  motos  e  homens  e  mulheres  que  caminham  incansáveis.  Alguns desses  caminhos  foram  destinados  ao  trânsito  militar  e  proibido  aos  civis.  Mas,  milhares  de  civis  os  invadiram.  Os destacamentos  militares  que  deviam  impedi-los  não  estão  ali.  Desapareceram.  E  a  torrente  humana  cresce  e  cresce.  De repente,  a  surpresa.  Não  apenas  civis  fogem  da  frente.  Entre  eles,  retirando-se,  começam  a  aparecer  soldados  franceses. Um,  dez,  cem,  os  “poilus”  se  retiram  em  desordem.

Todos  os  veículo  servem  para  fugir  ao  massacre.  Caminhões  civis  e  militares  passam  carregados  de  fugitivos.  E  não falta  a  nota  tragicômica:  um  carro  fúnebre,  puxado  a  cavalos,  passa  coberto  de  soldados.

Alguns  levam  o  seu  fuzil.  Outros,  em  sua  maioria,  desfizeram-se  deles.  -  De  onde  vêm?  Respondem  levantando  os ombros.  Parecem  não  lembrar  dos  nomes  dos  pequenos  lugares  onde  estavam  acampados.  -  Para  onde  vão?  A  maior parte  deles  responde:  -  Para  Reims.  Outros,  do  fundo,  gritam  com  voz  desafiadora:  -  Para  casa.

De  onde  vem?  -  De  Sedam:

Ponte  de  Montgen,  sobre  o  Mosa.  A  PM,  procedendo  por  sua  própria  conta,  estendeu  um  cordão  que  impede  a passagem.  Pistola  na  mão,  seus  homens  detém  os  soldados  que  chegam  e  tentam  passar.  Discussões  intermináveis  es estabelecem,  entre  os  que  chegam  e  os  que  impedem  a  passagem  -  “Os  tanques  alemães  vem  atrás  de  nós”,  “Fomos traídos”,  “Nada    o  que  fazer  aqui”,  “Tudo  está  perdido”.

Os  homens  da  PM,  no  entanto,  impedem  a  passagem  e  agrupam  os  soldados  fugitivos.  Amanhã  tudo  se  arrumará.

Logo,  à  distância,  vê-se  a  silhueta  dos  grandes  caminhões  que  se  aproximam.  Atrás  deles,  pequenos  veículos  puxam canhões  de  grande  calibre.  À  frente,  em  vários  automóveis,  o  EM  e  a  oficialidade  de  um  RI.  Quando  a  formação  chega  à ponte  de  Montgen,  a  PM,  que  a  custodia,  abre  passagem.  E  o  regimento  passa.  Atrás  deles,  incontidos,  centenas  de soldados  detidos,  minutos  antes.  Mas,  uma  nova  surpresa  espera  àqueles  PMs.  Ali,  detidos  ao  longo  do  caminho, ficaram  canhões  do  regimento.  Distantes,  aumentando  a  velocidade.  vão  seguindo  os  veículos.  Alguns  retardatários passam  nesse  momento.  E  a  PM,  pela  primeira  vez  os  interroga:  -  De  onde  vêm?  -  De  Sedam.

Ordens  alemães  nos  Países  Baixos:

Amsterdã,  17  de  maio  -  O  comandante  em  chefe  das  forças  de  ocupação  na  Holanda  fez  uma  proclamação,  anunciando que  ficou  instituída  a  lei  militar  em  todos  os  distritos  ocupados.  Proíbe-se  à  população  ouvir  rádios  que  não  sejam alemães  e  todos  os  que  possuem  armas  de  fogo  ou  material  de  guerra,  ou  cometam  atos  de  sabotagem,  ficarão  passíveis de  pena  de  morte.  As  autoridades  locais  e  municipais  e  os  funcionários  públicos  permanecerão  em  seus  postos,  se  forem

leais  aos  alemães.  O  comando  alemão  decretou  que  o  guilder,  equivalerá  a  1,5  reichmarco  e  o  franco  belga  a  meio reichmarco  e  ninguém  poderá  negar-se  a  aceitar  a  moeda  alemã.  As  tropas  alemães  pagarão  suas  compras  e  víveres,  etc, a  dinheiro.

Paul  Reynaud  perante  a  Câmara:

No  dia  16  de  maio,  às  15:30h,  o  Primeiro-Ministro  Paul  Reynaud  dirigiu  dramáticas  palavras  aos  membros  da  Câmara. Nessa  oportunidade  disse:  “É  muito  pouco  o  que  posso  lhes  dizer...  A  Alemanha  jogou  tudo  por  tudo...  Lançou-se  sobre três  povos  livres  e  hoje  golpeia  a  França  no  seu  coração.  A  Bélgica  de  1914  reencontrou-se.  Novamente  sua  vida entrelaça-se  intimamente  com  a  nossa;  nossos  sofrimentos  são  os  seus  sofrimentos;  nosso  duelo  é  o  seu  duelo.  Algum dia,  nossa  alegria  será  a  sua  alegria.  A  Holanda  perdeu  sua  terra,  mas  voltou  a  encontrar-se,  nestes  dias,  com  as  virtudes que  a  tornaram  grande  perante  a  História.  No  dia  em  que  tudo  pareça  perdido,  o  mundo  verá  do  que  é  capaz  a  França. Não  são  esperanças  vagas.  Tampouco  palavras  ocas.  Nossos  soldados  lutam.  O  sangue  francês  é  derramado...  Os tempos  que  estão  para  vir  não  terão  nada  em  comum  com  os  que  acabamos  de  viver.  Estamos  sendo  chamados  a  tomar medidas  que  até  ontem  teriam  parecido  revolucionárias.  Possivelmente,  teremos  que  mudar  tudo,  os  métodos  e  os homens.  Todo  desfalecimento  terá  seu  castigo:  a  morte.  Devemos  criar  alma  nova.  Temos  esperanças  e  nossas  vidas  não contam.  Uma    coisa  conta:  defender  a  França”.

Léon  Blun,  dirá,  referindo-se  à  mensagem  de  Reynaud:  “Na  Câmara  dos  Deputados,  reunida  durante  3  horas,  o Presidente  do  Conselho,  Paul  Reynaud,  pronunciou  uma  oração  sóbria  e  ardente.  Todos  vibraram  ante  a  impressão  que causou  a  sessão.  Pela  primeira  vez,  desde  o  começo  da  guerra,  a  Assembléia  ofereceu  um  espetáculo  semelhante  àquele de  3  de  agosto  de  1914.  Uma  onda  de  entusiasmo  e  abnegação  patriótica  respondeu  ao  chamado  do  perigo”.

Com  Dietrich  von  Choltitz  em  vôo  sobre  a  Holanda:

“Chegamos  reunidos,  sem  que  nos  falte  um    avião.  Sobre  a  fronteira  holandesa  nos  recebe  o  fogo  da  artilharia antiaérea.  Os  próprios  caças  rodeiam  em  rápido  vôo  os  nossos  pesados  Ju  52;  em  seguida  alcançamos  Roterdã,  onde podemos  reconhecer  o  aeródromo.  As  máquinas  perdem  altura  e  com  velocidade  cada  vez  maior  vamos  ao  encontro  do solo.  A  rápida  descida  nos  faz  subir  sangue  à  cabeça.  Todos  os  olhares  se  dirigem  para  o  aeródromo.  Os  bombardeiros fizeram  o  seu  trabalho  em  forma  completa.  Os  hangares  ardem  com  altas  labaredas;  de  vez  em  quando  produzem-se explosões  e  contra  o  céu  destacam-se  pára-quedistas  em  descida.  O  lugar  estará  livre  de  inimigos?  Agora  colhemos  os frutos  do  nosso  intenso  trabalho.  Acontece  tudo  qual  havíamos  previsto.  O  ruído  do  combate  é  intenso.  Os  motores roncam,  nos  hangares  explode  munição,  projéteis  de  morteiro  pesado  atingem  o  alvo,  metralhadoras  matraqueiam, feixes  de  balas  fazem  alvo  nos  aviões,  alguns  feridos  gemem,  pilotos  atingidos  se  inclinam,  algumas  máquinas  ardem  e em  outras  vêm-se  as  asas  destruídas  pela  artilharia  antiaérea.  Passamos  ao  ataque.  Nada  de  indecisões;  fora  das máquinas!  Atacamos  tal  como  aprendemos,  seguros  pelos  atiradores  de  popa  dos  aviões,  enquanto  os  pára-quedistas, que  desceram  fora  de  posição  atacam  de  fora.  Portanto,  não  é  estranho  que,  ante  o  bombardeio  prévio  e  o  ataque imediato  dos  soldados  que  saem  dos  aviões  incendiado,  dos  quais  os  atiradores  de  popa  continuam  atirando  e  atirando, apesar  de  tudo,  o  inimigo  não  possa  resistir.  Ao  chegar,  um  oficial  de  aviação  ferido  me  informa  que  encontrou  proteção numa  cratera  das  bombas  e  presenciou  o  avanço  da  cadeia  de  reconhecimento  e  que  o  moral  de  combate  de  nossos homens  é  excelente.  É  um  informe  que  enche  de  orgulho  a  um  chefe.  O  primeiro  objetivo  foi  alcançado.  Entretanto, continua  o  agrupamento  adiantado  Schwiebert,  sem  se  deter,  em  direção  a  Roterdã  e  suas  pontes”.

Os  78  do  Tenente  Witzig:

Bélgica.  Fronteira  do  noroeste.  O  Canal  Alberto  se  levanta  como  barreira  intransponível  ante  as  forças  alemães.  Em suas  proximidades,  vários  fortes  constituem  os  bastiões  que  podem  qualificar-se  como  inexpugnáveis.  Entre  eles destaca-se  um,  talvez  o  mais  poderoso:  Eben  Emael.

Construído  na  margem  escarpada  do  canal,  é  um  mole  maciço  de  cimento  que  cobre  50  hectares.  A  guarnição  normal  do forte,  1.200  homens,  dispõe  para  a  sua  defesa  de  42  canhões  e  inúmeras  metralhadoras.  Depósitos  subterrâneos  de munições,  combustível  e  víveres  asseguram  uma  longa  resistência  ao  assédio.  Armas  não  convencionais,  como  lança- chamas,  tornam  praticamente  suicida  qualquer  intento  de  se  aproximar  das  torres  do  forte.

Eben  Emael  é  um  obstáculo  intransponível:

10  de  maio  de  1940,  4:30  da  manhã.  Aeródromo  de  Colônia.  Vários  Ju-52,  rebocando  planadores  levantam  vôo.  Seu destino:  Eben  Emael.  Poucos  Kms  antes  do  alvo,  os  reboques  soltam-nos  e  os  planadores  ficam  livres.  Em  terra,  tudo  é silêncio.  As  sentinelas  belgas,  em  seus  postos,  observam  as  trevas,  querendo  descobrir  o  inimigo.  Mas  ninguém  olha para  o  alto.  E  é  por  ali  que  chega  o  ataque.

Os  grandes  planadores  em  total  silêncio,  pousam  a  poucas  dezenas  de  metros  das  casamatas.  Sem  ruído,  nem  ordens audíveis,  as  portas  dos  aparelhos  se  abrem.  São  78  homens  em  silêncio,  que  saltam  para  a  terra  e  somem  nas  sombras. Seus  uniformes,  camuflados,  confundem-nos  com  a  vegetação  circundante.  Os  saltos  de  aço,  pintados  de  preto,  estão cobertos  de  tela  acochada,  para  evitar  os  ruídos  se  se  chocam.  Em  suas  mãos,  os  78  homens  trazem  metralhadoras. Granadas  de  mãos  penduram-se  em  seus  cinturões.  Na  bota  direita,  cada  um  deles  leva  um  fino  punhal  de  combate.  À frente  dos  combatentes,  vai  o  tenente  Rudolf  Witzig.  Sua  missão:  tomar  o  Eben  Emael.

Os  homens,  sem  um  ruído,  reúnem-se  em  pequenos  grupos  e  rapidamente  se  afastam,  em  diferentes  direções. Conhecem  a  fundo  sua  missão.  Também,  o  terreno  que  pisam.  É  a  primeira  vez  que  estão  ali,  mas  um  modelo semelhante  foi  construído,  para  praticar  na  Alemanha.  Nele,  estava  reproduzido,  minuciosamente,  até  o  menor  acidente do  terreno.  Funcionava  muito  bem  o  serviço  secreto  alemão

 Diante  dos  grupos  de  assalto,  levantam-se  as  cúpulas  das  casamatas  de  combate.  Parecem  inexpugnáveis,  mas,  não  o são  para  os  homens  audazes.  Os  pelotões  se  empoleiram  sobre  o  teto  das  casamatas.  Os  alarmes  funcionam  e  uma grande  agitação  se  percebe  no  interior  do  forte.  Mas,    é  tarde.

As  granadas  começam  a  cair  pelas  torres.  Os  tubos  dos  lança-chamas  são  introduzidos  nos  respiradouros.  As  bocas  das metralhadoras  vomitam  fogo  através  das  aberturas.  No  interior  do  forte  espalha-se  a  desordem.  Os  belgas  estão preparados  para  resistir  a  um  assalto  direto,  mas,  não  para  fazer  frente  àquela  chuva  de  fogo  que  chega  sem  que  se  saiba de  onde.  No  dia  seguinte  tudo  está  acabado.  As  portas  de  aço  se  abrem  e  uma  multidão  de  soldados  belgas  sai  com  os braços  para  cima.  Fora,  apontando-lhes  suas  armas,  os  homens  de  Witzig  os  esperam.  Eben  Emael  caiu.  Uma  vez  mais, o  cálculo  e  a  audácia  superaram  a  força.

“Vencer  ou  morrer”

Ordem  do  dia  do  general  Gamelin  de  17  de  maio.

No  dia  17  de  maio  de  1940,  no  momento  em  que  o  general  Guderian  se  dispõe  a  reiniciar  o  avanço  para  a  costa  do Canal  da  Mancha,  o  general  Gamelin,  comandante  supremo  das  forças  Aliadas,  deu  a  conhecer  uma  dramática  ordem do  dia,  na  qual  condenava  a  situação:

-  “As  unidades  que  não  possam  avançar  deverão  aceitar  a  morte,  em  lugar  de  ceder  terreno.  A  sorte  do  País,  o  destino dos  Aliados  e  do  mundo  depende  da  batalha  que  se  trava  neste  momento.  Os  soldados  ingleses,  belgas,  poloneses  e voluntários  estrangeiros  lutam  de  nosso  lado.  A  aviação  britânica  está  lutando  conosco,  até  o  máximo.  As  unidades  que não  possam  avançar  devem  aceitar  a  morte  antes  de  ceder  parte  do  terreno  que  lhes  foi  confiado.  Como  sempre,  nas horas  críticas  da  história,  a  ordem  hoje  é  “Conquistar  ou  Morrer”.  Nós  devemos  vencer”.

Forças  frente  à  frente

Alemanha

Divisões  blindadas  -  10

Divisões  motorizadas  -  7

Divisões  de  infantaria  -  117

Tanques  Mark  I  -  523

Tanques  Mark  II  -  955

Tanques  Mark  III  -  349

Tanques  Mark  IV  -  278

Tanques  ligeiros  M  -  106

Tanques  pesados  M  -  228

Caminhões  armados  -  135

Aviões  de  bombardeio  -  1368

Aviões  de  caça  -  1016

Stukas  -  342

Aviões  de  transporte  -  401

Aviões  de  reconhecimento  -  501

Aliados

Divisões  blindadas  -  11

Médios  -  410

Pesados  -  325

Tanques  (Inglaterra)

Ligeiros  -  2300

Divisões  motorizadas  -  7

Divisões  de  infantaria  -  119

Tanques  (França)

Mark  I  -  77

Mark  II  -  23

Ligeiros  -  7

Aviões:

Países  Baixos  -  60

Bélgica  -  180

França  -  1300

Inglaterra  -  1350

Combatentes  (homens)

Alemanha  -  3.300.000  (Incluindo  os  que  estavam  na  Noruega,  Dinamarca  e  Polônia) Países  Baixos  -  350.000

Bélgica  -  700.000

Inglaterra  -  350.000

França  -  2.680.000

Rundstedt:

Abril  de  1939.  Chancelaria  do  Reich.  O  Fuhrer,  com  voz  enérgica  acaba  de  ler  um  documento  transcendental  para  a História:  Trata-se  de  um  projeto  secreto:  o  plano  “Branco”.  Trata-se,  na  realidade,  do  começo  da  Segunda  Guerra.  Abril de  1939.  Berlim.  Comando  Supremo  Da  Wehrmacht.  A  campainha  de  um  telefone  toca  insistentemente,  num  escritório sobriamente  mobiliado.  Um  alto  oficial  levanta  o  fone  e  murmura  umas  palavras:  -  Coronel  Weiss,  Divisão Convocatória.  Escuta  em  silêncio  a  seu  interlocutor,  balançando  levemente  a  cabeça.  Depois  diz:  -  Entendido,  meu general.  Farei  o  imediato  envio  das  comunicações.  Ele  será  o  primeiro.  Instantes  depois,  um  motociclista  guia  uma máquina,  com  a  cor  verde  escura  da  Wehrmacht,  e  parte  velozmente.  Na  pasta,  leva  uma  ordem  de  mobilização.  Uma só.  Talvez  a  mais  importante.  No  envelope  lê-se:  Carlos  Rodolfo  Gerd  von  Rundstedt.  A  história  de  von  Rundstedt  é, paralelamente,  a  história  do  Exército  alemão  que  se  lança  à  Segunda  Guerra.  Quando,  baseado  no  Tratado  de  Versalhes, o  Exército  alemão  foi  obrigado  a  reduzir-se  em  número  de  homens  e  limitar-se  nos  armamentos,  a  principal preocupação  do  Alto  Comando  alemão  foi,  em  síntese,  manter  um  status  que  permitisse  continuar  considerando  as escassas  forças  armadas  como  um  verdadeiro  exército.  O  general  Seeckt  foi  encarregado  de  fazer  do  Exército  alemão uma  máquina  inofensiva  para  as  potências  vencedoras.  Von  Rundstedt  foi  um  dos  primeiros  escolhidos  por  Seeckt.  Sua formação  militar  fazia  dele  um  homem  chave  para  a  difícil  missão  a  cumprir-se.  E  Seeckt  não  se  arrependeu  nunca daquela  escolha.

Sob  os  signo  das  armas:

Archersleben.  Saxônia  Prussiana.  Dezembro  de  1875.  No  lar  dos  Rundstedt,  nasceu  um  menino.  Seu  pai,  militar  de carreira,  brinca  com  seus  camaradas  de  armas  e  escuta  com  prazer  as  brincadeiras  que  lhe  dirigem.  Alguém,  levantando a  taça  de  champanhe,  oferece  um  brinde  ao  futuro  general  Rundstedt.  Pelo  pequeno  “general  Rundstedt”  que  tem  só algumas  horas  de  vida.  1887.  O  jovem  cadete  Rundstedt  acaba  de  fazer  12  anos.  Faltam  ainda  mais  de  50  para  que  as tropas  sob  suas  ordens  avancem  através  da  Bélgica,  para  a  França.  Entre  sua  atuação  como  oficial  de  infantaria  em  1893 e  a  Primeira  Guerra,  em  1914,  von  Rundstedt  comanda  uma  companhia,  estuda  na  Academia  Militar  e  é  destinado  ao Estado  Maior  Central.  Após  o  inicio  da  grande  luta,  incorpora-se  ao  Estado  Maior  das  Forças  de  von  Kluck  e  intervém ativamente  nas  grandes  operações  militares.  Até  1927,  alcança  o  grau  do  comandante-general.  Tem,  então,  52  anos.  A reorganização  do  Exército  alemão  dispõe  a  divisão  daquela  força  em  três  grandes  grupos.  Um  deles,  logicamente,  fica sob  as  ordens  de  von  Rundstedt.  Chegou  o  ano  de  1935  e    a  Alemanha  vibra,  ante  o  som  dos  clarins  e  tambores  e  o drapejar  de  bandeiras  que  ostentam  grandes  cruzes  gamadas  negras.  1939.  Abril.  Hitler  expões  diante  de  seus comandantes  supremos  o  plano  destinado  a  obter  a  supremacia  da  Alemanha.  A  guerra  está    muito  próxima.  Na realidade    começou.  E  ali  estão  os  veteranos.  Carlos  von  Rundstedt  volta  ao  serviço  ativo,  abandonando  um  retiro  que odeia  e,  novamente,  torna  a  ser  o  impecável  estrategista,  o  supremo  organizador,  o  astuto  comandante  capaz  de mobilizar  massas  humanas  para  uma  conquista.  O  guerreiro  voltou  à  luta.

Segunda Guerra Mundial - 1940 Janeiro A Maio - Vigília de Armas

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