segunda-feira, 31 de julho de 2023

Segunda Guerra Mundial - 1939 Campanha da Finlândia Guerra de Inverno

 

Campanha  da  Finlândia
A  expansão  soviética

No  dia  27  de  setembro  de  1939,  Varsóvia  se  entrega  aos  alemães,  depois  de  ser  bombardeada implacavelmente  pela  Luftwaffe.  A  campanha  da  Polônia  chega  assim  ao  fim.  Na  tarde  desse  dia,  aterrissa no  aeroporto  de  Moscou,  um  gigantesco  quadrimotor  Condor.  Ao  abrir-se  a  porta  do  aparelho  aparece, sorridente,  o  ministro  das  Relações  Exteriores  do  Reich,  Joachim  von  Ribbentrop.  Um  grupo  de  funcionários soviéticos  lhe  apresenta  a  cordial  boa-vinda.  Imediatamente,  o  ministro  sobe  em  um  automóvel  e  parte  a  toda velocidade  até  o  Kremlin,  onde  o  aguardam  Stalin  e  Molotov,  para  concluírem  as  negociações  de  repartição da  Polônia.

A  conferência  no  Kremlin  se  prolonga  até  altas  horas  da  noite.  Ao  finalizar  a  reunião,  Ribbentrop  se  dirige  à embaixada  alemã  e  envia  um  telegrama  a  Hitler,  comunicando-lhe  as  pretensões  soviéticas.  Stalin  está decidido  a  se  apossar  das  nações  bálticas,  Estônia,  Letônia  e  Lituânia,  para  criar  um  cordão  defensivo  em torno  das  fronteiras  ocidentais  da  URSS.  Em  contrapartida,  oferece  à  Alemanha  parte  dos  territórios  que  lhe couberam  com  a  repartição  da  Polônia,  em  troca  da  Lituânia.  A  Estônia    acedera,  sob  ameaça  de  invasão,  a entregar  à  Rússia  bases  aéreas  e  militares.  A  28  de  setembro  Hitler  responde  a  Ribbentrop,  comunicando-lhe que  aceita  a  troca  proposta  por  Stalin  e,  além  disso,    ordenara  a  evacuação  dos  alemães  residentes  na Estônia,  Letônia  e  Lituânia.  Dessa  maneira,    caminho  livre  à  expansão  russa  sobre  as  costas  do  Mar Báltico.

Uma  vez  obtida  a  aprovação  de  Hitler  às  exigências  soviéticas,  Ribbentrop  conclui  rapidamente  as negociações.  Na  madrugada  de  29  de  setembro  firma  com  Molotov,  um  tratado  de  amizade  e  limites.  Uma cláusula  secreta  determina  a  definitiva  supressão  da  Polônia  e  das  nações  bálticas  como  Estados independentes.  Chega  agora  a  vez  da  Finlândia.  Stalin,  valendo-se  do  apoio  alemão,  resolve  exigir-lhe também  a  entrega  de  bases  e  territórios.

A  Finlândia  se  opõe  às  exigências  russas:

No  dia  5  de  outubro  de  1939,  Molotov  entra  em  contato  com  o  Governo  finlandês  e  o  convida  para  mandar delegados  à  Moscou,  para  realizar  uma  “troca  de  idéias  sobre  questões  políticas”.  Uma  semana  depois,  chega a  Moscou  a  delegação  finlandesa,  presidida  por  Juho  Kusti  Paasikivi.  Molotov  propôs-lhe,  então,  a  assinatura de  um  pacto  de  ajuda  mútua,  semelhante  ao  que  a  URSS  concertara  com  os  países  bálticos.  O  tratado eqüivaleria,  de  fato,  a  estabelecer  um  protetorado  soviético  sobre  a  Finlândia.  A  resposta  foi  negativa.  Dois dias  depois,  Molotov  apresenta  a  Paasikivi  as  exigências  soviéticas.  O  documento  era  um  verdadeiro ultimato.

A  URSS  reclamava  da  Finlândia  a  cessão  em  “arrendamento”  do  estratégico  porto  de  Hango,  situado  na entrada  do  Golfo  da  Finlândia,  a  fim  de  estabelecer  uma  base  aeronaval.  Exigia  a  entrega  de  uma  série  de ilhas  naquele  golfo  e  de  extensa  faixa  de  terra  no  istmo  da  Carélia.  Em  compensação,  os  soviéticos dispunham-se  a  entregar  à  Finlândia  alguns  quilômetros  de  terras  desertas  ao  norte  do  Lago  Ladoga  e  a autorizar  a  fortificação  das  ilhas  Aland,  situadas  no  Golfo  de  Bótnia.

Profundamente  alarmado,  Paasikivi  retornou  imediatamente  a  Helsinki.  Ao  terminar  a  leitura  do  ultimato,  o primeiro-ministro  Aino  Cajander  ordenou  a  mobilização  de  200  mil  reservistas.  A  delegação  finlandesa regressou  imediatamente  a  Moscou  e  entrega  a  Molotov  a  resposta  de  Cajander.  A  Finlândia  aceitava  a cessão  de  algumas  ilhas  e  a  retificação  de  fronteiras  no  Istmo  da  Carélia,  mas  rechaçava  a  entrega  do  porto de  Hango.  Molotov  então  decidiu,  encerrar  imediatamente  as  negociações.  As  tropas  do  Exército  Vermelho já  se  achavam  dispostas  na  fronteira  com  a  Finlândia,  prontas  para  entrar  em  ação.

Ante  o  fracasso  da  sua  missão,  Paasikivi  abandonou  definitivamente  a  Capital  russa,  a  13  de  novembro.  A partir  daí,  a  guerra  se  fez  inevitável.

O  incidente  em  Mainila:

Na  tarde  de  26  de  novembro,  o  embaixador  finlandês  entrou  apressadamente  no  gabinete  de  Molotov.  O ministro  soviético  saudou-o  friamente  e  entregou  uma  nota,  com  a  denúncia  de  um  incidente  que  acabava  de ocorrer  na  fronteira.  De  acordo  com  a  informação,  as  tropas  finlandesas  dispararam  vários  canhonaços  sobre o  povoado  russo  de  Mainila,  no  istmo  da  Carélia,  causando  a  morte  de  um  grupo  de  soldados  russos.

Molotov,  em  tom  ameaçador,  disse  ao  embaixador  que,  embora  o  seu  Governo  não  pretendesse  exagerar  a importância  do  fato  exigia  que  a  Finlândia  retirasse  todas  as  suas  forças  a  uma  distância  de  25km  da fronteira,  a  fim  de  evitar  novas  provocações.

Dois  dias  depois,  a  28  de  novembro,  chega  a  Moscou  a  resposta  do  Governo  de  Helsinki,  informando  que,  de acordo  com  as  investigações  realizadas,  pôde-se  comprovar  que  os  disparos  não  foram  efetuados  por  tropas finlandesas,  mas  por  canhões  “não  identificados”  e  localizados  dentro  do  território  soviético.  Por conseqüência,  a  Finlândia    concordaria  em  retirar  as  suas  forças  da  fronteira  se  os  russos  também  o fizessem.  Molotov,  sem  se  perturbar  pela  velada  acusação,  rechaçou  a  nota  finlandesa  e  no  dia  seguinte denunciou  o  pacto  de  não  agressão  firmado  entre  a  URSS  e  a  Finlândia  em  1932.  Nada  mais  evitaria  o conflito.

Na  manhã  de  30  de  novembro,  o  embaixador  finlandês  foi  chamado  urgentemente  ao  Comissariado  de Relações  Exteriores,  onde  um  funcionário  lhe  comunicou  a  ruptura  das  relações  diplomáticas  com  o  seu  país. No  mesmo  instante,  Molotov  dirigia  uma  mensagem  radiofônica  ao  povo  soviético,  anunciando  o  inicio  das hostilidades.

A  distribuição  das  forças:

Durante  os  meses  de  verão  que  precederam  o  ataque,  o  general  Timoshenko,  comandante-chefe  das  forças soviéticas,  concentrara  os  efetivos  de  quatro  poderosos  exércitos  sobre  as  extensas  fronteiras  da  Finlândia. Pôde  completar  sem  dificuldades  a  manobra,  utilizando  a  ferrovia  Leningrado-Murmansk  nas  costas  do Ártico.  Ao  longo  desta  ferrovia  concentrou  provisões  que  serviriam  para  abastecer  as  tropas  russas destacadas  nas  desérticas  e  geladas  regiões  do  norte  da  Finlândia.

O  plano  de  operações  russo  foi  habilmente  concebido.  O    Exército  teria  a  ação  decisiva  da  campanha  na região  do  istmo  da  Carélia.  Para  isto,  tinha  o  grosso  das  tropas:  11  divisões  de  infantaria,  1  corpo  motorizado e  3  brigadas  de  tanques.  Sua  missão  era  atacar  frontalmente  a  linha  Mannerheim,  cujas  fortificações  se estendiam  através  do  Istmo  da  Carélia,  das  costas  do  Golfo  da  Finlândia  às  margens  do  Lago  Ladoga. Rompidas  as  defesas  finlandesas,  o    Exército  conquistaria  Helsinki  e  as  ricas  regiões  do  sul  da  Finlândia. Ao  norte  do  lago  Ladoga,  outro  exército,  o  8°,  composto  de  seis  divisões  de  infantaria,  apoiaria  a  ação  das forças  russas  no  Istmo  da  Carélia.  A  sua  missão  seria  avançar  ao  sul  e  atacar  pela  retaguarda  as  divisões finlandeses  que  defendiam  a  linha  Mannerheim.

Frente  à  região  central  da  Finlândia,  estava  colocado  o    Exército,  composto  de  6  divisões  de  infantaria  e  1 brigada  blindada.  Avançaria  para  o  oeste,  cortando  o  país  em  dois  e  ocuparia  os  portos  de  Tornea  e  Oulu,  no golfo  de  Bótnia.  Desta  maneira,  os  finlandeses  teriam  cortadas  as  comunicações  com  a  Suécia  e  a  Noruega, principais  fontes  de  abastecimento  para  os  seus  exércitos.  Ao  norte,  nas  costas  do  Ártico,  o  14°  Exército, integrado  por  3  divisões  de  infantaria  e  fortes  unidades  blindadas,  ocuparia  o  porto  de  Petsamo,  para  evitar um  eventual  desembarque  de  um  exército  auxiliar  franco-inglês.  Depois,  destacaria  uma  de  suas  divisões apoiada  por  tanques  para  ajudar  no  ataque  do    Exército.  Assim,  a  Finlândia  atacada  simultaneamente  pelo norte,  centro  e  sul  ver-se-ia  obrigada  a  dispersar  as  suas  reduzidas  forças  numa  frente  de  1.400  km  de extensão.

O  Exército  finlandês  contava  apenas  com  12  divisões  de  infantaria,  poucos  tanques  obsoletos  e  170  aviões. Sua  única  vantagem  era  combater  no  seu  próprio  território  agreste  com  milhares  de  lagos,  imensos  bosques  e extensos  pântanos.  Os  soldados  finlandeses  valendo-se  de  esquis,  se  deslocavam  com  facilidade  sobre  a  neve que,  nos  meses  de  inverno,  cobria  todo  o  país.  Essa  extraordinária  mobilidade  haveria  de  constituir-se  uma das  principais  causas  de  suas  surpreendentes  vitórias  sobre  os  russos.

Ao  iniciar-se  as  hostilidades,  o  marechal  Mannerheim,  pai  da  independência  finlandesa,  assumiu  a  chefia  das forças  armadas.  O  veterano  chefe  adotou  um  inteligente  plano  para  enfrentar  o  ataque  soviético.  Sabia  que  a principal  ameaça  residia  na  ruptura  russa  através  das  fortificações  do  istmo  da  Carélia.  Como  conseqüência,

concentrou  ali  o  grosso  de  suas  forças:  5  divisões  de  infantaria,  apoiadas,  pela  retaguarda  por  uma  divisão  de reserva.  Comandava  esse  grupamento  o  general  Oestermann.

O  exército  do  istmo,  entrincheirado  na  Linha  Mannerheim,  devia  manter-se  firme  em  suas  posições,  para impedir  a  irrupção  dos  soviéticos  sobre  os  territórios  do  sul  da  Finlândia,  onde  se  encontravam  concentradas as  principais  cidades  e  indústrias  do  país.  Ao  norte  do  lago  Ladoga,  e  para  impedir  um  ataque  pela  retaguarda das  forças  de  Oestermann  foram  postas  duas  divisões  de  infantaria.  Para  cobrir  as  extensas  fronteiras orientais,  Mannerheim    contava  no  inicio  da  guerra  com  seis  batalhões  de  infantaria.

A  Batalha  do  Istmo:

Às  7  horas  de  30  de  novembro  de  1939,  os  russos  lançam  as  suas  forças  ao  ataque.  Mais  de  meio  milhões  de soldados,  apoiados  por  milhares  de  tanques  e  aviões,  cruzaram  a  fronteira,  confiados  em  que  conseguiriam aniquilar  em  poucos  dias  das  tropas  de  Mannerheim.  Os  finlandeses,  entretanto,  oporiam  encarniçada resistência  e  assombrariam  o  mundo  ao  obter  uma  série  de  brilhantes  vitórias  sobre  os  poderosos  exércitos russos.

Segundo  o  planejado,  o  ataque  principal  russo  foi  no  istmo  da  Carélia.  Após  vencer  as  forças  da  vanguarda finlandesa  e  ultrapassar  campos  minados  e  os  obstáculos  interpostos  no  seu  caminho,  as  divisões  russas colocaram-se  frente  às  fortificações  da  linha  Mannerheim.  Esta  ocupava  uma  extensão  de  25  km  e  se  apoiava nas  margens  de  três  grandes  lagos:  Muola,  Vuoski  e  Suvanto.  Contava  com  90  grandes  casamatas  de  cimento armado,  unidas  por  uma  intrincada  rede  de  trincheiras,  redutos,  ninhos  de  metralhadoras  e  refúgios  escavados em  terra  e  reforçados  com  grossos  troncos.  Possuía  um  extenso  e  profundo  cordão  defensivo  formado  de fossos  antitanques,  campos  minados  e  redes  de  arame  farpado.

No  dia  6  de  dezembro,  o    Exército  russo  começou  o  ataque  com  uma  série  de  operações  ao  longo  de  toda  a linha  para  reconhecimento  dos  pontos  fracos  da  defesa.  Finalmente,  Timoshenko  decidiu  lançar  uma poderosa  ofensiva  sobre  a  região  oriental  do  istmo,  no  setor  da  cidade  de  Taipale,  situada  às  margens  do  lago Ladoga.  A  operação  foi  executada  pelo  Corpo  de  Exército  do  general  Grendal,  integrado  por  4  divisões  de infantaria  e  1  corpo  motorizado.  Entre  os  dias  6  e  13  de  dezembro,  Grendal  desencadeou  16  violentos ataques  sobre  Taipale.  Apoiados  pelo  fogo  de  centenas  de  canhões,  os  infantes  russos  avançaram  em formação  cerrada  sobre  as  posições  finlandesas.  Estes  rechaçaram  os  ataques,  mas,  sofreram  perdas aniquiladoras.  Alguns  regimentos  de  vanguarda  ficaram  reduzidos  a  menos  da  metade  dos  seus  efetivos,  mas Taipale  não  caiu.

Em  16  de  dezembro,  Grendal  concentrou  toda  a  sua  artilharia  em  um  estreito  setor  de  700m  de  comprimento, em  frente  do  lago  Suvanto.  Na  outra  margem,  os  finlandeses  preparavam-se  para  enfrentar  um  outro  ataque. Durante  três  horas,  os  canhões  russos  jogaram  um  dilúvio  de  fogo  e  aço  sobre  as  suas  posições.  Ao  cessar  o bombardeio,  a  infantaria  russa  lançou-se  de  baioneta  calada  através  da  superfície  gelada  do  lago. Entrincheirados  nas  crateras  das  granadas,  os  finlandeses  deixaram-nos  aproximar-se  até  uma  distância  de 100  metros  e  então  abriram  um  fogo  mortífero,  com  as  metralhadoras  e  os  fuzis.  Milhares  de  russos  caíram  e os  restantes  bateram  em  retirada.

A  19  de  dezembro,  Timoshenko  desencadeou  no  centro  do  istmo  o  ataque  decisivo.  Apoiadas  por  várias brigadas  de  blindados,  3  divisões  de  infantaria  avançaram  até  a  Linha  Mannerheim,  numa  frente  de  30  km. Por  quatro  dias  os  finlandeses,  combatendo  encarniçadamente,  conseguiram  conter  os  incessantes  ataques  da infantaria  e  dos  blindados  russos.  Mas,  finalmente,  viram-se  obrigados  a  recuar.  Sofrendo  terríveis  perdas,  os russos  foram  apossando-se  paulatinamente  dos  redutos  e  trincheiras,  e  a  23  de  dezembro,  chegaram  à  última linha  de  resistência.  Cheio  de  júbilo,  Timoshenko  se  aprestou  a  ordenar  o  ataque  final  que  culminaria  com  a ruptura  da  Linha  Mannerheim.  Nesse  momento  crucial,  o  General  Oestermann  ordenou  que  a  sua  única reserva  de  divisão  passasse  imediatamente  ao  ataque.  Tomados  de  surpresa  pela  violenta  investida finlandesa,  os  russos  empreenderam  a  retirada  e  abandonaram  o  terreno  que  haviam  conquistado  à  custa  de tremendos  sacrifícios.  Assim  terminou  a  primeira  ofensiva  russa  no  istmo  da  Carélia.

Os  ataques  frustrados:

No  inicio  da  invasão  russa,  o  porto  de  Petsamo  nas  costas  do  Ártico,  contava  como  única  guarnição  com  uma companhia  de  infantaria,  armada  com  dois  canhões  médios  modelo  1887,  para  enfrentar  as  três  divisões  do 14°  Exército  russo.  Na  manhã  de  30  de  novembro,  os  russos  cruzaram  a  fronteira  e  avançaram  lentamente através  das  planícies  geladas.  Sobre  a  costa,  uma  flotilha  de  cruzadores  desencadeou  um  violento bombardeio,  para  apoiar  o  ataque.  Esmagados  pela  superioridade  russa,  os  finlandeses  abandonam  Petsamo  e se  deslocaram  para  o  interior  do  país.  O  chefe  do  14°  Exército  destacou,  então,  duas  das  suas  divisões  sobre  a costa  e  enviou  uma  terceira  para  o  sul,  acompanhada  por  um  poderoso  grupamento  blindado.

Durante  15  dias,  os  finlandeses  conseguiram  paralisar  a  divisão  russa,  com  ataques  de  surpresa,  mas,  as fileiras  da  pequena  unidade  terminaram  dizimadas.  O  comandante  finlandês  incorporou,  então,  às  suas forças,  400  operários  das  minas  de  níquel  próximas  a  Petsamo  e  prosseguiu  na  resistência.  Finalmente, chegaram  dois  batalhões  de  reforço  e  conseguiram  rechaçar  os  russos  para  o  norte.  Em  meio  a  violentas tempestades  de  neve  e  com  uma  temperatura  de  50°  negativos,  as  colunas  russas  deslocaram-se  até  a  cidade de  Nausti,  onde  ficaram  imobilizadas  até  o  fim  da  guerra.

Na  região  central  da  Finlândia,  o    Exército  lançou-se  ao  ataque  contra  o  centro  de  comunicações  de Rovaniemi,  para  cortar  o  país  em  dois  e  ocupar  as  costas  do  golfo  de  Bótnia.  A  17  de  dezembro,  duas divisões  russas  estavam  a  100  km  da  cidade  e  se  preparavam  para  tomá-la  de  assalto.  O  marechal Mannerheim  determinou  imediatamente  o  envio  de  reforços.  Um  regimento  de  milicianos,  integrado  por velhos  e  rapazes  carentes  de  toda  instrução  militar,  dirigiu-se  a  Rovaniemi,  onde  conseguiu  rechaçar  os russos  e  pô-los  em  fuga.  Equipando-se  com  as  armas  e  tanques  abandonados  pelos  russos,  os  finlandeses intensificaram  o  ataque  e  avançaram  até  a  localidade  de  Sala,  próxima  à  fronteira.  Ali  a  frente  permaneceu estabilizada  até  o  fim  da  guerra.

Mais  para  o  sul,  nos  arredores  da  cidade  de  Suomusalmi,  o  general  Siilasvue  conquistou  uma  importante vitória  sobre  os  russos.  Por  sua  vez,  na  margem  setentrional  do  lago  Ladoga,  um  regimento  finlandês  deteve o  avanço  de  três  divisões  do    Exército  russo,  depois  de  15  dias  de  sangrentos  combates.

A  ofensiva  de  Voroshilov:

No  fim  de  dezembro,  os  finlandeses  haviam  conseguido  rechaçar  a  invasão  soviética  em  todas  as  frentes. Stalin  furioso  pela  inesperada  derrota,  decidiu  nomear  comandante-chefe  o  Marechal  Voroshilov.  Este reorganizou  as  forças  que  lutavam  na  Finlândia  e  reforçou  poderosamente  os  seus  efetivos.  Um  novo exército,  o  13°,  foi  destacado  para  o  istmo  da  Carélia  e  todas  as  forças  desse  setor  ficaram  sob  as  ordens  do general  Timoshenko.

Durante  todo  o  mês  de  janeiro  de  1940,  os  russos  levaram  a  cabo  incursões  e  golpes  sobre  a  Linha Mannerheim,  para  impedir  a  recuperação  das  fortificações  e  desgastar  as  forças  finlandesas.  Finalmente,  na manhã  de  5  de  fevereiro,  foi  iniciada  a  ofensiva.  Milhares  de  canhões  de  todos  os  calibres  bombardearam, durante  sete  horas  consecutivas,  as  posições  finlandesas  no  setor  ocidental  do  istmo  da  Carélia.  Ao  cessar  o bombardeio,  três  divisões  russas  lançaram-se  ao  assalto,  precedidas  por  uma  formação  de  100  tanques. Ocultando-se  nas  crateras  das  bombas  e  nas  trincheiras  em  ruínas,  os  sobreviventes  de  três  batalhões finlandeses  resistiram  à  investida.  Milhares  de  russos  pereceram  sob  o  fogo  incessante  de  suas  metralhadoras e  fuzis.  Alguns  tanques  romperam  as  defesas,  mas,  foram  destruídos  com  bombas  Molotov  e  granadas.

Durante  os  dias  8,  9  e  10,  repetiram-se  os  assaltos  e  as  terríveis  perdas.  Alguns  batalhões  de  pára-quedistas foram  lançados  por  trás  das  linhas  finlandesas,  mas,  não  tardaram  a  ser  dizimados.  Timoshenko,  sem  se preocupar  com  as  milhares  de  baixas,  continuou  descarregando  demolidores  golpes  contra  a  Linha Mannerheim.  Ao  anoitecer  do  dia  10,  os  seus  soldados  encontravam-se  combatendo  contra  os  últimos redutos.

Ataque  decisivo:

A  esmagadora  ofensiva  dos  dias  8  a  10  não  era  senão  o  prelúdio  do  ataque  decisivo.  No  domingo,  11  de fevereiro,  às  8:30h,  320  canhões,  concentrados  em  estreita  faixa  de  4  km,  desencadearam  um  bombardeio arrasador.  Em  poucas  horas  300  mil  granadas  caíram  sobre  as  trincheiras  finlandesas.  Sob  a  cobertura  desse fogo  infernal,  um  batalhão  de  tanques  russos  providos  de  lança-chamas,  introduziu-se  nas  defesas  e  destruiu as  principais  casamatas.

Um  grupo  de  70  tanques  conseguiu,  finalmente  romper  as  linhas,  através  de  um  pântano  gelado, praticamente  sem  defesas  e  os  russos  conseguiram  introduzir  uma  cunha  de  3  km  de  profundidade.  Os infantes  finlandeses  lançaram-se  contra  os  blindados,  esquivando-se  do  fogo  das  suas  metralhadoras  e canhões  para  destruí-los  com  cargas  explosivas.  Os  russos,  no  entanto  haviam  astutamente  coberto  seus tanques  com  redes  de  aço,  que  os  protegiam  contra  as  explosões  das  granadas.  A  penetração  soviética  ficou assim  assegurada.

Durante  cinco  dias,  o  ataque  prosseguiu  com  fúria  renovada,  nos  arredores  de  Suma.  Os  finlandeses empenharam  na  luta  as  suas  últimas  reservas,  mas  não  conseguiram  reconstruir  as  linhas.  Lenta,  mas inexoravelmente,  os  russos  continuaram  avançando,  aniquilando  uma  posição  após  outra.  Era  o  momento crucial  da  campanha.  A  frente  ameaçava  ruir  em  questão  de  horas.

Mannerheim  ordena  a  retirada:

Na  noite  de  14  de  fevereiro,  o  marechal  Mannerheim  convocou  uma  reunião  de  todos  os  comandantes  das unidades  empregadas  no  istmo  da  Carélia.  Durante  várias  horas  os  oficiais  discutiram  calorosamente  sobre como  fazer  para  salvar  o  exército  do  istmo  de  uma  completa  destruição.  A  dramática  conferência  realizou-se no  posto  de  comando  do  general  Oestermann,  situado  a  7  km  da  frente  de  combate.  À  distância,  retumbava  o incessante  fogo  da  artilharia  russa.

Os  chefes  dos  regimentos  que  combatiam  na  primeira  linha  pronunciaram-se,  na  maioria,  por  uma  retirada geral  das  unidades  do  setor  ocidental  e  central  para  uma  nova  posição  situada  ao  norte  do  porto  de  Viborg. Sabiam  que  as  suas  tropas  estavam  no  limite  da  capacidade  de  resistência  e  que  os  dizimados  batalhões  não demorariam  e  desintegrar-se  ante  os  demolidores  ataques  russos.

O  chefe  do  Estado  Maior,  entretanto,  opôs-se  a  essa  retirada,  pois  considerava  que  se  poderia  organizar  a defesa  ao  sul  de  Viborg,  tentando  salvar  assim  o  estratégico  porto.  O  marechal  Mannerheim  não  tomou, nessa  noite,  nenhuma  decisão.  Abrigava  ainda  a  esperança  de  conter  o  avanço  russo,  com  um  contra-ataque com  duas  divisões  de  reforço  que  se  achavam  a  caminho,  vindas  do  norte.  Essas  unidades,  porém  tardaram demais,  porque  os  trens  que  as  conduziam  foram  atacados  pelos  aviões  russos  e  elas  tiveram  que desembarcar  e  percorrer  a    os  últimos  100  km  que  as  separavam  da  frente.

A  15  de  fevereiro,  Timoshenko  redobrou  o  ataque  na  cunha  aberta  a  leste  de  Suma  e  a  penetração  estendeu- se  até  o  ponto  limite  de  ruptura.  Mannerheim  compreendeu  que  chegara  ao  fim.  No  dia  15,  ordenou  a  retirada dos  exércitos  do  setor  ocidental  e  central  do  istmo  para  uma  nova  posição  defensiva  situada  no  sul  de  Viborg. Deslocando-se  durante  a  noite,  através  dos  bosques  e  pântanos  gelados,  os  finlandeses  conseguiram  alcançar sem  dificuldades  a  segunda  linha  de  resistência.

Ao  amanhecer  de  17  de  fevereiro,  os  russos  descobriram  que  os  finlandeses  tinham  abandonado  a  linha Mannerheim.  Timoshenko  sem  demora,  ordenou  avançar  e,  nessa  mesma  tarde,  as  suas  forças    entram  em contato  com  a  nova  posição.  Os  russos  lançaram-se  imediatamente  ao  ataque,  mas,  foram  rechaçados.

A  batalha  final:

Após  3  dias  de  violentos  combates,  Timoshenko  compreende  que  os  finlandeses,  mesmo  depois  de  terem perdido  os  lances  principais  da  Linha  Mannerheim,  ainda  estavam  em  condições  de  prosseguir  a  luta.  A primavera  estava  próxima  e  com  o  degelo,  os  milhares  de  lagos  e  pântanos  se  tornariam  insuperáveis obstáculos  para  o  deslocamento  dos  tanques  e  veículos  motorizados.  Por  isso,  o  marechal  Voroshilov procurou  terminar  rapidamente  a  campanha  e  flanqueou  as  forças  finlandesas  no  istmo,  atacando-as  pela superfície  gelada  do  golfo  da  Finlândia.

Os  russos  contavam  com  uma  vantajosa  posição  de  partida,  pois,  no  inicio  da  campanha  tinham  tomado  as ilhas  de  Sursari,  Lavansari  e  Seikiari,  a  menos  de  50  km  da  costa  finlandesa.  Nessas  ilhas,  concentraram  os efetivos  para  o  ataque.  Além  disso,  propunham-se  passar  a  baía  de  Viborg,  que  estava  coberta  também  por uma  camada  de  gelo,  de  um  a  dois  metros  de  espessura.

Como  prelúdio  da  ofensiva,  duas  divisões  russas  atacaram  a  fortaleza  de  Koivisto,  na  margem  meridional  da baía  de  Viborg,  e,  após  três  dias  de  violentos  combates,  desalojaram  a  guarnição.  A  25  de  fevereiro,  os russos  internaram-se  na  baía  precedidos  por  fortes  formações  de  tanques.  Da  costa  setentrional,  os finlandeses  abriram  fogo  com  os  seus  canhões  de  30cm.  As  gigantescas  granadas,  ao  explodir,  abriram enormes  sulcos  no  gelo,  pelos  quais  desapareceram,  afundando-se  nas  águas  geladas,  companhias  inteiras  de soldados  e  centenas  de  tanques  e  caminhões.

A    de  março,  os  russos  se  estabeleceram  ao  longo  da  costa  setentrional  e  ali  concentraram  a  sua  artilharia. Três  dias  após,  começou  o  ataque.  Seis  divisões  lançaram-se  ao  assalto  contra  as  trincheiras,  defendidas  por 12  batalhões  de  soldados  finlandeses.

Nesse  mesmo  dia,  os  russos  avançaram  pela  primeira  vez  através  do  Golfo  da  Finlândia.  Em  sucessivas ondas,  atacaram  os  redutos  da  costa  defendida  por  5  batalhões  finlandeses,  apoiados  por  unidades  de milicianos.  Novamente,  foram  derrotados.  Para  reforçar  as  suas  divisões,  os  russos  abriram  caminhos  através da  neve  que  cobria  a  superfície  gelada  do  golfo,  com  uma  camada  de  dois  metros  de  espessura.  E  foi  através dessas  estradas  improvisadas,  que  se  deslocaram  tanques,  canhões  e  tratores,  levando  peças  de  artilharia  e trenós,  carregados  de  soldados  e  munições.  Ante  tão  gigantesco  avanço  de  forças,  a  Finlândia  teria inexoravelmente  de  sucumbir.

A  7  de  março,  duas  divisões  russas  chegam  à  margem  setentrional  da  baía  de  Viborg.  Timoshenko concentrou  a  sua  artilharia  nesse  setor  e  desencadeou  um  bombardeio  infernal.  Dois  dias  depois,  os  russos aprofundaram  a  cabeça-de-ponte  e  com  o  fogo  dos  seus  canhões  cortaram  o  caminho  entre  Viborg  e Helsinki.

No  istmo  da  Carélia,  10  divisões  russas,  apoiadas  por  duas  brigadas  blindadas,  romperam  as  linhas finlandesas  e  abriram  uma  brecha  de  20  km  de  extensão  a  leste  de  Viborg.  Lutando  desesperadamente  os finlandeses  recuam.  A  3  de  março,  seis  divisões  russas  atacam  Viborg  e  travam  duros  combates  com  os sobreviventes  de  três  regimentos  finlandeses.  Mannerheim  e  os  seus  generais  compreenderam  que  a  guerra estava  definitivamente  perdida.  O  Exército  finlandês  esgotara  totalmente  a  sua  capacidade  combativa.

O  armistício:

A  6  de  março,  uma  delegação  finlandesa  viajou  para  Moscou  e,  no  dia  seguinte,  iniciou  as  negociações  que encerraram  a  luta.  A  13  de  março,  cessou  o  fogo  em  todas  as  frentes.

De  acordo  com  as  exigências  de  Stalin,  todo  o  istmo  da  Carélia,  os  territórios  situados  sobre  o  Ártico  e  o porto  de  Hango  no  mar  Báltico,  passaram  para  o  domínio  russo.

O  conflito  teve  graves  e  decisivas  conseqüências.  Com  o  inicio  da  invasão  russa,  os  governos  da  França  e  da Inglaterra,  pressionados  pelo  clamor  popular,  planejaram  enviar  uma  força  expedicionária  à  Finlândia.  A guerra  chegou  ao  fim,  porém  as  tropas  não  embarcaram.  Os  Aliados  adotaram  um  novo  plano.  As  tropas seriam  desembarcadas  na  Noruega,  com  a  missão  de  ocupar  o  porto  de  Narvik  e  as  minas  de  ferro  ao  norte  da Suécia.  Assim,  seriam  interrompidos  os  embarques  de  ferro  para  a  Alemanha.  Hitler,  sendo  informado  da operação,  ordenou  aos  seus  generais  a  imediata  conquista  da  Noruega.

Anexo

Fortificações  finlandesas:

A  partir  de  1919,  foi  construída  uma  série  de  baterias  ao  longo  da  margem  setentrional  do  lago  Ladoga,  equipadas  com canhões  de  12  a  15  cm  e  nas  costas  do  golfo  da  Finlândia,  colocaram-se  baterias  com  canhões  russos  de  25  cm.  A  linha prevista  estendia-se  por  125  km  de  comprimento.  O  numero  de  casamatas  a  construir  ascendia  a  várias  centenas.  Cada uma  delas  deveria  estar  equipada  com  um  ou  dois  canhões  leves,  dispostos  de  maneira  apropriada  a  cobrir  a  maior extensão  possível  de  terreno,  além  de  várias  metralhadoras.  Dificuldades  econômicas  fizeram  com  que  as  casamatas efetivamente  construídas  ficassem  na  casa  dos  90.  Atrás  das  casamatas  deveriam  construir-se,  para  servir  de  abrigo  ao pessoal,  redutos  formados  com  grandes  blocos  de  cimento  armado  cuja  altura  variava  entre  2  e  3  metros.  A  experiência posterior  demonstrou  que  semelhantes  massas  de  cimento,  impossíveis  de  serem  camufladas  adequadamente,  pelo  seu grande  tamanho,  tornavam-se  fáceis  alvos  para  a  artilharia  pesada  inimiga.

A  partir  de  1932  e  até  1938  inclusive,  cada  verão,  um  batalhão  de  sapadores  construía  uma  casamata  ou  um  ponto  de apoio.  Durante  o  ano  de  1938,  algumas  delas  foram  cobertas  parcialmente  por  uma  blindagem  metálica.  Entre  o  golfo da  Finlândia  e  o  lago  Ladoga,  considerado  como  o  setor  mais  perigoso  e  exposto  à  probabilidade  de  um  ataque, prepararam-se  obstáculos  antitanques  de  granito  e  um  conjunto  de  fossos.  Era  a  região  que  tinha  menos  proteção natural.  O  terreno  é  plano  e  os  seus  lagos  e  rios  são  escassos.

Na  primavera  e  no  verão  de  1939,  o  perigo  de  uma  agressão  russa  era  cada  vez  maior.  As  fortificações  foram  então ampliadas  e  melhoradas;  muitos  milhares  de  voluntários  civis  dedicaram-se  a  esse  trabalho  durante  as  suas  férias  anuais. Aumentaram,  assim  as  possibilidades  defensivas  da  linha  que,  a  partir  desse  momento,  começou  a  denominar-se  de Mannerheim,  como  homenagem  ao  herói  da  libertação.

A  Linha  Mannerheim  contava  com  as  seguintes  instalações  e  dispositivos  defensivos:

1.  Posição  principal .  De  125  km.  de  extensão,  90  casamatas  de  concreto  (67  eram  de  construção  antiquada).  Seis baterias  na  margem  norte  dos  lagos  Vucksi  e  Suvanto.  Obstáculos  antitanques.  Observatórios.  Abrigos.  Trincheiras  em profundidade,  dentro  do  campo  principal  de  combate.  Trincheiras  para  o  serviço  de  guarda  avançada.  Fossos  de comunicação.  Posições  para  baterias.  Depósitos.  Algumas  redes  de  arame  farpado.

2.  Posição  avançada .  Algumas  obras  de  fortificação  de  campanha.  Estava  situada  entre  10  e  15  km.  ao  sudoeste  da principal.

3.  Segunda  posição .  Em  construção.

4.  Terceira  posição .  Obras  previstas,  mas  não  iniciadas.

As  tropas  finlandesas  que  defendiam  essa  frente  estavam  divididas  em  dois  corpos  de  exército.

a.  Corpo  de  Exército  II  (a  oeste  do  sistema);  contava  com  as  seguintes  unidades:  Divisões  de  infantaria  4,  5  e  11

b.  Corpo  de  Exército  III  (a  leste  do  sistema);  integrada  pelas  unidades:  Divisões  de  infantaria  9  e  10.

Mannerheim:

Janeiro  de  1918.  Bótnia,  pequena  cidade  perdida  na  imensidão  branca  da  Finlândia.  A  guarnição  russa  descansa.  As sentinelas,  adormecidas  pelo  frio,  apóiam-se  nos  fuzis.  As  sombras  as  envolvem.  Escuta-se  um  sinal.  Um  silvo  leve, curto,  que  se  interrompe  duas  vezes.  As  sentinelas  nada  percebem  e  com  isso  a  sua  sorte  fica  selada.  As  sombras, agilmente,  se  arrojam-se  sobre  as  sentinelas.  Dois,  três,  quatro  corpos  caem  por  terra.  Dois  minutos  depois  a  casa  da guarda  é  assaltada  por  20  homens.  Uma  hora  depois,  os  atacantes  se  afastam,  quase  tão  silenciosamente  como chegaram.  Deixam  atrás  uma  guarnição  dominada  e  desarmada.  Levam  fuzis  e  munições  suficientes  para  pôr  em    de guerra  um  numeroso  grupo  de  homens.  ã  frente  do  grupo,  entrou  no  quartel  russo  um  homem.  É  o  último  que  sai.  É  dele o  plano  e  a  grande  idéia  motora.  Ele  sonha  com  a  liberdade  da  sua  pátria  e  está  disposto  a  conquistá-la.  Mesmo  ao  preço da  própria  vida.  Após  os  homens  que  se  afastam  corre  o  chefe,  Carlos  Gustavo  Mannerheim.

O  antigo  oficial  de  cavalaria  do  Exército  russo  nasceu  em  junho  de  1867.  Filho  e  neto  de  militares,  ingressou  muito jovem  na  Escola  de  Cadetes.  Como  oficial,  serviu  às  ordens  da  Prússia  na  guerra  com  o  Japão.  De  regresso  à  sua  pátria, leva  cinco  condecorações.  1914.  Estala  a  Primeira  Guerra.  Mannerheim,    general,  comanda  uma  unidade  russa.  A revolução  bolchevique  e  a  paz  com  a  Alemanha  decidem  o  seu  destino.  Renuncia  o  posto  e  regressa  ao  seu  país  natal  e inicia  a  luta  pela  libertação.  Organiza  e  instrui  um  pequeno  núcleo  de  combatentes,  a  base  do  futuro  exército  libertador. Armas?  Nada  mais  fácil  para  Mannerheim.  Um  golpe  audacioso  e  a  guarnição  russa  de  Bótnia  fornece-as.  Na  noite  de 26  para  27  de  janeiro  de  1918,  a  guerra  pela  libertação  começa.  A  frente  de  30.000  homens,  Mannerheim  lança-se  à luta.  A  sorte  o  ajuda.  O  seu  valor  faz  o  resto.  De  vitória  em  vitória,  a  16  de  maio  entra  em  Helsinki,  que  o  recebe  como libertador.  Até  1931,  como  marechal  e  presidente  do  Conselho  Supremo  da  Defesa,  põe  em  prática  uma  idéia  que  o persegue    muito  tempo:  a  criação  de  uma  possante  linha  defensiva  na  fronteira  com  a  Rússia.  Nasce  assim  a  Linha Mannerheim,  obra  mestra  de  engenharia  militar  e  bastião  defensivo  na  guerra  que  estalará  alguns  anos  depois.

Lutando  com  a  mais  absoluta  carência  de  meios,  orçamentos  restritos,  poucos  homens  e  material  antiquado,  a  Linha Mannerheim  será,  oito  anos  mais  tarde,  um  difícil  obstáculo  para  o  poderoso  rolo  compressor  soviético.

A  estratégia  finlandesa:

Os  comandos  militares  finlandeses,  frente  a  frente  com  a  dura  realidade  de  um  inimigo  mil  vezes  superior  em  homens  e material,  tiveram  que  subordinar  os  planos  defensivos  ao  maior  conhecimento  do  terreno  e  ao  uso  de  um  material humano,  que,  ao  defender  seu  território  e  por  conseguinte  seus  lares,  dava  de  si  100%  da  sua  capacidade  combativa. Quer  dizer:  o  Alto  Comando  finlandês,  ao  começar  as  hostilidades,  elaborou  seus  planos  sobre  a  base  do aproveitamento  de  pequenas  unidades,  fisicamente  muito  aptas,  moralmente  muito  firmes,  conhecedoras  do  terreno, peritas  em  tiro  e  reconhecimento  e  ágeis  em  seus  deslocamentos.

A  estratégia  finlandesa  baseava-se,  em  um  estrito  controle  do  avanço  russo  e  em  uma  réplica  imediata,  de  contragolpe, por  meio  de  pequenas  unidades.  Isto  permitia,  se  não  deter  o  avanço,  causar  baixas  consideráveis  e  desmoralizar  o adversário.  Tratava-se  de  uma  estratégia  de  desgaste.

A  tática  russa  consistia  no  aproveitamento  de  suas  imensas  massas  de  homens.  Com  efeito,  divisões  inteiras  eram lançadas  na  luta,  umas  após  a  outra,  sem  reparar  nas  baixas.  Torna-se  claro  que  a  Finlândia  não  podia  opor  uma resistência  baseada  em  princípios  semelhantes.  Assim,  as  minúsculas  unidades  finlandesas,  após  suportar  o  choque  da massa  russa,  contra-atacavam  tirando  proveito  dos  possíveis  erros  táticos  do  comando  russo.  A  resistência  era  firme  e ordenada,  de  poucos  efetivos,  mas  de  alta  qualidade.  De  imediato,  após  o  término  do  ataque,  passava-se  a  uma defensiva  elástica:  não  enfrentar  decididamente  a  massa  inimiga,  mas  sim  golpear  no  lugar  e  no  momento  apropriado.  A tática  finlandesa  era  muito  semelhante  em  linhas  gerais,  à  usada  nas  guerrilhas.

Batalha  sem  tiro:

Tolvajardi.  Dois  batalhões  finlandeses  cobrem  a  fronteira,  defendendo-se  desesperadamente  do  ataque  da  Divisão  de Infantaria  russa  139.  À  noite,  amparado  pelas  trevas,  os  grupos  de  vanguarda  russos  caem  sobre  os  finlandeses,  pela retaguarda.  Os  defensores,  surpreendidos  pelo  inesperado  ataque  sofrem  uma  momentânea  desorganização,  mas refazem  as  suas  fileiras.  Enquanto  os  combatentes  mantém-se  firmes  na  frente,  os  cozinheiros,  motoristas,  assistentes, radiotelegrafistas,  armeiros,  etc,  sem  disparar  um    tiro,  usando  baionetas  e  facas,  atacam  os  russos  em  sangrento  corpo a  corpo.  Os  atacantes  são  obrigados  a  renunciar  as  armas  de  fogo  porque  a  escuridão  é  impenetrável  e  o  terreno  lhes  é desconhecido.  O  combate  é  travado  com  armas  brancas.  Silenciosamente,  várias  centenas  de  homens  lutam  durante  uma

longa  hora.    gemidos  isolados  assinalam  as  baixas  de  um  ou  outro  lado.  Por  fim,  caçadores  de  nascença,  os finlandeses  impõem  a  sua  habilidade  no  manejo  da  faca  e  no  aproveitamento  do  terreno.  O  batalhão  russo,  na  singular batalha  em  que  não  foi  disparado  um  único  tiro,  é  aniquilado.

Não  sou  um  covarde:

Hulkoniemi.  Após  um  breve  preparo  a  cargo  da  artilharia  e  dos  morteiros,  a  infantaria  finlandesa  ataca.  Os  russos, firmes  nas  suas  posições,  respondem  ao  fogo,  e,  de  imediato  passam  ao  contra-ataque.

O  finlandeses  são  obrigados  a  empregar  na  ação  todos  os  homens  disponíveis.  Os  homens  dos  diferentes  serviços auxiliares  devem  empunhar  armas  e  combater  lado  a  lado  com  a  infantaria.  O  ataque  russo  nivela  as  forças  e  a  situação fica  estacionária.  As  unidades  voltam  ao  ponto  de  partida.  Antes  da  retirada,  recolhem  os  seus  feridos  e  mortos.  Os finlandeses  encontram,  no  cadáver  de  um  capitão  russo,  duas  cartas:  uma  acusando-o  de  covardia  no  desempenho  da  sua missão;  outra,  o  original  da  resposta  que  o  capitão  não  chegou  a  enviar.  Nela,  o  oficial  russo  defende-se  da  acusação  e sustenta  que  fez  todo  o  possível  para  que  os  seus  homens  se  mantivessem  em  combate.  Explica  também  que  as  suas tripas  estavam  extenuadas.  Mas,  o  capitão  morrera  em  combate  antes  de  ter  a  oportunidade  de  remeter  a  carta.

Talvez,  alguém  em  alguma  parte,  ficasse  acreditando  sempre  que  o  capitão  era  mesmo  um  covarde.  Por  isso,  os finlandeses,  que  sabem  não  ser  verdade,  cobrem  o  cadáver  com  o  seu  capote  militar  e  guardam  a  carta.

Alguém,  em  alguma  parte,  reabilitará  o  capitão  russo,  herói  sacrificado  na  luta.  Mas,  antes  que  os  seus  próprios camaradas  o  façam  são  os  seus  inimigos  que  o  reabilitam

Iscas  humanas:

A  guerra  russo-filandesa  breve  mas  muito  sangrenta,  e  rica  de  episódios  que  escapam  à  realidade  quotidiana,  para converter-se  em  aparente  ficção  novelística.  Armadilhas  arquitetadas  com  maquiavélica  eficiência,  ardis  dignos  de guerras    ultrapassadas,  tudo  foi  usado  na  luta.  O  que  aqui  se  narra  mostra  até  que  ponto  chegou  o  desprezo  pela  vida humana,  no  decorrer  do  conflito.

Suomusalmi.  O  avanço  russo  é  contido  por  uma  unidade  finlandesa,  perfeitamente  oculta  em  um  terreno  coberto  de bosques.  Uma  segunda  tentativa  convence  os  russos  da  impossibilidade  de  continuar  o  ataque  ou,  em  todo  caso,  de realizá-lo  sem  que  o  preço  seja  um  numero  de  baixas  muito  elevado.  Então  põem  em  prática  uma  técnica  que  demonstra o  extraordinário  espírito  de  sacrifício  dos  soldados  russos.  A  unidade,  em  massa,  retrocede  e  se  mantém  alerta. Enquanto  isso,  10  ou  12  homens  a  cavalo  abandonam  a  proteção  do  bosque  ou  das  rochas  e  avançam,  oferecendo-se como  alvo.  Os  finlandeses  abrem  fogo  com  as  suas  armas  automáticas,  abatendo  os  heróis.  O  comando  da  unidade russa,  que  ficara  na  retaguarda,  na  expectativa,  localiza  assim  o  setor  de  onde  partem  os  disparos.  Segundos  depois,  os morteiros  russos  iniciam  um  metódico  fogo  sobre  a  zona  indicada.  Após  alguns  minutos  suspendem  a  artilharia  e lançam  uma  carga  de  infantaria.  Forçam,  com  isso,  os  finlandeses  a  se  defenderem  dos  infantes  e  a  confirmarem  a  sua verdadeira  posição  no  esconderijo  do  bosque.  A  seguir,  com  toda  segurança,  a  massa  da  infantaria  lança-se  ao  ataque. Os  finlandeses  não  podem  resistir  ao  inimigo,  muito  superior  em  numero,  desde  o  instante  que  se  traíram  e  indicaram  o ponto  exato  em  que  se  escondiam.

A  armadilha  de  gelo:

Viborg,  a  sudoeste  da  linha  defensiva  finlandesa.  Ponto  vital  por  onde  cruza  a  estrada  que  liga  Leningrado  a  Helsinki.  A baía  de  Viborg  é  um  mar  de  gelo.  Os  russos,  aproveitando  a  grande  espessura  da  camada  sólida  que  cobre  as  águas, usam-na  para  deslocar  unidades  pesadas,  inclusive  tanques.  Ao  longe,  aparecem  algumas  ilhas.  Sobre  uma  delas apontando  para  a  baía,  poderosos  canhões  costeiros  dominam  toda  a  zona  gelada.

Tais  os  elementos  que  configuram  uma  estranha  guerra.  Aos  tiros  da  artilharia  finlandesa,  que  se  repetirão  muitas  vezes batalhões  inteiros  são  sepultados  nas  águas.

A  primeira  ação  se  realiza  quando  um  batalhão  russo,  apoiado  por  muitos  tanques,  cruza  a  superfície  gelada.  Os  grandes canhões,  após  a  correção  de  tiros,  começam  a  acertar  exatamente  na  periferia  da  compacta  unidade  russa.  Aquilo  parece não  ter  sentido.  As  possantes  granadas,  disparadas  diretamente  sobre  a  formação,  causariam  baixas  consideráveis.  Mas, os  finlandeses  não  disparam  sobre  os  homens  nem  sobre  os  tanques.  Disparam  ao  redor.

Poucos  minutos  bastam  para  os  russos  compreenderem  a  extensão  da  tragédia.  Mas    é  tarde,  impossível  salvar  os  seus homens.

O  gelo,  quebrado  em  enormes  extensões,  cede  sob  o  peso  formidável  dos  tanques  e  estala  com  estrondo  ensurdecedor. Um  alarido  de  terror  eleva-se  das  unidades  russas  e  logo  depois  se  faz  o  silêncio.  Sobre  a  superfície  gelada  da  baía, agora  quebrada  em  mil  pedaços,  restam  homens  dispersos,  aqui  e  ali,  aferrando-se  penosamente  ao  que  flutua  ao  seu alcance.  Tudo  o  mais,  tanques,  canhões,  artilharia,  cavalos  e  homens,  jaziam  no  fundo  das  águas  geladas.

A  morte  por  um  fio:

Divisão  de  Infantaria  54,  russa  (DI  54),  ao  ataque.  Correm  os  últimos  dias  de  dezembro  de  1939.

A  DI  54  com  a  massa  da  divisão,  formada  pelos  Regimentos  de  Infantaria  118  e  337  (RI  118  e  RI  337),  reforçados  com artilharia  e  tanques,  acaba  de  atacar  a  localidade  de  Kuhmo.  Ao  mesmo  tempo,  o  Regimento  de  Infantaria  628  (RI  628) ataca  em  direção  a  Lieksa.  Mas,  o  RI  628,  se    sobrepujado  pela  resistência  dos  Batalhões  de  fronteiras  12  e  13  e  deve recuar  em  direção  à  fronteira.  Logo  depois,  um  novo  revés  cairá  sobre  as  tropas  russas:  a  DI  54  detém  o  seu  avanço  para Juhmo,  contido  pelo  RI  25  finlandês  e  o  batalhão  de  fronteiras  14.

Tal  a  situação  em  princípios  de  janeiro  de  1940,  que  evolui  em  seguida  até  determinar  o  cerco  das  forças  russas  em muitos  bolsões.

Ao  começar  o  sitio  os  russos  são  abastecidos  por  aviões,  que  descem  sobre  a  superfície  gelada  de  um  algo.  Essa  via  de abastecimento  é  logo  depois  anulada  por  uma  bateria  finlandesa,  que  bate  todo  o  lago.  O  comando  russo,  ante  a  nova situação,  vê-se  obrigado  a  manter  o  abastecimento  por  meio  de  pára-quedas.  Mas  ocorre  que  muitos  pára-quedas  com  a sua  carga  de  armas,  munições,  medicamentos  e  tudo  o  mais,  caem  na  zona  dominada  pelas  tropas  finlandesas.  Outros pára-quedas,  arrastados  pelo  forte  vento,  caem  na  terra  de  ninguém,  ente  os  dois  inimigos.  Os  soldados  russos,  levados pela  fome,  arrastam-se  até  eles  para  recuperá-los.  E,  então  se  torna  terrível  a  habilidade  dos  finlandeses  no  uso  de  armas longas.  Atiradores  de  precisão,  acostumados  à  caça  desde  a  infância,  os  defensores  dormem  na  pontaria  e  derrubam  os soldados  russos,  um  após  outro.

Os  russos,  acostumados  à  disciplina  férrea,  à  fome  e  aos  padecimentos  mais  cruéis,  resistem  sempre,  com  resignação oriental,  disparando  os  seus  escassos  projéteis  e  alimentando-se  de  forma  precária.

Por  fim,  quando  a  situação  das  forças  russas  é  desesperada  e  o  aniquilamento  está  a  um  passo,  chega  a  salvação,  de forma  providencial.

É  13  de  março.  São  11  horas.  O  fogo  das  armas  finlandesas  detém-se  e  muitas  bandeiras  brancas  aparecem  nas  linhas dos  atacantes  que  encurralam  os  russos.  Estes,  surpresos,  aceitam  a  cessação  do  fogo  sem  saber  o  motivo.  E  não  podem evitar  que  o  júbilo  se  apodere  deles,  quando  os  parlamentares  finlandeses  comunicam  que  foi  assinado  o  armistício.

Trasbordantes  de  alegria,  como  se  a  vitória  lhes  tivesse  correspondido,  os  russos  procuram  abraçar  os  parlamentares, mas  estes  os  repelem  e,  com  dificuldade,  evitam  que  os  russos  lhes  apertem  as  mãos.  Espetáculo  pouco  comum  e  talvez doloroso  para  os  finlandeses  o  daqueles  camponeses  russos  esgotados  pela  fome,  que  procuram  apertar  as  mãos  dos  que são  de  certo  modo,  os  seu  salvadores.

Horas  depois,  apressadamente,  as  colunas  russas  retiram-se  para  o  território  do  seu  próprio  país.  Arrastados  por  um regime  desapiedado,  enviados  à  morte,  sem  qualquer  comiseração,  aquela  massa  de  homens  abandona  o  país  que  seus dirigentes  haviam  acreditado  ser  presa  fácil.

Ajuda  à  Finlândia:

No  dia  10  de  dezembro  de  1939,  o  secretário-geral  da  Sociedade  das  Nações  remeteu  a  cada  um  dos  países-membros  da organização  um  telegrama  no  qual  encarecia  o  envio  de  ajuda  material  à  distante  Finlândia.

Aquele  primeiro  chamado  internacional  foi  acolhido  com  unânimes  demonstrações  de  adesão.  Nas  capitais  européias realizaram-se  manifestações  públicas.  Fortes  correntes  de  opinião  declararam  seu  apoio  ao  rompimento  de  relações  com os  russos.  Diversos  créditos  firam  concedidos  à  Finlândia.  Em  resumo:  a  simpatia  pela  pequena  nação  manifestou-se  de diversos  modos.  Mas  aquilo  não  bastava.  Era  preciso  algo  mais,  Era  necessário  o  apoio  direto  das  grandes  potências, capazes  e  facilitar  material  bélico  e  ajuda  econômica.

Na  França,  o  presidente  do  Conselho,  Eduardo  Daladier,  manifestou-se  imediatamente  a  favor  da  intervenção  e  deu instruções  ao  comandante-chefe  das  forças  armadas.  As  possibilidades  eram  duas:  limitar  o  envio  de  grupos  de voluntários,  armados,  que  combateriam  sob  pavilhão  finlandês,  ou  enviar  um  grupo  expedicionário.  A  segunda possibilidade  significava  um  rompimento  aberto  com  a  URSS.  Mais  ainda,  era  uma  verdadeira  agressão.  Optaram,  pois, pela  primeira.

No  dia  20  de  dezembro,  partiram  os  primeiros  grupos  de  voluntários  e  transportes  de  material.  Foram  conduzidos  por via  marítima  até  a  Noruega  e,  dali,  por  ferrovia  até  a  Finlândia,  através  da  Suécia.  Este  país  e  também  a  Noruega ofereceram  ampla  colaboração  e  ainda,  como  no  caso  da  Suécia,  parte  do  seu  próprio  material  de  guerra  cruzou  a fronteira  rumo  à  Finlândia.  A  Inglaterra,  sem  vacilar,  seguiu  o  exemplo  da  França.  A  Itália  incorporou-se  aos  países  que apoiavam  a  resistência  finlandesa  e  enviou  de  imediato  trens  carregados  com  abundante  material  de  guerra.  Também  a Alemanha  contribuiu,  ao  permitir  a  passagem  dos  trens  italianos  através  de  seu  território  e  ao  autorizar  a  aterrissagem  e abastecimento  de  80  aviões  italianos.

A  ajuda  material  da  França,  em  primeiro  lugar,  foi  considerável.  O  material  de  artilharia  prometido  limitava-se  a canhões  de  75,  antigos,  mas  em  boas  condições  de  uso.  Enviaram  430  peças,  acompanhadas  por  60  oficiais  instrutores. Além  disso,  cerca  de  700  mil  granadas  foram  enviadas,  a  mais  das  800  mil  previstas.  Da  França  chegaram  ainda  5  mil fuzis-metralhadoras  e  metralhadoras  e  20  milhões  de  projéteis.  Alguns  canhões  de  grande  calibre,  como  os  de  305  mm, também  foram  cedidos.

Com  respeito  ao  material  aéreo,  sobre  175  aparelhos  prometidos,  30  Morane  chegaram  ao  destino,  como  também  vários Potez  de  bombardeio.  A  Inglaterra,  além  de  aviões,  entregou  material  de  artilharia  de  campanha,  armas  portáteis, munições  e  equipamento.

O  chamado  “projeto  Petsamo”  foi  o  mais  „sério  plano  para  ajuda  à  Finlândia.  Era,  também,  o  mais  ambicioso  e arriscado.  Este  projeto  consistia  no  desembarque  de  um  corpo  expedicionário  na  zona  norte  da  Finlândia.  Daladier  ao tomar  conhecimento  desse  plano,  o  apoiou  com  entusiasmo.  O  almirante  Darlan,  por  sua  vez,  compartilhou  a  posição  de Daladier.

Na  atualidade,  a  fria  análise  da  operação  demonstra  a  quase  impossibilidade  de  realizá-la.  Efetivamente,  Petsamo  não  se encontra  sobre  o  mar,  mas  sobre  um  rio  que  leva  seu  nome;  o  único  embarcadouro  acessível  achava-se  no  interior  de  um fiorde,  a  15  km  rio  abaixo;  os  fortes  ventos  e  o  frio  inumano  criam  condições  sumamente  difíceis  de  vencer  e,  o  que  era mais  importante  naquele  momento,  Petsamo  estava  nas  mãos  dos  russos.

O  desembarque  supunha  uma  agressão  direta  contra  a  Rússia.  Era  necessário,  então  superar  o  primeiro  e  mais  grave problema.  E  o  mesmo  foi  solucionado,  encomendando  a  operação  às  tropas  polonesas  do  general  Sikorski.  Este  não tinha,  logicamente,  nenhuma  aparência  a  salvar,  desde  que  seu  país,  a  Polônia,  havia  sido  agredida  pela  Rússia  em  17  de setembro.

Chega-se  assim  a  um  principio  de  concretização  do  projeto.  Com  o  apoio  constante  de  Daladier,  insistia-se  na materialização  do  mesmo.  Interviriam  neles  soldados  poloneses  transportados  em  navios  poloneses  com  bases  em portos  ingleses.

Cerca  de  13  de  janeiro,  o  almirante  Darlan  recebeu  instruções  de  Daladier,  no  sentido  de  estudar  uma  operação  que contemplasse  o  desembarque  em  Petsamo  e,  além  disso,  em  portos  da  costa  norueguesa,  com  o  objetivo  de  cortar  o abastecimento  de  ferro  que  se  transportava  para  a  Alemanha.  Mas  a  Inglaterra,  informada,  mostrou-se,  reticente  e obcecada  pelo  temor  de  um  possível  conflito  armado  com  a  URSS.

Por  último,  uma  reunião  realizada  nos  dias  20  e  31  de  janeiro  de  1940  e  na  qual  se  encontravam  os  comandantes-chefes aliados,  teve  como  conclusão  o  abandono  de  todos  os  planos  tendentes  a  desembarcar  em  Petsamo.  Com  efeito,  o almirante  Dudley  Pound,  chefe  do  Estado-Maior  da  marinha  inglesa,  escreveu  ao  chefe  da  missão  naval  francesa  em Londres,  o  seguinte:  “Darlan  quer  guerrear  contra  os  russos?    está  toda  a  questão.  Eu  não  desejo  isso”.  A  operação Petsamo  havia  fracassado.

Armistício  Russo-finlandês:

A  delegação  finlandesa  que,  no  dia  6  de  março  de  1940,  viajou  para  Moscou,  iniciou  de  imediato  as  tentativas destinadas  a  deter  a  luta.  De  acordo  com  os  termos  do  armistício,  no  dia  13  de  março  cessou  o  fogo  em  todas  as  frentes. As  condições  de  paz  eram  as  seguintes:

1.  cessação  imediata  das  hostilidades.

2.  cessão  à  Rússia  de  todo  o  istmo  da  Carélia,  incluindo  Viborg  e  alguns  municípios  ao  largo  da  frente  oriental  do  país (As  zonas  foram  escolhidas  de  tal  modo  que  a  Rússia  conseguiu  uma  posição  estratégica  privilegiada  sobre  a  Finlândia, porque  obtinha  uma  saliência  no  lugar  onde  o  país  era  mais  estreito).

3.  cessão  à  Rússia  de  Petsamo.

4.  Arrendamento  à  Rússia  da  península  e  o  porto  de  Hango,  no  mar  Báltico.

5.  Controle,  por  parte  da  Rússia,  de  todo  o  golfo  da  Finlândia  e  também  da  capital  finlandesa,  Helsinki.

6.  Cooperação  na  construção  de  uma  ferrovia  que  iria  de  Kandalathi  até  Tornea,  na  fronteira  da  Suécia  (Esta  ferrovia, construída  por  razões  comerciais,  seria  de  grande  importância  estratégica).

Finlândia  e  Rússia  frente  a  frente:

O  combate  armado  entre  o  pequeno  país  do  Báltico  e  seu  poderoso  vizinho  materializou  um  episódio  épico.  Com  efeito, a  falta  total  de  recursos  da  Finlândia  opôs-se  à  reserva  inesgotável  da  Rússia.  Aos  milhões  de  combatentes  que  em potência  tinha  a  URSS,  a  Finlândia  opôs  um  reduzido  exercito  e  um  armamento  mais  reduzido  ainda.  Centenas  de tanques  russos  não  encontraram  oposição  similar.  Centenas  de  aviões  soviéticos  cruzaram  os  céus  da  Finlândia  sem encontrar  caças  que  os  enfrentassem.  Foi  a  luta  de  um  gigante  e  um  pigmeu.  Até  o  final  da  luta,  as  forças  finlandesas totalizavam  cerca  de  16  a  17  divisões,  contra  50  russas.

Recursos  militares  usados  na  luta  na  Finlândia

Finlândia/Rússia

Exército:

12-13  divisões/28-30  divisões

10  batalhões  guarda-fronteira

6  brigadas  de  tanques

2  a  3  divisões  mecanizadas

Idade  dos  soldados:  15  a  65  anos  Idade  dos  soldados:  20  a  23  anos Marinha

2  guarda  costas  de  3900  ton.

2  encouraçados  de  23.000  ton.

5  submarinos

1  cruzador  de  5600  ton.

25  navios  varredores

35  destróieres

7  lanças  torpedeiras

70  submarinos

10  quebra-gelos

Aviação

170  aviões  (1/3  antigos)

600  -  800  aviões

Segunda Guerra Mundial - 1940 Janeiro A Maio - Vigília de Armas

Janeiro a Maio de 1940 Vigília de Armas Tópicos do capítulo: Quadro do Exército francês: Os efetivos O armamento Discussão sobre a ar...